Brasília: uma cidade que não faríamos de novo
Imagem: Mario Fontanelle - Revista Brasília.

Brasília: uma cidade que não faríamos de novo

A construção de Brasília custou U$83 bilhões em valores atuais, cerca de mil arenas de Copa do Mundo, em um país com PIB mais de cem vezes menor que hoje.

21 de abril de 2019

Juscelino Kubitschek, embora lembrado por ter executado o projeto de Brasília, não foi seu idealizador. A vontade política para a construção de uma nova capital no interior do país vem desde 1808, com a ideia de elevação do status do Brasil como país e a simbolização do desenvolvimento pós-independência.

O caráter desenvolvimentista, ou então da busca pelo novo, foi base da argumentação da maioria dos defensores da mudança, cada um com uma vertente diferente. As primeiras teorias de planejamento urbano e territorial viam aglomerações de pessoas como um problema a ser resolvido. Não haveria, assim, motivo para tantas pessoas ocuparem espaços tão pequenos se o país tem um território tão extenso.

Ainda, em um processo de criação de uma nova cidade, seria possível a integração e desenvolvimento das regiões interioranas. A “Marcha para o Oeste”, política implementada por Getúlio Vargas na década de 30, também refletiu este pensamento, tendo levado à incorporação de Goiânia na década de 30, e discurso recorrente da revista “Brasília”, que documentou a construção da nova capital.

Embora estes argumentos reflitam as realidades das suas épocas, tanto do estado das coisas como do conhecimento técnico disponível, hoje estariam ultrapassados. Hoje se entende que mercados de trabalho criados através de aglomerações de pessoas — cidades — possuem ganhos de escala: se dispersássemos os mais de 200 milhões de brasileiros no território, teríamos uma sociedade mais pobre, ineficiente e improdutiva.

Associações de todo tipo, de governos a empresas, de clubes de futebol a bandas de rock, seriam inviáveis ou impossíveis sem cidades, dada a dificuldade de encontrar e juntar as pessoas certas para um determinado objetivo.

Cidades se desenvolvem de forma relativamente espontânea por este motivo: mesmo em países como a China, que tenta restringir a migração interna através do sistema hukou, movimentos migratórios ocorrem entre uma cidade e outra de forma não planejada, em uma espécie de concorrência por moradores.

Além disso, ao dispersar a população no território, o custo de implementação de qualquer sistema, seja ele de infraestrutura ou de serviços públicos, também encarece.


Políticas de interiorização, na realidade, ajudam a manter cidadãos longe dos principais centros urbanos que, pela sua natureza intrínseca, potencializam a produtividade humana dado seu poder de nos conectarmos como sociedade.


Isto não significa que todo investimento público em cidades menores é inadequado, mas que não há motivos econômicos para subsidiar o desenvolvimento de algumas geografias de forma desproporcional ao resto do país.

Políticas de interiorização, na realidade, ajudam a manter cidadãos longe dos principais centros urbanos que, pela sua natureza intrínseca, potencializam a produtividade humana dado seu poder de nos conectarmos como sociedade.

Recentemente, em evento no Insper em São Paulo, ao discutir sobre “place based aid vs. people based aid”, ou seja, a comparação entre as políticas públicas para ajudar lugares e as políticas para ajudar pessoas, o economista Edward Glaeser comenta que “ao jogar dinheiro em locais [economicamente improdutivos], você está basicamente subornando as pessoas a morarem em lugares menos produtivos e frequentemente piores em providenciais de serviços sociais básicos”.

Este seria o custo indireto da construção de Brasília: a perda da eficiência urbana, transferindo artificialmente milhares de pessoas de cidades que elas tinham escolhido morar para uma cidade que, por decreto, agora iria não apenas existir, mas se tornaria a capital do país.

Somado a isso, é preciso incorporar o custo da transferência de setores governamentais e, ainda, o custo logístico agora recorrente para abastecer uma cidade isolada, de combustível a papel higiênico. Custos talvez dispersos e difíceis de contabilizar, mas enormes.

Brasília: uma obra faraônica financiada pelo povo

O custo direto da construção de Brasília, no entanto, das amplas rodovias às monumentais construções, foi estimado em U$83 bilhões em valores atuais. Para se ter uma ideia de grandeza, este valor é equivalente a mil arenas de futebol construídas para a Copa do Mundo, em um país com um PIB mais de cem vezes menor que hoje.

Estima-se que o gasto somente para a construção de Brasília teria sido 10% do PIB do Brasil em um determinado ano na época da sua construção. Para comparação, o gasto recomendado pelo Banco Mundial para investimento sustentável em toda infraestrutura do país é de 4,5% do PIB.

