Bairros nunca tiveram o propósito de serem imutáveis
As mudanças nos bairros e nas cidades ao longo dos anos é natural e tentar impor restrições para elas é um equívoco.
O impacto da mudança da Lei de Zoneamento seria extremamente positivo para a cidade de São Paulo. Haveria uma redução no trânsito pelo aumento da proximidade entre as pessoas como o deslocamento que hoje é feito primordialmente de carro.
29 de julho de 2015“A quem interessa o fim das zonas exclusivamente residenciais?”, diz uma faixa afixada no muro de uma mansão no Jardim Europa, em São Paulo. Entre as várias mudanças sendo feitas atualmente na política urbana da cidade de São Paulo está a revisão da Lei de Zoneamento, que altera a lógica de desenvolvimento de várias zonas da cidade. O Jardim América e o Jardim Europa, duas das regiões mais ricas de São Paulo e atualmente legisladas para uso estritamente residencial de baixa densidade, seriam afetadas pela lei na sua versão atual, que ainda deve passar por algumas dezenas de audiências até ser aprovada. A proposta sugere que atividades comerciais sejam permitidas em algumas das avenidas dos Jardins (hoje o uso comercial é bastante restrito, embora, na prática, muitas casas já sejam usadas para comércio de forma irregular), além de permitir o aumento da área construída em algumas destas vias, favorecendo o adensamento populacional.
As mudanças não agradaram os moradores, que se manifestaram contra as mudanças na imprensa, na internet, na justiça e com faixas de protesto nas suas casas. Mas para entender melhor a proposta e os argumentos dos moradores, precisamos antes lembrar como foi formada a região.
Tanto o Jardim América como o Europa foram construídos como empreendimentos imobiliários da Companhia City, a empresa de urbanização mais influente na história de São Paulo, também responsável pela construção de bairros como Alto de Pinheiros e Alto da Lapa.
A região que os Jardins América e Europa ocupam era, no início do século 20, uma várzea do Rio Pinheiros, distante do centro original da cidade. Quando o Rio foi retificado pela construção da Marginal Pinheiros, os alagamentos frequentes deixaram de ser um problema e um grupo de empresários – que se transformaria na Cia. City – comprou os terrenos em lotes únicos, possibilitando empreendimentos do tamanho dos Jardins.
O conceito urbanístico proposto era arriscado: seria uma tentativa de replicar a “cidade-jardim”, um novo conceito de urbanismo que tinha sido recentemente criado na Inglaterra por Ebenezer Howard, considerado um dos primeiros urbanistas da história.
A novidade da cidade-jardim permitia que seus moradores se isolassem da densa metrópole que então se desenvolvia, fugindo da congestão, do barulho, da diversidade e da desigualdade de São Paulo, relativamente recentes na metrópole que se desenvolvia rapidamente. Em 1870, São Paulo tinha em torno de 30 mil pessoas, mas em 1920 esse número chegaria a 570 mil pessoas. Ou seja, a população paulistana foi multiplicada por dezenove em apenas 50 anos.
Na época, uma das teorias mais populares para explicar alguns problemas de saúde pública era a “teoria da miasma”, que apontava a falta de verde, sol e ar puro como a origem da proliferação de doenças. Ainda não havia sido descoberta a teoria microbiana, que hoje prevalece sem grande contestação científica. Por isso, o urbanismo no Brasil de então foi marcado por reformas sanitaristas, onde médicos se tornavam urbanistas para tentar corrigir estes problemas sob pretextos de uma ciência hoje ultrapassada.
Apesar da força incontrolável do crescimento urbano e do poder atrativo da cidade, para técnicos e intelectuais a cidade em si era um problema a ser corrigido, e a cidade-jardim resgataria as qualidades das zonas rurais criando a nova utopia de morar: espaços amplos e ar puro em uma distância ainda próxima ao centro, ainda acessível por automóvel. As semelhanças com o subúrbio norteamericano não são mera coincidência, dado que ambos são frutos de um pensamento comum.
Os urbanistas ingleses Barry Parker e Raymond Urwin foram os primeiros a projetar uma cidade jardim que realmente saiu do papel, chamada de Letchworth, em 1902. A Companhia City, de origem inglesa e operando no Brasil, então considerado um território virgem para ser desbravado com novas ideias, chamou Parker e Urwin para o projeto do Jardim América, que se tornou o primeiro projeto da Companhia City em São Paulo. As obras se iniciaram em 1913 e terminaram quase duas décadas depois, em 1929.
