Bairros nunca tiveram o propósito de serem imutáveis
As mudanças nos bairros e nas cidades ao longo dos anos é natural e tentar impor restrições para elas é um equívoco.
Quando se trata de gentrificação sobram alternativas para quem e o que culpar. De artistas a zoneamento, confira a lista de Joe Cortright.
3 de setembro de 2019Aqui está a sua lista — de artistas a zoneamento — de quem e o que culpar pela gentrificação.
Quando coisas ruins acontecem, nós procuramos alguém para culpar. E quando se trata de gentrificação — definida genericamente como quando alguém diferente de você muda-se para o seu bairro —, não faltam alternativas.
Compilamos uma longa — porém não exaustiva — lista de coisas que as pessoas têm culpado por causar a gentrificação.
Pode ser libertador apontar o dedo para culpar alguém ou alguma coisa mas, como a lista nos mostra, o jogo da culpa lança pouca luz sobre o que está realmente causando a gentrificação, e nenhuma sobre o que nós podemos fazer para minimizar seus efeitos negativos.
Qualquer sintoma perceptível de mudança provavelmente alterará a maneira como o bairro é percebido por moradores e outros.
As cidades e os bairros que as constituem são estruturas sociais vivas — estão todas em um estado de transformação. Às vezes a mudança é imperceptivelmente lenta e, às vezes, quando novos prédios são construídos, ela pode ser rápida e evidente. Mas nenhuma vizinhança permanece a mesma.
Mesmo lugares sem novas construções veem uma entrada e saída constante de residentes, estimulada em sua maioria pelo curso natural da vida das pessoas. É uma ilusão sugerir que qualquer bairro irá permanecer inalterado, especialmente bairros de baixa renda.
Três em cada quatro bairros com alta taxa de pobreza que não tiveram redução nesses índices entre 1970 e 2010 não permaneceram inalterados, eles perderam 40% da sua população nessas quatro décadas — e a pobreza concentrada e todas as suas mazelas cresceu e se espalhou.
O desafio destas mudanças urbanas que chamamos de gentrificação não é pará-las, mas descobrir maneiras de garantir que produzam benefícios, se não para todos, para uma ampla gama de residentes atuais e futuros.
Para isso, temos que fazer mais do que reclamar a respeito dos sintomas da mudança e olhar afundo para entender suas causas, e desenvolver políticas para minimizar seus efeitos negativos.
A causa dos desafios de viabilidade e deslocamento é justamente a nossa escassez de cidades. Agora que redescobrimos suas virtudes, percebemos que são poucas as boas áreas urbanas e há escassez de moradias para acomodar todos aqueles que gostariam de viver nelas.
O motivo pelo qual os preços dos apartamentos estão subindo nessas regiões é que eles são poucos, há muita demanda e nós tornamos muito difícil construir mais.
Se nós estamos tentando reduzir a substituição dos moradores em bairros que estão se tornando mais atraentes, a resposta não é bloquear a mudança mas construir mais moradias e mais desses ambientes urbanos para que não sejam escassos e todos tenham uma chance de morar neles.
Na medida em que você lê a nossa lista alfabética, passe um minuto pensando no que está realmente por trás da mudança urbana, e o que nós podemos fazer para construir cidades mais inclusivas e igualitárias.
Em sua palestra para o BushwickTED Talk, o artista do Brooklyn Ethan Petit argumenta que a arte causa gentrificação, baseado na sua experiência pessoal. Petit diz que arte e gentrificação são duas cabeças da mesma hidra, uma conclusão muito contestada na academia.
Finanças e especulação se destacam em muitas listas dos causadores da gentrificação. O recente artigo da Forbes, “What hipsters and banks have in common: gentrification” é um exemplo de como a narrativa de que incorporadores gananciosos compram moradias a um preço baixo e aumentam os aluguéis — com o sombrio dinheiro fornecido por bancos — tem chegado até publicações mainstream sobre finanças.
A inauguração de um novo café é tida muitas vezes como o prenúncio da gentrificação. Seja o Starbucks ou uma loja independente, o café é frequentemente comparado a um mercado de luxo de costa a costa, de Los Angeles a Washington D.C. — e mesmo em Berkeley, California, onde o San Francisco Chronicle sugeriu que a inauguração de uma loja “fourth wave” no lado oposto da rua da Chez Panisse (em um espaço antes ocupado pelo Philz Coffee) poderia gentrificar a vizinhança onde a renda média familiar está acima de US$98.000 anuais, e o preço médio da moradia é de US$1.127.100.
