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Arquitetura comercial é uma das palavras mais abominadas no meio arquitetônico acadêmico. Para mim, o motivo surge já que, para uma determinada construção ser economicamente viável no Brasil primeiro há enormes custos envolvidos com a adaptação à regras urbanas — normalmente destrutivas — como vagas mínimas de garagem, afastamentos obrigatórios, contabilidade de áreas construídas seguindo critérios questionáveis, leis de zoneamento, entre outras. Além disso, o risco envolvido com mudanças de regras locais, o enorme poder decisório político em toda construção e as incertezas em relação ao financiamento da obra tornam o foco qualquer incorporador muito além do campo arquitetônico e construtivo.
No entanto, houve um momento e lugar em que as coisas não eram assim: a Manhattan da década de 20. Lá, logo no estouro da crise financeira de 1929 surge o empreendimento Rockefeller Center, empreendido por John D. Rockfeller Jr., filho de provavelmente um dos empresários mais famosos da humanidade que, após se comprometer com o investimento, mudou o programa original de uma sede para a Metropolitan Opera para…
“O máximo de congestão com o máximo de luz e espaço” e “Qualquer planejamento […] deveria se basear num ‘centro comercial o mais belo possível em consonância com o máximo rendimento a ser gerado”.
“O programa do Rockefeller Center consiste em conciliar essas incompatibilidades.”
“Uma inédita aliança de talentos trabalha nesse empreendimento, insólita por seu tamanho e variedade. Como descreve Raymond Hood: “Seria impossível calcular o número oficial de cabeças empenhadas em destrinçar as complexidades do problema; e certamente o número extraoficial de cabeças que ponderaram o tema seria um palpite ainda mais descabido”.
“O Rockefeller Center é uma obra prima sem um gênio.”
“Como não há um responsável individual pela criação de sua forma definitiva, a concepção, o nascimento e a realidade do Rockfeller Center têm sido interpretados — dentro do sistema tradicional de avaliação arquitetônica — como uma complexa situação de compromisso, um exemplo de ‘arquitetura de comitê’.”
“Mas a arquitetura de Manhattan não pode ser medida por instrumentos convencionais; eles são resultados absurdos: ver o Rockefeller Center como uma solução de compromisso é indicação de cegueira.”
“A essência e a força de Manhattan residem no fato de que toda a sua arquitetura é “de comitê”, e de que o comitê é formado pelos próprios moradores de Manhattan.”
“O Rockfeller Center, idealizado com o mesmo espírito de devoção estética, é concebido para satisfazer, no padrão e no serviço, ao espírito multifacetado de nossa civilização. Resolvendo seus vários problemas, estabelecendo uma relação mais íntima entre a beleza e os negócios, ele promete ser uma contribuição significativa para o planejamento urbano de um futuro que desabrocha.”
No início do século a cidade esbanjava liberdade construtiva, tornando o único diferencial entre construtores justamente a qualidade e a eficiência de sua obra: sem politicagem, já que políticos pouco mandavam. Para Koolhaas, o Rockefeller Center é o ápice do boom construtivo do início do século que chega à “Manhattan definitiva”. O projeto é comercial no sentido mais puro da palavra que, como descreve o trecho do livro, tem todos os moradores de Manhattan como críticos da qualidade do trabalho: verdadeiros consumidores em um mercado de arquitetura.
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