As restrições urbanísticas impostas no loteamento privado eram muito mais severas que em qualquer outro bairro da cidade, que então ainda se desenvolvia em torno da região central. Enquanto o centro de São Paulo mirava aos céus com altos edifícios para abrigar uma população cada vez maior, nos Jardins foram determinados rígidos limites populacionais, com restrições de altura, e de afastamentos frontais e laterais das edificações. O projeto foi pensado para uma elite paulistana emergente (a elite tradicional ainda morava mais próxima ao centro, na Av. Paulista ou em bairros adjacentes como Higienópolis), também disposta a experimentar este novo conceito de moradia. Um pouco parecido com os empreendimentos da Alphavile da atualidade, ainda mais longes da região central.
A cidade cresceu.
Hoje o Jardim Europa e o Jardim América não mais se caracterizam como subúrbios de uma região central mas, apesar de se localizarem historicamente nas chamadas zonas Sul/Sudoeste, elas estão muito próximas ao novo centro geográfico da mancha urbana paulistana, e no centro financeiro onde estão concentrados muitos dos empregos da Zona Metropolitana, que hoje ultrapassa 20 milhões de pessoas.
A centralidade e importância da região levam a uma altíssima demanda para morar nos Jardins e, com a oferta restrita, imóveis com preços altíssimos. O preço médio de um imóvel nos Jardins é em torno de R$12 mil por metro quadrado, o dobro da média da cidade. Se o bairro que era destinado às jovens elites emergentes, hoje ele abriga mansões de alguns dos cidadãos mais ricos do país.
Embora os Jardins tenham mantido a sua forma e densidade populacional próxima da original, as regiões ao seu redor tiveram grande aumento na população e na área construída. Os distritos de Pinheiros e Jardim Paulista, dos quais os Jardins fazem parte, possuem uma densidade de 8171 e 14540 hab/km2, respectivamente, mesmo contando com os Jardins “vazios” de densidades muito inferiores, em torno de 4500 hab/km2 segundo o livro “História econômica da cidade de São Paulo”.
Em 1986, o Jardim Europa e América foram determinados como patrimônio histórico da cidade, não só por ser uma das primeiras manifestações urbanas dos criadores originais da cidade-jardim, mas pelo princípio de que eles melhorariam a qualidade urbana para o resto da cidade, desempenhando um “importante papel na formação de um clima urbano mais ameno, capaz de atenuar a ‘ilha de calor’ característica das metrópoles compactas.”
Este é, inclusive, um dos principais argumentos usado pelos moradores que hoje criticam a revisão da Lei de Zoneamento: o Jardins seria um dos “pulmões verdes da cidade”, segundo vídeo divulgado pelo grupo “Contra Mudança de Zoneamento Na Rua: Estados Unidos” do Facebook, que já possui mais de 2 mil seguidores.
Outra crítica à revisão do plano seria o aumento do trânsito no bairro, já que as atividades comerciais atrairiam gente de fora. Segundo uma recente reportagem do Estadão, Regina Monteiro, presidente do Instituto das Cidades e conselheira do Movimento Defenda São Paulo, contratada pela Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira César (Samorcc) para avaliar o impacto que tal legislação teria na região, “Com o aumento dos carros, seria necessária uma hipotética quarta faixa (a via tem três) para manter os níveis de congestionamento atuais” na Rua Estados Unidos.
No entanto, hoje os moradores destes oásis em meio à selva de concreto paulistana se transportam quase exclusivamente de automóvel, dada uma série de fatores: a baixa densidade que não consegue suportar uma rede de transporte coletivo eficiente e, aliado ao uso exclusivamente residencial e amplos recuos, a caminhabilidade do bairro — facilidade de fazer atividades diárias a pé — é precária.
A crítica ao trânsito foca exclusivamente nos impactos locais, esquecendo o impacto negativo que o bairro hoje gera para o resto da cidade com a sua baixa densidade, ao contrário do que é divulgado no vídeo: baixa densidade demográfica com distâncias maiores entre atividades dificultam o deslocamento, independente do modal de transporte escolhido.
Considerando que tanto o Jardim Europa como o Jardim América têm em torno de 1 quilômetro quadrado cada um, é possível estimar o número de pessoas que poderiam estar morando nesta região central caso o seu adensamento fosse maior. Se eles tivessem 10 mil hab/km2, semelhante aos bairros adjacentes, seriam 11 mil pessoas a mais na região central, próximas às principais atividades e serviços. Se fosse proposta uma densidade ainda mais democrática, como a dos bairros Liberdade ou República, de em torno de 20 mil hab/km2, este número aumentaria para 31 mil pessoas.
Caso houvesse tal adensamento, seria economizado o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas partindo da periferia a esta região central. Este caso extremo deve ser considerado já que, mesmo se os possíveis novos moradores do Jardins viessem de bairros adjacentes, sua mudança geraria um efeito em cascata, liberando imóveis para que moradores mais distantes possam se aproximar da nova região central.