O governo brasileiro da época (ou talvez qualquer outro governo) não tinha os recursos disponíveis para um projeto estrondoso como o de Brasília. Assim, a estratégia adotada foi a da inflação: emitir mais moeda, desvalorizando-a como um todo.

Na época, a repercussão de uma inflação acelerada ainda não tinha sido amplamente estudada no campo da economia. A consequência foi a rápida desvalorização da moeda e, com isso, o poder de compra da população, afetando principalmente a população mais pobre.

A escala de gastos com Brasília levou a um dos maiores níveis de inflação até então, sendo uma das principais causas da instabilidade econômica do governo de João Goulart, que sucedeu JK. Nesta época, os desabastecimentos eram frequentes, um prelúdio ao período da hiperinflação dos anos 80 após a ditadura militar, que não aprendeu com o passado e replicou o impulso de expansão monetária como forma de financiamento de grandes projetos.

Não é exagero dizer que tal instabilidade econômica provocado pela inflação para a construção de Brasília tenha contribuído para o crescimento da oposição que levou ao golpe militar de 64.

Esboço do projeto piloto de Brasília, por Lúcio Costa
Esboço do projeto piloto de Brasília, por Lúcio Costa. (Imagem: (Imagem: Uri Rosenheck/Flickr)

Validação do urbanismo modernista

Um dos grandes marcos do urbanismo modernista foi a Carta de Atenas, publicada em 1933 pelo arquiteto suíço Le Corbusier. No documento, se defendia os princípios do zoneamento de atividades, de grandes blocos edificados afastados e ensolarados, cruzados por grandes vias — todos eles aplicados fidedignamente em Brasília.

No final da década de 30, o modernismo já aterrissava no Brasil através da arquitetura, com edifícios como o Esther em São Paulo e o Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, hoje conhecido como Edifício Gustavo Capanema.

O Brasil, ainda visto como um país novo e anterior ao seu período acelerado de industrialização, era campo fértil para teste de novas ideias. No entanto, cidades seguiram se desenvolvendo incorporando a arquitetura modernista ao tecido urbano tradicional.

No Brasil, foi justamente entre as décadas de 30 e 60 o desenvolvimento dos principais ícones arquitetônicos modernistas e a era das cidades brasileiras “nas alturas”, onde metrópoles respondiam à demanda com edificações maiores e, ao mesmo tempo, produzindo ampla diversidade e vida urbana. É a época da verticalização de Copacabana e da Bossa Nova, dos anos dourados das regiões centrais hoje históricas das cidades brasileiras.

Após Brasília, com Plano Piloto de 1957 e inauguração em 1960, isso mudou: não apenas a arquitetura era incorporada às cidades, mas os princípios urbanistas modernistas implementados em Brasília começaram a ecoar no planejamento urbano no resto do país.

Em 1959, em Porto Alegre, são criados o Plano Diretor inspirado nas mesmas diretrizes modernistas e, em 1962, o projeto para o Centro Administrativo, peça central da “Brasília em miniatura” portoalegrense.

O Plano de Expansão da Cidade de São Luís, também baseado no modernismo, data de 1960. São Paulo — que a partir de 1957 estabelece normas de zoneamento para toda a cidade — incorpora em 1972 estas normas no seu primeiro Plano Diretor, assim como os recuos obrigatórios nas construções.

No final dos anos 50 também iniciava o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro e, no final dos anos 70, o Aterro da Baía Sul em Florianópolis, pequenas versões de masterplans modernistas inspirados em Brasília.

Em 1969, Lúcio Costa, urbanista responsável pelo Plano Piloto de Brasília, é chamado para um novo Plano Piloto, desta vez em Jacarepaguá, que conhecemos hoje como a Barra da Tijuca.

É inegável que o pensamento modernista da época já era consolidado mesmo anterior à construção Brasília, visto que o segundo colocado no concurso para a nova cidade tinha projeto de Rino Levi com conceito sob diretrizes modernistas semelhantes.

No entanto, Brasília foi não apenas o primeiro mas o mais abrangente experimento de aplicação das regras modernistas na história da humanidade, fato que certamente ajudou a viabilizar a implementação de planos de inspiração semelhante no resto do país.

Praça dos Três Poderes, Brasília
Praça dos Três Poderes. (Imagem: Governo do Distrito Federal – Bento Vian/Flickr)

A medida que os planos foram implementados pelo país, já algumas décadas após a Carta de Atenas, Jane Jacobs publicaria o principal contraponto até então aos princípios modernistas, o “Morte e Vida das Grandes Cidades”, em 1961.

O livro denunciou os erros fatais do planejamento modernista, que ocorria também nos Estados Unidos e no Canadá, realidades que ela utilizou como base para suas observações críticas.