Às vezes, no entanto, as próprias cafeterias estimulam isso: a Ink!, de Denver, corretamente, foi alvo de protestos por utilizar uma placa dizendo “Felizes gentrificando o bairro desde 2014”.
O aumento dos níveis dos oceanos é claramente uma ameaça a lugares baixos como o sul da Flórida. Vários estudos afirmam que Miami está passando por uma “gentrificação climática”, na medida em que incorporadores imobiliários compram propriedades em locais elevados — como Liberty City —, considerados tradicionalmente como menos desejáveis, precisamente pela sua distância da água.
Gentrificadores são geralmente estereotipados como solteiros, jovens e hipsters. Mas demograficamente, essas pessoas estão em (ou se aproximando de) sua época de ter filhos, e muitos estão ficando nas cidades e criando seus filhos.
O jornal The New York Times escreveu sobre um número crescente de “strollervilles” (vilas de carrinhos de bebê) surgindo em bairros e prédios de apartamentos que anteriormente tinham poucos filhos.
Uma das maiores e mais persistentes mudanças nas cidades americanas nos últimos vinte anos tem sido a redução nas taxas de criminalidade.
Quando as taxas de criminalidade diminuem em uma vizinhança, o valor das propriedades tende a aumentar, e pesquisas mostram uma correlação entre diminuição de crimes e aumento no número de residentes com mais escolaridade e maior renda.
O livro de Florida de 2002, Rise of the Creative Class, levou cidades do país a buscar estratégias para atrair trabalhadores criativos. Muitos entenderam como uma receita para a gentrificação, uma acusação com a qual ele lutou em seu livro mais recente, The New Urban Crisis.
No ano passado um advogado de Washington D.C. processou a cidade por seguir as ideias de Florida, afirmando levarem à gentrificação e ao espraiamento.
A ação alega que “a cidade atendeu ao que o teórico urbano Richard Florida identificou como ‘classe criativa’ e ignorou as necessidades dos pobres e das famílias da classe trabalhadora”, o que “levou a uma total gentrificação e espraiamento”.
Ao observar a franquia do Orlando City da Major League Soccer, que construiu um novo estádio em um bairro central da cidade, o jornal The Guardian afirma que “o fantasma da gentrificação só cresce”.
O futebol está dando as costas aos estádios suburbanos porque grande parte da base de fãs é formada por jovens profissionais residentes em áreas urbanas.
Em Los Angeles, no bairro Boyle Heights, galerias de arte recém inauguradas têm sido motivo de uma batalha entre ativistas de bairro e os proprietários de galerias, repletos de pichações, assaltos e performances artísticas. (Veja também: Artistas.)
Prometendo publicamente não parar de combater a gentrificação e o capitalismo em suas manifestações de “lavagem de arte”, o grupo encenou protestos, pediu boicotes e usou as mídias sociais de maneiras inteligentes e irritantes — por exemplo, descrevendo um proprietário de uma galeria como portador de “fedor de direito e privilégio branco “.
Enquanto os millenials chamam para si grande parte da atenção pela atual gentrificação, o “movimento de voltar a ocupar a cidade foi impulsionado pela geração anterior”.
Um artigo publicado pelo Slate argumenta que “entre todas as faixas etárias, a maior migração para a vida urbana de alta densidade está entre os 35 e os 39 anos — a fatia mais jovem da geração X.”
Em 2009, uma ferrovia industrial elevada e decrépita no oeste da cidade de Nova York foi salva da demolição e transformada em um parque linear.
A cidade também aumentou os potenciais construtivos da área e o desenvolvimento decolou. A revista Metropolis chamou isso de “efeito Highline” e disse que “nossos novos parques são os cavalos de Troia da gentrificação.”
No seu artigo clássico de 2014, “How burrowing owls lead to vomiting anarchists”, Kim-Mai Cutler descreveu como a demanda por moradia estimulada pelo crescimento da indústria tecnológica da Bay Area avançou para o mercado imobiliário altamente regulado da Califórnia.