Ou seja: o impacto da mudança da Lei de Zoneamento seria extremamente positivo para a cidade de São Paulo. Não só haveria uma redução no trânsito pelo aumento da proximidade entre as pessoas como o deslocamento que hoje é feito primordialmente de carro poderia ser feito tanto a pé como de transporte coletivo. Esta solução, ainda, é muito mais verde do que a atual, já que a vegetação do Jardins beneficia apenas aos seus moradores, enquanto com a mudança do zoneamento haveria uma grande redução nas emissões de gases tóxicos resultantes de deslocamentos descenessários. Neste sentido, o próprio tombamento da região deveria ser reconsiderado, dado que se suporta em argumentos ambientais equivocados.
Seja como for, estes argumentos são, na verdade, uma distração ao principal motivo de mobilização dos moradores: o simples fato de que não querem mais gente no seu bairro, preservando seu status quo.
Uma das principais mobilizadoras do grupo, segundo o Estadão, é a paisagista Sylvia Luiz que, durante a entrevista ao jornal, aponta para um carro velho e enferrujado que estava estacionado em frente à sua casa e comenta “Olha, é isto que a gente não quer”, deixando a entender que o proprietário do carro poderia ser um criminoso. O proprietário do carro apareceu logo em seguida: era um ajudante contratado na obra de recapeamento da Rua Polônia, devidamente uniformizado, que estava em hora de almoço.
É inegável o caráter elitista do grupo, que tenta usar uma retórica popular para convencer a população a preservar seus interesses. Flávio Villaça, um dos mais importantes urbanistas brasileiros, em entrevista para o IG, comenta que “o que eles querem manter é a qualidade de vida do bairro deles, é o silêncio, o verde”, e que é legítimo que os moradores dos Jardins queiram proteger seu bairro, “mas dizer que é interesse público? Isso, não”. Outros urbanistas, como o professor da FAU-USP João Sette, concordam que os bairros-jardins são segregacionistas — no caso dele indo até mais além, comparando-os com o Apartheid — mas relutam em concordar com seu adensamento, muito menos com a entrada “livre” do mercado imobiliário.
Sette apresenta sentimentos ambíguos em relação ao desenvolvimento da região, sugerindo que o tombamento deveria ser preservado, beneficiando o morador que “teve a oportunidade de lá morar”, aliado a um grande receio de que a incorporação imobiliária transformaria a região em um “paliteiro” verticalizado, já que o desenvolvimento é feito (sic) “sem planos, sem lógica, sem desenho, sem proteção dos espaços públicos, sem redimensionamento das ruas, sem regulação do Estado, segundo sua livre vontade”.
No entanto, ao usar tais argumentos, autores como Sette esquecem que os principais geradores da má tipologia urbana em São Paulo foram justamente as regulações que restringem as densidades demográficas, obrigando que a verticalização seja aliada a amplos recuos de ajardinamento, desincentivando a ocupação do térreo com atividade comercial e ainda obrigando a construção de uma grande quantidade de vagas de estacionamento em cada construção, quem acabam utilizando boa parte do térreo para isso. Nenhum bairro que se desenvolveu anterior a este tipo de legislação, como qualquer um da Subprefeitura da Sé, na região do centro histórico de São Paulo, possui a característica de paliteiro criticada por tais autores, mas sim uma verticalização que produz densidade, moradia acessível e uma calçada viva. Uma flexibilização regulatória, dessa forma, certamente traria ganhos na qualidade e na democratização do espaço urbano.
Alguns podem argumentar, ainda, que os moradores devem ser protegidos pois fazem parte de um loteamento privado com regras próprias. No entanto, isso não ocorre de fato na legislação, dado que um loteamento é diferente de um condomínio. Em um loteamento, o incorporador pode definir uma série de regras, mas logo em seguida tanto as regras como a infraestrutura pública são incorporadas ao poder público.
Ou seja, é a Prefeitura de São Paulo que custeia a manutenção do espaço público do bairro e que é responsável pela legislação urbana que incide sobre ele. Não é o caso do Jardim América e Europa serem condomínios totalmente privados, onde existem convenções de condomínio e que os espaços são custeados totalmente pelos moradores, como é o caso, por exemplo, de empreendimentos da Alphaville ou de projetos ainda maiores como a Riviera de São Lourenço. O Jardins foi sim um loteamento planejado e construído por uma incorporadora privada, mas logo em seguida se tornou um bairro como os demais na cidade de São Paulo, sujeitos a alterações do Plano Diretor como as que estão hoje sendo feitas.
Assim, o cidadão paulistano deve estar ciente que alteração da Lei de Zoneamento dos Jardins é legítima e que, se aprovada, trará benefícios para a cidade. A população deve lutar contra este pequeno grupo de pessoas que são sim, moradores, mas não donos da área, pessoas que pedem pela exclusão do resto da cidade da região dos Jardins. Então, respondendo a pergunta “a quem interessa o fim das zonas exclusivamente residenciais?”: à cidade de São Paulo.