Hoje, ironica e infelizmente, grande parte do esforço do planejamento urbano pelo mundo é para desfazer erros cometidos no passado: urbanistas advogam pelo uso misto ao invés do zoneamento de atividades, da fachada ativa ao invés dos pilotis livres, das fachadas contínuas ao invés dos recuos que isolam os edifícios nos terrenos.

O carro não mais é o protagonista do sistema de transporte, como defendia Le Corbusier, que idealizou um “edifício-freeway” cortando a Zona Sul do Rio de Janeiro. Hoje se busca uma vasta gama de modos de mobilidade, que vê o pedestre como originador de todas as viagens. A cidade modernista ficou no passado.

Brasília completa hoje 59 anos, uma metrópole que abriga milhões de brasileiros e que cada vez mais diversifica a sua economia, embora ainda muito centrada na atividade governamental. A região do seu Plano Piloto, embora hoje oposta aos princípios urbanísticos contemporâneos, foi a primeira e única cidade moderna a ser considerada patrimônio histórico da humanidade pela UNESCO.

Além dos próprios brasilienses, muitos brasileiros têm orgulho do símbolo nacional e, inequivocamente, Brasília cumpriu seu papel de ajudar o desenvolvimento do interior do país. No entanto, junto à celebração de uma história que não pode ser reescrita, refletimos sobre a sua fundação: se o Rio de Janeiro ainda fosse capital brasileira e a região de Brasília solo árido e pouco habitado, provavelmente não tomaríamos a mesma decisão de construí-la.

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  • Anthony,
    Por gentileza, poderias explicar a conta que fizeste para chegar ao resultado de “mil arenas” no seguinte trecho?

    “O custo direto da construção de Brasília, no entanto, das amplas rodovias às monumentais construções, foi estimado em U$83 bilhões em valores atuais. Para se ter uma ideia de grandeza, este valor é equivalente a mil arenas de futebol construídas para a Copa do Mundo, em um país com um PIB mais de cem vezes menor que hoje.”

    Verifiquei o link da reportagem a esse respeito e consegui, no máximo, ao resultado de 100 arenas.
    Agradeço o esclarecimento.

    • Muito obrigado pela leitura e observação, Adelson.

      O cálculo do artigo leva em consideração o valor de R$ 400 milhões da Arena das Dunas, em Natal. Foi feito então a conversão do custo de 83 bilhões de dólares para reais, chegando em um montante de cerca de 415 bilhões de reais. Assim, esse valor corresponderia a pouco mais de mil Arenas das Dunas.

      Espero ter conseguido esclarecer nosso cálculo, Adelson. Se puder nos contar um pouco mais sobre o erro que encontrou, gostaríamos de corrigí-lo.

      Obrigado mais uma vez por acompanhar nosso trabalho e pela disposição em nos ajudar a corrigir os erros.

  • Quando a ideia de Brasília foi concebida não existiam aviões nem misseis intercontinentais, o ataque ou a invasão de outros continentes eram oriundos quase exclusivamente por via marítima , mas no momento da construção e inauguração do novo DF tais fatores não existiam mais, a tão propalada defesa da amazônia também não se sustenta, pois Brasília fica mais longe de manaus e Belém, por exemplo, do que do Rio e São Paulo, penso que como bom político JK sabia que quando se inaugura praças, chafarizes e jardins, que são obras de grande visibilidade para uma grande camada da população, prefeitos, governadores, etc. angariam mais votos e popularidade , ele provavelmente pensou: “E se eu aproveitando um artigo obsoleto colocado na constituição no século XIX construísse um mega jardim, uma grande praça o impacto seria muito maior, gigantesco, para tal fim ele trabalhou em três frentes, a frente religiosa do Dom Bosco, a rivalidade e poderio de São Paulo, que tem uma grande bancada, para isso concentrou várias indústrias naquele estado, e por fim o regionalismo caipira. Melhor seria ter transferido para Goiânia, pois essa já havia sido construída, mas isso iria contra seus interesses não declarados: ter um monumento como construtor e fundador.

  • Só para complementar.

    Eu sei reconhecer um trabalho bem feito como o que está sendo feito nessa página.

    Estou gostando bastante e ha um bom tempo buscava uma página com esse tipo de conteúdo, que relaciona o urbanismo e o desenvolvimento econômico… aborda questões reais e propõe soluções inteligentes.

    Continuarei acompanhando, não para “reclamar/ criticar” (se foi essa a primeira impressão que ficou), mas para elogios e sugestões positivas… e me informar/ aprender também.

    Parabéns, ficou claro sim a intenção do artigo! Espero ter sido claro também com meu outro olhar.

    Abraço!

    • Rafael, agradeço de verdade os seus comentários, que são valiosíssimos para quem escreve.

      O objetivo do Caos Planejado é sim nos comunicarmos com o público em geral e, sempre que possível, receber comentários e críticas, respondendo na medida do possível.