Uma boa olhada no plano da cidade de Chattanooga de lançar um sistema de banda larga municipal revela um plano insidioso de gentrificar as vizinhanças da cidade, levando a Fast Company a perguntar: “Banda larga municipal: salvador urbano ou bola de demolição da gentrificação?”
Ao se mudarem para comunidades de rendas baixa e moderada, a população LGBTQIA+ é por vezes rotulada como a cavalaria de frente da gentrificação e, paradoxalmente, alguns gayborhoods (bairros gays) têm sido elas mesmas gentrificados por outros.
Como Peter Moskowitz escreveu na Vice “no que diz respeito à gentrificação, as pessoas LGBTQIA+ são vítimas e agressores; o papel que as pessoas queers — e especialmente as queers brancas — desempenham na história da desigualdade urbana é espinhoso, para dizer o mínimo”.
Uma dissertação de 1992 observou as mudanças na Hawthorne Boulevard, sudoeste de Portland (uma rua que, tanto antes quanto agora, não tem quase nenhuma loja de rede nacional) e concluiu que a ação de lojas independentes e boutiques tinha impulsionado a “gentrificação comercial.”
Vizinhanças pobres frequentemente têm mais poluição e menos áreas verdes do que outras regiões da cidade, mas quando esses problemas ambientais são resolvidos, os valores das propriedades sobem.
Isso tem levado alguns pesquisadores a argumentar que nós não deveríamos tornar as condições de vida nesses locais pobres muito boas, temendo o aumento dos aluguéis.
Ao invés disso, afirmam que deveríamos nos contentar com melhorias que tornem as vizinhanças apenas “verdes o suficiente.”
A melhora no transporte público é frequentemente culpada por aumentar os aluguéis e valores de propriedades e, assim, por trazer gentrificadores.
À medida que desenvolvedores correm para erguer prédios de apartamentos luxuosos e condomínios para atender sobretudo os profissionais jovens, os moradores antigos de bairros adjacentes a centros de trânsito urbano estabelecidos ou recém planejados estão cada vez mais se deslocando para fora de suas próprias comunidades.
Bairros pobres sofrem frequentemente de uma falta de parques locais, mas esforços para melhorar isso frequentemente levantam preocupações sobre o possível aumento dos valores dos imóveis.
Em Los Angeles, uma proposta para melhorar a segurança dos ciclistas e o acesso dos pedestres aos parques ao longo do rio Los Angeles foi recentemente denunciado como “um golpe de gentrificação”.
Muitos esforços de renovação urbana, que têm como alvo bairros de baixa renda, fazem um belo trabalho em trazer famílias com renda mais alta, mas falham com frequência em repor as habitações de baixa e média renda que demoliram.
Em Chicago, de acordo com o site de imóveis locais DNAInfo, manifestantes estão tratando um novo restaurante como uma ameaça à vida: “Os anti-gentrificadores dizem que o novo Restaurante Pilsen coloca ‘nossas vidas em perigo.’”
A Governing Magazine relata um estudo que diz que o acesso fácil ao Yelp e outros aplicativos de reviews faz com que enxames de hipsters colonizem e gentrifiquem rapidamente novos espaços. Eles escrevem “que o smartphone no seu bolso pode estar acelerando a gentrificação de áreas urbanas.”
Como escreveu Daniel Kay Hertz ao City Observatory, “não há como não ser um gentrificador”. Sua demanda por espaço em uma cidade, não importa o bairro que você escolha morar, tende a criar mais pressão no mercado de moradia, incluindo bairros de baixa renda, especialmente se a sua cidade tem uma população crescente, mas não constrói mais lugares para as pessoas morarem.
Alguns estudos acadêmicos chegaram a conclusão de que a escolha da escola, incluindo políticas como a “No Child Left Behind” para sair de escolas falidas, causa um aumento dos preços de moradia e desencadeia a gentrificação.
Planetizen reporta que uma análise descobriu que “a opção de escolher por não participar da escola do bairro aumentou a probabilidade de um bairro majoritariamente negro ou hispânico ver um influxo de moradores mais ricos”.