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COMENTÁRIOS
Não moro no Jardim Europa nem América e acho que seria um absurdo imenso mudar o zoneamento. Os únicos bairros praticamente que trazem alguma beleza e respiro à cidade são os projetados pela Cia City. O autor, aparentemente, prefere pombais, como os que estão se formando na Avenida Rebouças, sem recuo, com mais de 20 andares e feitos com o acabamento mais tosco possível, pra tirar o máximo da “mais valia”, acabando com o pouco verde da cidade, criando ilhas de calor, sombra e tampando qualquer chance de vista do horizonte. O discurso demagogo de que isso serviria pra democratizar o uso da terra, se não for ingênuo, é falacioso. Apartamentos nos Jardins são caríssimos. Acreditar que seriam construídas moradias acessíveis ao paulistano médio nessas regiões é risível. Sinceramente, não o conheço, mas a julgar por este artigo com argumentos tão rasos e irrealistas, imagino que o autor deve ter algum parentesco ou, pior, qualquer tipo de relação questionável com o setor imobiliário. Deve achar lindos os prédios da Barra Funda, sem nenhuma arquitetura que preste. Graças a Deus pelo menos o City Lapa foi tombado, pra impedir sandices demagogas como essas que se lê neste “artigo”. O melhor que se lê aqui são mesmo os comentários dos demais.
O mais absurdo é deixar o Jardim Paulistano sem ônibus. Urge reativar o 107P.
Para ir lá agora, só andar por ruas emaranhadas e ermas, onde é fácil se perder. Vou lá uma vez por ano, e lá nem táxi tem.
Olá. Moro em Salvador e há alguns anos houve uma revisão da lei municipal onde se tentou de todas as formas vender a visão de uma cidade “verticalizada”, em boa medida, segundo declarado, inspirada por São Paulo. Embora isso tenha vingado em alguma medida, tudo indica que ficou aquém do pretendido, e era óbvia a atuação de lobbies da construção civil. A impressão que tenho é que junto com essa proposta está na verdade um modelo de cidade na qual o trabalho, a produção, acontece em um “centro” produtivo, onde se tem um pior qualidade de vida, densamente povoado, com espigões, barulhento, inseguro, desconfortável, e que as camadas menos ricas, trabalhadoras, pagam o preço dessa menor qualidade de vida para estarem próximas desse centro produtivo, onde passarão boa parte se não toda sua vida. “Em compensação” recebem “serviços” para depois do trabalho e finais de semana. Por outro lado, o “preço” de quem quer uma casa melhor é se afastar desse centro.
Me soa estranho, dadas as possibilidades de cidades mais descentralizadas, com produção difusa, com mais volatilidade empregatícia, e mais agradáveis de se viver, ou sem edifícios altos (ainda que existam edifícios, como costuma ocorrer na Europa). Ao invés de acabar com os Jardins, seria até mais interessante ver em que medida é possível expandir o modelo em outras partes de São Paulo. E agora, com o covid19, há inclusive a questão de se é desejável um adensamento populacional. Mas já vi inclusive candidatos, até “liberais”, à prefeitura paulistana que estão querendo comprar essa causa, algo que possivelmente é atrativo para os setores que gostariam de derrubar aquelas casas para lucrar com grandes prédios e apartamentos minúsculos, à revelia da propriedade privada dos moradores, mas tudo indica que não para estes e certamente não para quem antevê um “modismo” de degradação de certos tipos de áreas urbanas. Hoje em dia, conhecendo a diferença ambiental brutal que existe entre qualquer rua interna do bairro e as avenidas imediatamente vizinhas, e vivendo em uma cidade com péssima qualidade ambiental, não penso em cidade sem pensar em conforto, quer dizer, as pessoas devem se sentir bem nela, querer e ter prazer em viver ali, e uma proposta que investe contra uma área a pretexto dela ter uma qualidade de vida excessivamente privilegiada em prol de um abstrato “bem da cidade” parece ir na direção oposta.
Qualquer proposta que não traga junto soluções para a sujeira, calor, frio, ventilação, luminosidade, barulho, para a conciliação do impacto de um “bar musical” com o vizinho em frente, ou de uma academia no vizinho ao lado, simplesmente relegando esa função à prefeitura, ou aceitando-os como “naturais”, não deveria, a meu ver, ser levada a sério. Não se trata propriamente de “impedir” ou não a “flexibilização” do zoneamento dos jardins, mas sim de deixar claro como os direitos de vizinhança, a qualidade de vida e ambiental serão preservados, ou, se não forem, o que exatamente se pretende que seja “entregue” nelas. Nesse sentido, embora não ache a proposta do artigo absurda em si, achei os argumentos forçados, pelas razões apontadas, e o texto incompleto nesse sentido de sequer abordar esses pontos. Pelo simples receio de que essas justificativas fossem usadas aqui na cidade, para estragar o que já não é tão bom, eu estaria na fila para apoiar os moradores do jardim.