      Fico feliz que o site esteja atendendo às suas expectativas e espero que façamos um trabalho cada vez melhor. Fique à vontade para fazer críticas, pois é assim que conseguirmos melhorar.

      O seu olhar ficou claro sim, e respeito a sua opinião. E concordo que o que está feito está feito — a razão de ser do artigo é somente para refletir sobre o aconteceu e nos prepararmos para o futuro.

      Como breve comentários sobre os EUA, por lá também há um grande incentivo à dispersão territorial, talvez até mais forte que o Brasil. Historicamente temos o Interstate Highway System, que buscou conectar o país todo através de rodovias, facilitando o transporte de bens mas também incentivando a dispersão urbana de forma significativa, tivemos os famosos “land runs” (https://en.wikipedia.org/wiki/Land_run) onde a população corria para o Oeste em busca de terras distribuídas de forma a “ocupar” o território, capitais políticas diferentes das capitais econômicas (muitos confundem a capital de estados como Flórida, California e Nova York!) e, até hoje, subsídios agrícolas rurais fortíssimos. Enfim, por ser nos Estados Unidos não significa que é um arranjo eficiente…

      Grande abraço,
      Anthony

  • Acho que não me fiz ser entendido na questão da urbanização ao longo do país. Desculpa.

    Não foi a minha intenção dizer os políticos tem que decidir isso. Concordo que não é esse o papel deles.

    Há pouco tempo tomei conhecimento dessa questão na Indonésia e ainda não pude avaliar o caso. Então não vou comentar nada sobre.

    O que quis dizer é que parecia lógico ter uma capital no centro do país, especialmente considerando o cenário da época. A cidade em si não foi feita para “decidir onde as pessoas vão morar” e sim para administrar o país… nem para ter metade da populacao atual ela foi feita.

    Não estou fazendo um julgamento de certo do errado… mas como eu tinha dito, depois de nascer a realidade já era essa. Se for para mudar o passado do Brasil eu teria feito um país completamente diferente. Mas isso é só um exercício de imaginação que acredito não ter muita utilidade.

    Brasília inchou por conta de um desequilíbrio (forçado) político e econômico que já existia no país (e que limitava a prosperidade nacional em poucas cidades)… Também pelo êxodo rural da época e pelas novas oportunidades surgidas com a concentração de pessoas no Planalto Central.

    7 milhões de pessoas conseguem atrair mais investimentos que metade da população teria. Eu, inclusive, só vim parar aqui por isso (além de já gostar da cidade), foi uma decisão pessoal (e econômica) decidir morar em uma cidade que já existia.

    Sim. Houve decisões econômicas ruins, desnecessárias nessa mudança de capital… Mas depois de existir, efeitos positivos também passaram a ser realidade.

    Por outro lado, também é verdade que a concentração populacional do país teve sua motivação política…

    Naturalmente o Brasil podria ter ocupado todo o território motivado pela economia e liberdades individuais se a política econômica adotada tivesse sido outra, não precisaria de motivação política para isso. É nesse contexto que citei as metrópoles ao longo do país.

    Desculpa, mas consigo enxergar com clareza o outro lado da moeda. A concentração populacional do Sudeste não de deve apenas ao desempenho econômico da região, foi antes de tudo fruto de decisões políticas, que ao mesmo tempo criaram várias travas que limitaram o desenvolvimento econômico de outras regiões.

    Nem nos Estados Unidos a diferença populacional entre grandes metrópoles é tão grande. As duas maiores se encontram em lados opostos do território.

    Lá inclusive, é normal estados como a Florida ou Texas com três metrópoles de tamanhos semelhantes na mesma unidade federativa e ao invés de apenas capitais estaduais inchadas como no Brasil.

  • Sinceramente vejo pouca utilidade nesse tipo de abordagem e na intenção de querer denegrir a cidade.

    Claro que não faríamos novamente o mesmo, até porque o país não é o mesmo e as circunstâncias são outras.

    Brasília foi tão resultado de decisões políticas, pouco racionais economicamente, quanto toda a história do Brasil, sua colonização e do surgimento de milhares de cidades mundo a fora.

    A própria mudança da corte portuguesa para o Rio, e suas obras de implementação, foi motivada por decisões da família real, que gastou e MUITO o dinheiro explorado da então colônia e dos brasileiros que aqui já viviam.

    A história do mundo, da idade média à moderna até o surgimento dos Estados democráticos, está cheia de decisões políticas ou da realeza no que tange a obras públicas e instalação de capitais que pouco tem de lógico em termos econômicos. Brasília não merece levar essa culpa sozinha.

    Mas o passado passou. Quando eu nasci a cidade já é uma realidade de décadas.