A inauguração de uma filial do Whole Foods na rua 125 com a Lenox levou um morador a chamá-la de “o último prego no caixão do Harlem negro”. O “efeito Whole Foods” aparentemente causa um aumento nos valores das propriedades em até 40%.
O “Jobs and Tax Cuts Act” passado no Congresso americano em 2017 contém uma nova disposição que restringe os impostos sobre ganhos de capital feitos em áreas pobres.
Supõe-se que essas zonas de oportunidade levem a investimentos adicionais que ajudarão bairros pobres. Mas há uma preocupação generalizada de que a dedução fiscal irá apenas alimentar a gentrificação, ao subsidiar a construção de moradia a preços de mercado em bairros pobres.
O Kinder Institute de Houston diz que o programa de zonas de oportunidade parece ser uma “gentrificação com esteroides”.
Sem dúvida guardamos a melhor e mais importante causa por último. Aquilo que induz as pessoas mais ricas a optar por mudarem-se para os bairros de baixa renda.
Uma causa enorme e muito subestimada é o fato de que nós geralmente proibimos construir moradias mais densas e acessíveis nos bairros mais desejáveis.
O zoneamento restritivo em bairros de alta renda desloca sua demanda para outro lugar, contribuindo para a gentrificação.
Enquanto há um alfabeto inteiro de fatores para culpar, nós clamamos que nossos leitores foquem no “V” e “Z”. Nossa demanda por espaços urbanos é, individualmente e coletivamente, o fator principal alimentando a gentrificação onde quer que ela ocorra.
Nós simplesmente precisamos de novas áreas urbanas e mais moradia nas que já existem. E o maior obstáculo para conseguir mais desses lugares é que tornamos praticamente ilegal construir novos bairros urbanos densos e de uso misto, e o zoneamento (e várias restrições relacionadas) tornou impossível ou proibitivamente custoso construir mais moradias nesses lugares desejáveis.
Quando nós percebermos que os desafios que se manifestam como “gentrificação” são problemas que nós criamos, e que as soluções estão sob o nosso controle, talvez possamos superar um jogo de culpa amargo e improdutivo.
Texto publicado originalmente em City Observatory em 16 de abril de 2019. Traduzido para o português por João Neves, com revisão de Anthony Ling e Gabriel Lohmann.
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COMENTÁRIOS
Tem uma outra problemática que a nível de Brasil é ainda mais séria que a da gentrificação, que é a da FAVELIZAÇÃO.
A minha percepção é que quanto a mudança arquitetônica ultrapassa em velocidade a mudança econômica, o espaço tente a se gentrificar. Pois as pessoas residentes de renda baixa não conseguem acompanhar financeiramente o desenvolvimento do seu bairro em valorização. Acho que devemos nos preocupar com meios de beneficiar a economia junto com o projeto de requalificação de uma área.
Como que valorizar um espaço pode ser ruim? Precisamos sim de mais arte, cafés, crianças, segurança, parques, etc.. o que acontece é que sempre vai ter alguém que vai se aproveitar da situação para ganhar mais dinheiro. O que acho que poderia ser feito é a prefeitura barrar empreendimentos com esse viés de exploração econômico e dar mais liberdade ao comercio local
Não acho que o caminho é “não qualificar de mais” o espaço, não quero privar o direito das pessoas que terem um espaço melhor pra se viver..
Oi Juline, obrigado pela leitura e pelo comentário!
O seu comentário tem algumas nuances: é muito possível que os benefícios de melhoria econômica favoreçam e não prejudiquem os residentes de baixa renda, principalmente aqueles que são proprietários de imóveis (que são a maioria dos casos no Brasil). Alguns estudos econômicos de áreas gentrificadas nos EUA mostraram que isso pode ocorrer dependendo das condições da área (como relata este outro artigo do mesmo autor Joe Cortright: https://caosplanejado.com/em-defesa-da-gentrificacao/).
Não entendi quando você falou positivamente da valorização de espaços através de empreendimentos e, em seguida, que empreendimentos que valorizem o local deviam ser barrados. Você poderia esclarecer esta ideia?
Obrigado!