Marcelo, obrigado pela leitura e pela reflexão.
Não defendemos aqui, de forma alguma, que todos morem em prédios ou em áreas densas, nem que todos morem em casas com jardins. Pessoas diferentes terão preferências de moradia diferentes. No entanto, há uma realidade de que a natureza da cidade é de maior proximidade e de densidade, e de que esta preferência atualmente é restrita. A preferência de morar em áreas pouco densas, ou até mesmo rurais, é abundante: esta opção pode ser realizada ao nos deslocarmos às periferias das áreas urbanas. Lá qualquer um pode encontrar menos poluição, menos barulho, mais luz e mais áreas verdes. Mas poucos gostariam de fazer essa escolha abrindo mão da proximidade às zonas centrais. A localização na cidade é um resultado de infinitas escolhas individuais, e cada um de nós deve realizar suas preferências abrindo mão de alguns aspectos ao fazer essas escolhas.
No caso de cidades “mais descentralizadas”, na realidade isso é muito difícil — talvez impossível — de realizar. A concentração de empregos em zonas urbanas centrais tem uma explicação econômica. Escrevi a respeito neste outro artigo: https://caosplanejado.com/a-impossivel-cidade-policentrica/
Fico a disposição para maiores reflexões e conversas sobre cidades.
Anthony
Existem outros exemplos de mudanças urbanas que podem ser realizadas (ou já foram) em cidades que possuem este cenário como os bairros dos Jardins?
Olá Cáucaso! A conversa com aqueles que gostariam de barrar qualquer tipo de desenvolvimento urbano vizinho em seus bairros é difícil e normalmente carrega um longo histórico no desenvolvimento urbano de uma cidade. Mas mudanças são possíveis a partir de uma discussão mais ampla com a sociedade. Um exemplo recente é Minneapolis, nos Estados Unidos, que ano passado aboliu o zoneamento residencial unifamiliar do seu planejamento: https://tcf.org/content/report/minneapolis-ended-single-family-zoning/?session=1
Como diz o artigo, o processo basicamente se resolveu através de uma votação na Câmara dos Vereadores da cidade. O mesmo poderia ocorrer em cidades brasileiras, ou mesmo em São Paulo. Durante a revisão do Plano Diretor de São Paulo de 2014, poderia ter sido abolida a categoria “ZER-1” (Zonas Exclusivamente Residenciais baixa densidade construtiva e demográfica), mas isso não ocorreu. É preciso conscientizar a população e os representantes sobre os efeitos desse tipo de legislação para que possamos, no longo prazo, permitir que essas mudanças aconteçam.
Abraços,
Anthony
Desconsiderar o efeito benéfico que o sombreamento privilegiado os bairro gera ao seu entorno, bem como a boa quantidade de solo permeável, e ainda dizer que uma hipotética redução de veículos automotores seria melhor para a cidade do ponto de vista ambiental é “controverso”, pra dizer o mínimo. Se adensamento é a única característica urbana importante, por que não lotear de vez o parque do Ibirapuera? Afinal, um enorme espaço inútil tão próximo de regiões da cidade com massiva oferta de emprego só pode ser um absurdo! Quem quer praticar esportes que vá se amontoar em academias, e quem quer ver mato que se meta ao interior. A lógica é a mesma.
Seja como for, a decisão última a respeito cabe aos moradores. Todo bairro deveria ter maior direito à autogestão, nessas e outras questões. Se a grande maioria dos moradores (sendo elite ou não, pouco importa) é contra, que assim seja. Se um dia resolverem que é bom permitir a verticalização, seria uma pena, mas não é uma assembleia amorfa de dirigistas planificadores (esses tais dos planos diretores) a interferir no direito dos moradores estabelecido há séculos.
A propósito, nesse aspecto, o artigo destoa completamente do que estou acostumado a ler nesta página.
Orlando, obrigado pela leitura e pelo seu comentário.
Acredito que, na tentativa de esclarecer as suas dúvidas, devo fazer aqui uma diferenciação clara entre áreas públicas e privadas. O Parque Ibirapuera é uma área pública muito importante, que deve permitir acesso total à população e, inclusive, ao meu ver, deveria eliminar os seus muros e cercas para aumentar ainda mais este acesso (mais sobre este assunto aqui: https://caosplanejado.com/cercar-espacos-publicos-e-errado-em-todos-os-sentidos-imaginaveis/).