    Também é verdade que o surgimento de Brasília poderia ter se dado de outra forma, menos caro, feito em etapas… e com estímulos econômicos. Talvez a pergunta não deveria ser se mudaríamos a capital ou não, e sim de que maneira faríamos isso.

    Por outro lado, não tem cidade brasileira que teve a inciativa econômica mais boicotada quanto Brasília. Praticamente tudo foi privado à cidade, de burocracia para construir a impedimentos para produzir.

    A população da cidade só teve direito a VOTO para escolher seu administrador em 1990.

    Nas desde seu surgimento a cidade passou a ser um ser vivo, com pessoas, trabalhadores, migrantes… histórias… Não cabe ser lembrada apenas como ser uma cidade de políticos que pouco ou nada tem relação com a cidade (apenas trabalham nela para os interesses de seus estados).

    Por fim a questão da concentração populacional. Acredito que o assunto seja um pouco longo e não cabe em um comentário.

    Entendo e concordo com que a concentração populacional e a urbanização trazem benefícios econômicos. Mas temos que pensar que o Brasil é um país ocupavel e com potencial econômico em todas as regiões. Mais integilente é um país urbanizado que possui metrópoles fortes e estratégicas ao longo do território. Qualquer grande potência pensaria dessa forma.

    E nisso Brasília só veio a acrescentar. Junto com Goiânia e num eixo de apenas 200km, temos uma 7 milhões de habitantes (terceira maior concentração populacional do país) em uma área altamente urbanizada e estratégica. Esse grande mercado consumidos viabiliza a logísticas de estradas, ferrovias e até o hub aéreo de Brasília. Sem falar que o entorno do Eixo BSB-GYN é uma região agrícola altamente produtiva.

    Enfim, fica a reflexão. De qualquer jeito, gostei do conteúdo da página e pretendo acompanhar, apesar de ter achado bem agressiva a abordagem com a capital federal quanto cidade, nesse e em outros textos. Até mais.

    • Rafael, obrigado pela leitura e pelo comentário ponderado.

      A intenção do artigo não foi, de modo algum, denegrir a imagem da cidade ou de criticar aqueles que hoje moram na cidade. Brasília sim faz parte da nossa realidade e deve ser respeitada como qualquer outra cidade brasileira.

      Fato é que Brasília continua sendo, para muitos, não apenas um exemplo de urbanismo como um exemplo no investimento de criação de novas cidades. Se isso não é feito no Brasil, está sendo proposto em países como a Indonésia, que acabou de divulgar planos de construir uma nova capital, que acredito ser um grande erro. Políticos continuam defendendo a criação de cidades “do zero”, ao invés de criarem políticas sérias para melhorarem as cidades que já existem, pólos naturais de atração de pessoas.

      Assim, discordo quando você sugere uma política de ocupação territorial onde “metrópoles fortes e estratégicas” estariam dispostas “ao longo do território”. Discordo pelo fato de isso não estar nas mãos de políticos, pois políticos não devem decidir onde as pessoas deveriam morar ou onde negócios deveriam ser estabelecidos. Negócios definem onde vão se estabelecer dependendo de fatores como proximidades à mercados (clientes, fornecedores, mão de obra) e a conectividade daquele local com o mercado onde vai atuar, pensando tanto internamente como externamente, para fins de exportação. Já pessoas buscam cidades que possibilitem estas oportunidades, principalmente relacionadas ao mercado de trabalho. O objetivo de ocupar território que você sugere não traz ganhos econômicos, pois um político não tomará decisões mais eficientes de onde localizar as atividades econômicas que o mercado como um todo funcionando de forma dinâmica.

      As pessoas, a infraestrutura, os recursos que você cita que existe ao redor de Brasília não deixariam de existir caso não tivéssemos tomado essa decisão, mas teriam sido investidos em outros lugares do país. O exemplo atual é o de Jacarta, onde querem investir cerca de USD 33 bilhões em uma nova cidade tentando fazer com que pessoas se mudam para um local pouco habitado artificialmente. Enquanto isso, Jacarta continuará atraindo pessoas pela sua massa crítica econômica, continuará com infraestrutura precária, continuará com as suas desigualdades, e com potencial econômico de fato dado que os recursos estarão sendo drenados a outra região, iniciada “do zero”. Ou seja, é este tipo de erro que o artigo visa mitigar.

      Espero que tenha esclarecido algumas questões, e fico sempre disponível para maiores conversas.