Anthony Ling — Editor
Nesse sentido o melhor a ser feito é investir pesado em esquemas de TOD de forma regional ou nacional em locais onde há pouca urbanização mas que a construção de infraestruturas ferroviárias possam atrair desenvolvimento – exemplo: novas cidades ou loteamentos de cidades cujas vidas econômicas serão transformadas pelo acréscimo de acessibilidade, como ao longo da ferrovia Norte Sul, no centro oeste
Guilherme, obrigado pela leitura e pelo comentário.
Pessoalmente acho mais eficaz investir pesado em infraestrutura e transporte de massa onde a urbanização já existe (e ela já existe em vários lugares carecendo destes investimentos) ao invés de investir recursos públicos tentando dirigir o crescimento urbano que segue, na prática, padrões imprevisíveis a longo prazo. Ou seja, o investimento e a gestão urbana acompanhando o desenvolvimento urbano, e não tentando realizá-lo, mitigando investimentos sem retorno ou mau direcionados.
Grande abraço,
Anthony
Anthony! Muito obrigado pela resposta! gostaria de saber por onde começar a estudar para ser um “urbanista liberal”.
Li um artigo do Mises.org que citava Jane Jacobs como uma pessoa com influências liberais clássicas e isso me despertou a curiosidade! Me considero um conservador com grande influência liberal em varios aspectos da vida e sei como é difícil ter contato com essa visão na academia!
Saudações e obrigado!
Ou seja, não há meio termo: ou fica bom para todo mundo, no sentido de que a cidade seja de fato para todos (e sem alguém para dizer quem é quem nesse “todos”), ou não fica para ninguém. Ótimo artigo! Obrigado!
Gostaria de ver também algum estudo sobre o que eu chamaria de “gentrificação reversa”, em que as pessoas de maior poder aquisitivo abandonam os bairros e estes se transformam em regiões de baixo valor. Vejo como exemplo muito atual disso toda a região dos subúrbios da Leopoldina, no Rio de Janeiro: bairros em que até os anos 1960 eram agradáveis, tranquilos, e hoje são áreas de risco, dominados pelo tráfico e pelas milícias. Seria interessante entender essa gentrificação reversa em área com infraestrutura e transporte público.
Gilberto, obrigado pela leitura!
Já escrevemos sobre este efeito, não necessariamente pela ótica negativa, mas pelo aumento da acessibilidade à moradia: https://caosplanejado.com/como-transformar-predios-de-luxo-em-habitacao-popular/
Na literatura norteamericana o efeito se chama “filtragem”, ou “filtering”, onde moradores de rendas mais baixas substituem moradores de rendas mais altas.
Não necessariamente o processo de filtragem é um que leva à violência como você mencionou, mas simplesmente cujas edificações depreciam ao longo do tempo.
Abraços,
Anthony
O artigo introduz sua tese de forma muito técnica e ambientada quando aborda as cidades como organismos vivos baseados em ação e reação – em constantes transformações inerentes ao desenvolvimento urbano – . O que vemos em seguida, no entanto, é aparentemente um alfabeto de justificativas CONTRÁRIAS a esta introdução, como se todo o discurso progressista de “vítimas da gentrificação” fosse plausível.
Ora, não há como impedir comunidades de receber galerias de arte, cafeterias, parques/áreas verdes, famílias com filhos, tampouco impedir a existência de moradores LGBTQ. Na ausência destes fatores de transformação o que temos é uma comunidade abandonada e decadente, e não mais um organismo vivo como o Sr Cortright bem abordou em sua introdução
Maicon,
Obrigado pela leitura e pelo comentário. Meu entendimento da introdução é o mesmo que o seu, mas interpretamos o que vem a seguir de forma diferente. O autor comenta: “Pode ser libertador apontar o dedo para culpar alguém ou alguma coisa mas, como a lista nos mostra, o jogo da culpa lança pouca luz sobre o que está realmente causando a gentrificação, e nenhuma sobre o que nós podemos fazer para minimizar seus efeitos negativos.”
Ao fim, ele conclui: “Enquanto há um alfabeto inteiro de fatores para culpar, nós clamamos que nossos leitores foquem no “V” e “Z”.”
Ou seja, o alfabeto não contradiz a introdução, mas exemplifica a miríade de discursos de “culpa” normalmente (e equivocadamente) usados na discussão sobre gentrificação.
Espero que tenha esclarecido a sua dúvida.
Abs
Anthony