O mesmo se refere à arborização em ruas, calçadas e espaços públicos em geral: o gestor público deveria investir e coordenar esforços para uma arborização adequada e equilibrada, o que normalmente, no Brasil, significa mais arborização, mas também nem sempre, pois o “mato” também pode prejudicar a infraestrutura urbana de várias formas. Conflito com infraestrutura urbana tanto enterrada como aérea, queda de galhos e frutos e manutenção e poda das espécies é um desafio para muitas prefeituras de cidades mais arborizadas.
Isso dito, acredito que faz parte da vida urbana, sim, que quem gostaria de fazer um trade-off entre mais espaço, mais silêncio, mais sol, mais “mato”, ter galinheiro tudo no seu terreno privado, ao invés de uma localização mais próxima a empregos e serviços deve, sim, ora pagar pelo custo total dessa escolha (que não ocorre no caso do Jardins pois o custo de oportunidade é reduzido pela restrição legal) ora buscar um terreno mais distante. Isso faz e sempre fez parte das escolhas de cada um e da vida na cidade e, lembremos, a opção de mais espaço sempre estará acessível à toda a população. O que não está acessível a todos (e é um dos grandes objetivos daqui do site) é justamente tornar a vida urbana mais acessível, dado que a vida rural é abundante e sempre acessível.
Quanto à questão ambiental, não estamos falando de hipóteses controversas mas de um consenso na literatura acadêmica que cidades mais densas e compactas são favoráveis ao meio ambiente, principalmente pela redução dos custos de infraestrutura, redução dos deslocamentos e, assim, a emissão de gases poluentes e CO2. Isso dito, não argumento aqui que todos deveriam morar em uma cidade densa! Pelo contrário, cada um deve buscar a forma de moradia que mais o agrade. A cidade deve tentar atender preferências diversas mas, para isso, não impedir que outros tenham acesso às formas de cidade que desejam, que é o que ocorre aqui no Jardins através de leis excludentes.
Espero que tenha esclarecido algumas das suas críticas em relação ao texto. Fico a disposição.
Anthony
Sei que esse é um artigo meio antigo, mas o encontrei ao procurar sobre algo relacionado. Eu não moro em São Paulo, mas num bairro semelhante ao Jardim América em outra cidade. Apesar desse bairro estar no meio dos dois centros comerciais, avenidas largas o contornam, de modo que veículos não precisam passar por dentro. Bom, na minha opinião de leigo, isto é, de alguém que não é arquiteto ou gestor municipal, o modelo ideal de zoneamento é de que haja predominancia residencial, comercial ou industrial. Porém, reconheço que existem bairros mistos fantásticos, que já vi no Brasil e no exterior. A questão para mim é que existe muito valor em estar dentro de casa sem ouvir barulho ou presenciar confusões de rua. Neste instante, por exemplo, ouço pássaros cantando nas árvores ao redor. Há espaço razoável entre as casas com quintais aonde crianças brincam, de modo que não incomodamos uns aos outros, o que ajuda a ter uma vida mais livre de estresse. Realmente seria bom termos pontos de ônibus, pois é um bairro algo elevado geograficamente e as empregadas domésticas, que aqui todos têm, precisam subir à pé. Só me incomodaria um adensamento populacional ao meu redor que me fizesse sentir meio que como gado. Enfim, eu sei que o artigo foi um pouco além disso, e talvez seja mesmo o caso que centros urbanos não possam ter esse padrão por questões de infraestrutura. Acho que o ideal para mim em uma cidade grande como São Paulo seria de morar em um condomínio mais afastado. =/
A minha opinião é que para o autor, tudo bem se esses lugares virassem FAVELAS
Eu não faço parte da elite paulistana, nem tão pouco tenho condições de morar nesses locais apresentados acima mas eu acredito que acabar com um bairro bem projetado usando a desculpa de mais pessoas de zonas afastadas poderem morar ali, é questionável pois grande parte das pessoas afastadas desse local não teriam condição financeira de habitá-lo. Não é transformando o local num apanhado de ‘barzinhos’ barulhentos, como vem se transformando a cidade de São Paulo, que o problema da habitação será resolvido. O correto seria que todos os bairros fossem inspirados na ‘cidade-jardim’ e não a ‘cidade-jardim’ inspirada na cracolândia com seus bares que não respeitam mais ninguém com a condescendência das autoridades.
Ricardo,
Obrigado pela leitura e pelo comentário. A sua questão é pertinente, mas o que o artigo propõe é justamente que as pessoas que moram mais afastadas tenham condições de competir por uso do solo com as pessoas mais ricas que moram ali.
Como coloca Alain Bertaud, o adensamento e a verticalização é a maneira que pobres tem como competir com ricos por um mesmo terreno. Caso as restrições fossem eliminadas, talvez alguém com muito dinheiro não se importe em arcar com o custo de oportunidade de manter uma residencia unifamiliar no terreno, e essa pessoa tem todo direito à isso. Mas pessoas menos ricas podem se juntar em um grande empreendimento e ocupar aquele espaço: um edifício nada mais é que uma “vaquinha” para ocupar um terreno de forma mais eficiente.