      Um abraço,
      Anthony

  • Vou começar dizendo que sim, Brasília dá muitas lições do que não repetir. E que eu não vim tentar questionar a ideia central do texto. Eu só gostaria de propor um exercício para além do campo do urbanismo propriamente dito.
    Teria sido mais vantajoso se Brasília não tivesse sido construída. Foi um empreendimento faraônico, que drenou a economia, causando inflação; um playground de arquitetos, que tiveram liberdade para testar em grande escala suas ideias modernistas. Testadas e reprovadas: Brasília é um fiasco, notadamente no setor da mobilidade. Os primeiros anos da cidade foram vergonhosos, evidências diárias do fracasso do projeto. Ok. Difícil discordar de qualquer uma dessas coisas.
    Agora, sem entrar muito na metodologia do efeito borboleta, queria rever a análise do processo de interiorização e seus desdobramentos, que foi reduzido à transferência artificial e forçada da população, que estaria muito melhor se nunca tivesse saído de onde veio. Era melhor se todos tivessem ficado no Rio de Janeiro, que já tinha infraestrutura para o abastecimento adequado de papel higiênico.
    A questão é: a maior parte da população de Brasília (ou do Distrito Federal, se preferir), tanto naquela época quanto agora, não veio do Rio de Janeiro, não abandonou os recursos e a infraestrutura da cidade grande, abrindo mão de seus laços familiares, para viver num deserto sem papel higiênico, em razão de um decreto. Esquecemos que não foi a nova capital que inventou a desigualdade social brasileira: quem fez surgir as favelas e foi viver nas ditas cidades-satélite era gente que vivia de forma ainda mais precária, muitas em desertos piores e com ainda menos papel higiênico. Alguns dos que construíram e verdadeiramente popularam a cidade tiveram nos seus salários (irrisórios) o principal contato de suas vidas com o que se poderia chamar de recurso estatal.
    Também não se deve ignorar que, apesar de quase estatisticamente irrelevante, o centro-oeste há séculos já era habitado, e há séculos ignorado pelo poder central, sem ao menos ter o benefício do passado rico, mesmo que decadente, do litoral nordestino.
    Falamos muito em pensar as cidades para pessoas, mas pessoas não se reduzem a pedestres. Eu apenas proponho um olhar mais abrangente do que é, no fim das contas, uma cidade. Da mesma forma que sua população não é o mesmo que um conjunto de habitantes, sua história é mais que uma série de políticas públicas. Etc.
    Assinado,
    uma brasiliense que claramente levou um pouquinho pro lado pessoal

    • Melissa,

      Agradeço pela leitura e pelo comentário sincero e extremamente relevante.

      Como resposta, digo que o meu artigo não se refere a pessoas ficando no Rio de Janeiro, mas sim nas suas próprias cidades ou então migrando para outras regiões metropolitanas, próximas ou não das suas cidades natais. A migração poderia ser para Brasília ou poderia seguir padrões naturais que caracterizaram o nosso crescimento urbano ao longo destas últimas décadas, para centros como São Paulo, Fortaleza, Salvador ou para o próprio Rio de Janeiro (e não saindo do Rio de Janeiro), ou qualquer outro novo centro urbano que poderia se formar organicamente.

      O artigo também não menciona a questão das cidades satélite ou das favelas, onde estou de pleno acordo com seu comentário. Também não defendo o direcionamento desproporcional de recursos a certas regiões do país como você menciona — pelo contrário, a natureza do meu artigo é de que regiões não deveriam ser privilegiadas simplesmente pela sua geografia, que é o caso de Brasília.

      Como já respondi a outros leitores, a cidade de Brasília é extremamente relevante hoje no país e não estou contestando essa realidade. Mas acho difícil usarmos a lógica da construção de Brasília em termos de ganhos econômicos pois, caso fosse verdade, deveríamos repetir a estratégia de tentar criar do zero grandes econômicos pelo país, o que não acho que seria vantajoso. É neste sentido que defendo que “não faríamos de novo”, ou pelo menos não deveríamos.

      Fico a disposição para mais conversas.

      Grande abraço,
      Anthony

  • O magnetismo provocado pela mudança da capital criou um novo mercado consumidor na região do centro do país, consolidado após 60 anos. Talvez seu comentário fizesse sentido na inóspita e desoladora Brasília e região de 50 anos atrás – aliás, como a maioria das críticas do senso comum à nova capital -, mas é preciso enxergar o que é a cidade, o Distrito Federal e o entorno, hoje. Há uma aglomeração produtiva de larga escala, tanto do ponto de vista econômico quanto humano. Felicíssima e involuntariamente irônica a menção do autor às “bandas de rock”, considerando que Brasília foi o palco de encontro de grupos que construíram a cena de rock mais significativa da história do país. Grandes histórias de vidas brasileiras foram possibilitadas pela construção, concordem ou não com a decisão de mudança. Quanto ao golpe de 64, entramos na teoria do efeito borboleta. Se avançarmos nesse campo de história contrafactual, uma forma vulgar de produzir conhecimento histórico, podemos então afirmar que sem Brasília o golpe teria acontecido mais cedo, tendo em vista a panela de pressão que era o Rio de Janeiro nos anos seguintes ao suicídio de GV, entre outros fatores que não poderíamos prever. A sede de poder dos militares era de longa data, um processo histórico que começa com o protagonismo na Guerra do Paraguai.
    A reflexão que fecha o texto flerta com o anacronismo: nada será feito no futuro como fazemos hoje ou ontem. Então, qual é a razão para a inquietação do autor? Seria o legado do modernismo brasileiro, que visivelmente o incomoda? Nesse ponto, enquanto leigo, não posso opinar muito. Mas do ponto de vista de um historiador nascido e criado nesta capital, para além de a minha relação de afeto com o espaço, entendo que o retorno material e imaterial da transferência foi incalculavelmente maior, comparado aos custos. É preciso entender o seu legado longe da defesa cega e da crítica oportunista.

    • Pedro, obrigado pela leitura e pelo comentário. Com risco de me repetir, o fato de Brasília existir não significa que as pessoas e a riqueza que hoje mora lá sumisse: elas simplesmente teriam permanecido ou migrado para outras aglomerações urbanas, gerando potencialmente ganhos maiores pela menor dispersão territorial.

      Quanto às suposições em relação ao golpe militar, são sugestões suas e não minhas, pois não fiz tais afirmações no texto.

      Atenciosamente,
      Anthony

      • ” Não é exagero dizer que tal instabilidade econômica provocado pela inflação para a construção de Brasília tenha contribuído para o crescimento da oposição que levou ao golpe militar de 64.”

        A sugestão foi sua, meu caro. Pode ser sutil, mas não esconde a intenção de correlacionar os fatos como causa e consequência, o que é uma explicação simplória e tendenciosa do episódio histórico.

        E sobre a inevitabilidade da “riqueza”, não ouso questionar estudos fora do meu domínio com relação a urbanismo, mas a tese por trás do seu comentário entra mais uma vez na contrafactualidade histórica: poderia ter gerado a mesma riqueza, ou maior, ou menor. Nunca saberemos e por isso não é um argumento valido para realizar juízos de valor em perspectiva histórica. Questiono, a dispersão não teria valido a pena considerando o foco urbano pujante que temos hoje? Que outro empreendimento na faixa populacional saturada teria a capacidade de movimentar de forma eficiente e organizada aquela massa populacional, o interesse de investimento e oferecer as potencialidades do vazio espacial da região do que um projeto como Brasília, considerando o contexto de então?

        Ao meu ver, o texto se perde em uma mistura de premissas e conclusões não claras: a pergunta é, não faríamos uma cidade como Brasília ou não mudariamos a capital? Creio que a primeira pergunta faça mais sentido, pois a cidade rodoviária é fruto de um ethos específico, irrepetível. Portanto, concordo com a projeção do autor. Já a mudança em si foi uma decisão custosa, mas do ponto de vista estratégico validada pelos resultados alcançados, do ponto de vista econômico, urbano, social e humano. Sim, com todas as falhas.

        • Caro Pedro,

          Não tentei passar com este comentário uma “explicação” sobre o Golpe de 64. O texto do comentário mostra isso na sua linguagem e, por isso, não entra em profundidade, até porque não é o objetivo do artigo. O comentário trata do contexto histórico na qual Brasília se insere. A instabilidade econômica ajuda a destruir qualquer regime político, seja ele democrático ou não, e negar a contribuição da construção de Brasília para tal instabilidade econômica é deixar de olhar para os custos envolvidos com a construção da cidade. Pelo contrário: tendecioso seria negar este impacto.

          Quanto à segunda questão, a premissa do meu argumento parte do seguinte raciocínio: cidades tem economias de escala, ou economias de aglomeração. A construção de novas cidades que efetivamente geraram riqueza tiveram esse resultado pela migração voluntária de pessoas para realizar atividades que geram valor, sendo um dos principais exemplos Shenzhen. Não foi este caso em Brasília. Pessoas foram designadas a construir Brasília e a se mudar para Brasília, contrariando qualquer incentivo real de demanda para ocupar a região. As atividades realizadas em Brasília também partem do serviço público, cuja riqueza é extraída do restante do país para ser “distribuída” e não produzida através de empreendimentos que geram riqueza.

          Criar Brasília é diminuir as economias de aglomeração que ocorreriam de forma espontânea, com recursos financeiros e humanos fluindo para atividades que geram mais valor.

          A premissa de zonas “saturadas” e de que pessoas precisam ser artificialmente redistribuídas no território é uma falácia, pois não há nada que diga que cidades atingam tal ponto de “saturação”, além de que tal “saturação” seria apenas corrigida removendo pessoas à força de uma cidade. Você também sugere que um “vazio” deva ser necessariamente ocupado, o que não é o caso e é uma das ideias cernes do meu artigo. Pessoas precisam ser ajudadas, e não geografias ocupadas por pessoas.