Se todos os bairros fossem insipirados na “cidade jardim” como você sugere teríamos uma situação semelhante aos EUA, onde maioria da população mora em residências familiares em subúrbios distantes. Eles são distantes por uma questão física e territorial: casas ocupam muito mais espaço para abrigar pessoas do que edifícios multifamiliares densos. Este espalhamento da população no território é um uso extremamente ineficiente do solo: requer um custo de infraestrutura per capita altíssimo, inviabiliza redes de transporte coletivo, impossibilita modos de transporte diferente do automóvel e ainda gera trânsito ainda maior do que regiões adensadas, dadas as grandes distâncias, o uso do carro e o deslocamento de todos até o mesmo centro de empregos. Isso não significa, é claro, que todos devam morar em zonas adensadas e de uso misto! Mas dentro de um contexto urbano a opção de morar em uma região de baixa densidade, com mais espaço, deve ser do próprio morador, escolhendo morar em uma área mais periférica onde esta é a regra e não a exceção. O que ocorre hoje é a restrição legal de qualquer outra alternativa de ocupação destas áreas, e não uma mera preferência dos moradores por este estilo de vida. É esta restrição que chamamos aqui de exclusão da cidade.
Abraços,
Anthony
Colocar no mesmo patamar de atuação, incorporadoras, construtoras e indivíduos em suas empreitas pessoais é que é arbitrário.
Utilizar-se de um discurso supostamente calcado na preocupação social ao acesso do mercado formal de habitação para então aclamar por liberação de gabarito é no mínimo, insensato. Apresente, de fato, onde há a hiper-regulação econômica ou de solo nacional considerando países ou em mesma situação de desigualdade socioeconômica ou de um histórico no qual sanou-se uma boa parte do déficit habitacional. Lembre-se dos exemplos britânicos, franceses, holandeses e até do nova-iorquino, onde os parques construídos contam não só como aporte do Estado mas como gerência e propriedade. Quanto ao absurdo em relação à índices e regramentos urbanísticos, ou arbitrários , lembre-se que há uma sociedade por trás disso, é uma construção social e participativa, na qual inclusive os agentes do mercado participam em defendendo suas demandas.
É importantíssimo lembrar que a discussão do solo criado é sim patrimônio das cidades, e como tal sua gerência deve ser feita pelo único ente competente que é o Estado, legítimo, e não dos poucos agentes privados que exploram o solo, recursos com o único e exclusivo foco no lucro desmedido.
Em um mundo extremamente finaceirizado, alegar que as empresas deixam de existir unica e exclusivamente pelas restrições que o Estado regra, é no mínimo, um ato antidemocrático. Até porque, no fim, o ditado diz : todo liberal, ou neo-liberal não pode ser um republicano nato, muito menos um democrata.
Tales, obrigado pela leitura e pelo comentário, e tento responder algumas de suas indagações.
Em relação à sua primeira questão, não acredito que haja uma “hiper regulação de solo nacional” e, eu diria, nem mesmo municipal, dependendo do caso: o artigo em questão se refere especificamente aos Jardins Europa e América em São Paulo. Quanto aos efeitos econômicos do zoneamento e regulação do uso do solo desenvolvimento urbano e acesso à moradia, eles foram amplamente estudados, gerando resultados negativos tanto em países em desenvolvimento como em países desenvolvidos. Este é um tema recorrente aqui no site, cito alguns artigos abaixo:
https://caosplanejado.com/o-impacto-do-zoneamento-no-acesso-a-moradia/
https://caosplanejado.com/quais-sao-as-cidades-brasileiras-com-moradia-mais-acessivel/
https://caosplanejado.com/goiania-metropole-brasileira-que-esta-resolvendo-deficit-habitacional/
https://caosplanejado.com/como-cidades-indianas-sofrem-zoneamento/
No caso específico de Nova York, a cidade teve um zoneamento minimamente restritivo até a metade do século passado, tanto que cerca de 40% dos edifícios já construídos da cidade não poderiam ser construídos hoje, cenário onde a cidade possui um zoneamento completamente diferente do que a construiu: https://caosplanejado.com/por-que-40-dos-edificios-de-manhattan-nao-poderiam-ser-construidos-hoje/
Quanto ao comentário de que o resultado dos índices é de uma “construção social participativa”, concordo em partes. O caso de São Paulo (assim como outras cidades, mas estamos falando de São Paulo e especificamente do Jardins), é marcado historicamente pela pressão de grupos lobistas de elite para restringir o acesso ao bairro deste a sua concepção. Este histórico é registrado nos textos de José Marinho Nery Junior, relatado aqui no site neste artigo: https://caosplanejado.com/zoneamento-e-segregacao-em-sao-paulo/
Ao final, concordo que o solo criado pode ser uma importante ferramenta de captação de recursos e gestão urbana pelo setor público, como argumento no Guia de Gestão Urbana disponibilizado aqui no site: https://caosplanejado.com/equalizacao-e-potencializacao-do-uso-do-solo-urbano/
No entanto, a medida que se estabelece o solo criado como tal ferramenta, acho que o mercado faz um bom trabalho na alocação dos recursos após a criação das “regras básicas do jogo” do solo criado. Da forma como trabalhamos, onde o potencial construtivo não tem relação alguma com a oferta e demanda pela região da cidade e que podem mudar a cada revisão de plano diretor, influenciando em preços de terrenos, é extremamente prejudicial ao desenvolvimento e planejamento urbano.