          A decisão econômica, nesse sentido, foi equvocadíssima, na minha opinião. E, por esse motivo, entre outros, digo que “não faríamos de novo”. Não digo que foi “errado” justamente porque a realidade é a que temos e que não há como estabelecer contrafactuais. E entendo quem goste de morar em Brasília, não me entenda mal. Mas citar as perdas e os erros é importante para que não se repitam.

          Obrigado pelo debate,
          Anthony

  • Bom dia A. Lingy,
    Gostei muito da reportagem. Discordo.com a abordagem utilitaria do comenta que “ao jogar dinheiro em locais [economicamente improdutivos], você está basicamente subornando as pessoas a morarem em lugares menos produtivos e frequentemente piores em providenciais de serviços sociais básicos”. > Pois pessoas sao ligadas a territorios, cumunidades sao culturas, que podem hoje nao serem prosperas, mas nao passado ou futuro sim, ou mesmo lutarem por uma estabilidade em seus locais. Dentro da tradicao doplanejamento regional, ha inumeros caso de sucesso onde investimento em regioes menos estrategicas. Por xemeplo, no Quebec a industria Bombardier instalou uma de suas unidades em regioes ‘ mais distantes ‘ mas atrativas aos seus funcionarios. Enfim creio no valor das cultuas locais, na importancia do territorio e do opoio do Estado quando necessario. Mas volto a dizer, que tenho lido seus textos e gostado muito. Sobre Brasilia, nesse momento nao posso mais escrever, completaria apenas com sua parte intrinsica : CEILANDIAS ! Um grande abraco, Flavio

    • Flavio,

      Obrigado pela leitura e pelas palavras honestas. Mas não me entenda errado: também acho que esse seu exemplo da Bombardier faz todo sentido. Afinal, a própria empresa arca com os custos das suas decisões diretamente e, estando próxima dos seus funcionários, viu uma oportunidade de gerar valor fazendo isso. A decisão do poder público, principalmente em nível federal, é muito diferente nesse sentido. O tomador de decisão sabe pouco ou nada sobre a realidade local, investindo em geografias em muitos casos como resultado de lobby de prefeitos ou governos locais, e não como resultado de um entendimento claro das necessidades daquelas pessoas. O sistema de incentivos também é diferente: caso o investimento der errado, o tomador de decisão não sofre nenhuma repercussão, e a sociedade paga os custos. Enfim, a lógica do setor privado não deve ser aplicada aqui, ao risco de gerar custos sociais desnecessários. Também não acho que devemos ignorar estas áreas e subsidiar os grandes centros, nada disso. Tenho outro artigo que será publicado em breve onde defendo basicamente uma maior autonomia municipal, melhorando o sistema de incentivos e distribuição recursos de forma mais proporcional no país. Enfim, espero que goste e que contribua para o debate. Fico a disposição !

  • Imagine o que seria de Rio e São Paulo hoje se Brasília não tivesse sido construída. Seriam metrópoles colapsadas. A construção de Brasília desviou a grande corrente migratória NE/SE para o planalto central evitando a catástrofe. Além disso temos hoje o paradigma do meio ambiente. Impossível salvar a reserva da biosfera nas grandes metrópoles sem a criação de fluxos migratórios conduzindo a população mais pobre para o interior brasileiro onde há de sobra o que falta nos grandes centros: espaço. Temos ainda a questão da água. Como abastecer a macro-metrópole paulista sem buscar água a distâncias cada vez maiores e custos cada vez mais elevados sem agredir o já fragilizado meio ambiente é uma questão de difícil solução.

    • Roger, obrigado pela leitura e pelo comentário.

      Respeitosamente discordo de você. A sua visão, no meu entendimento, é ainda pior ao meio ambiente: a mancha urbana de Brasília provavelmente é maior do que seria se esta mesma população estivesse distribuída nos territórios urbanizados brasileiros, dado que, estatisticamente, cidades maiores são mais densas e tem menores custos de infraestrutura per capita. O que você chama de “reserva da biosfera” é inatingível em zonas urbanas, qualquer que seja ela que estamos nos referindo, e por isso mesmo se criarmos mais zonas urbanas estamos destruindo mais biosferas no processo. Se espalhássemos a população do Rio de Janeiro e de São Paulo no território, como você sugere, o impacto ambiental seria exponencialmente maior, ampliando a área urbanizada significativamente.

      Grandes cidades como São Paulo provavelmente continuarão crescendo devido ao seu ganho de produtividade perante outras cidades. Isto é um dado que não temos como controlar. É justamente o papel da gestão urbana vencer os desafios deste processo de urbanização.

      Um abraço,
      Anthony