Por fim, se você ler atentamente o que argumentamos aqui não tem nada de liberal ou não-liberal. Aliás, muitos dos comentários, na época desta postagem, me acusaram de petista ou de “esquerdista” pelas ideias apresentadas. O que defendemos aqui são textos alinhados com a visão da página, de promover cidades mais acessíveis, humanas, diversas e dinâmicas, independente de viés político: https://caosplanejado.com/sobre-caos-planejado/
Espero a sua compreensão e que esta resposta tenha contribuído para o debate.
Grande abraço,
Anthony
O caminho pelas mãos das políticas a nível local é justo o contrário, sendo na prática o de expandir a zona de “exclusão”, que aliás dá outras feições a precificação imobiliária, com as ocupações fora dos pesados trâmites burocráticos e cartoriais sendo arrastadas pra vala da ilegalidade ou da quase ilegalidade, com as prefeituras tirando vantagem nas multas dos imóveis “autoconstruídos” com a precificação de tais multas num nível que faz com que o encargo dos proprietários de tais imóveis iguale ou até supere o valor cobrado de IPTU sobre o “Terreno Vago”, que por essência da política tributário-habitacional, é jogado em alíquotas mais elevadas do que o imóvel com área construída, tendo-se aí a divisão em três mundos, que são o do “ilegal”, o do “irregular” e o do “regular”.
No “ilegal”, a pessoa comercializa informalmente o “barraco” na “comunidade”, com a propriedade ficando a mercê dos grupos do crime organizado, que se impõem pela força das armas. No “irregular”, o alto ônus tributário do “IPTU” combinado com a “multa” leva grupos da classe média baixa a condição de inadimplência tributária, os deixando sob ameaça de eventual execução judicial da dívida. No “regular”, os poucos imóveis que estão fora da olheira dos condomínios estão relativamente seguros do ponto de vista de propriedade por no fim se beneficiarem de uma alíquota de IPTU pequena combinada a um imóvel de valor muitas vezes subavaliado. Já os que são em condomínios, bem… Se a família não dispor de boas condições pra manter o próprio padrão de vida, tem um risco maior de ter a dívida executada, ainda que o imóvel seja o “único” de moradia por parte da “família”… Se é financiado a perder de vista pelo Minha Casa, Minha Dívida… Bem, piorou, até porque o débito com o banco estatal tem prioridade sobre o direito de moradia e a Constituição… Ora, a Constituição é solenemente ignorada pelos altos escalões de nosso judiciário, só sendo levada em conta quando grupos de interesse apelam a ela para fazer valer seus próprios interesses.
Seria uma pena declarar que cidades como Ribeirão Preto estão seguindo a rota contrária da proposta pelo Ricardo aqui, aproveitando a aprovação do Código de Obras pra tentar encher o caixa num primeiro momento com as multas pelo “esquentamento” da documentação dos imóveis por parte dos proprietários que forem correr atrás de regularizar o imóvel contratando “engenheiro” ou “arquiteto” pra agir de caneteiro (ao arrepio dos códigos de ética do CAU e do CREA) e depois para cobrar a multa todo ano como uma sobretaxa daqueles que não se derem ao trabalho de fazer isso.
E mais, depois do prazo de moratória, a única forma de legalizar o imóvel irregular e escapar da multa (que junto ao IPTU, implicam em um custo para o proprietário do imóvel que pode igualar ou mesmo superar o valor do Terreno Vago, cujo IPTU é precificado bem acima do IPTU do terreno com área construída) vai ser a demolição do mesmo.
Quanto a aqueles que tiveram seus imóveis com a propriedade “regularizada” com a regularização tão somente da propriedade dos terrenos onde estavam suas edificações como é o caso dos moradores do Jardim Progresso, eles que se preparem pra mais essa baita dor de cabeça.
Postei o comentário acima na postagem errada sem perceber. Estava me referindo a esse texto:
https://caosplanejado.com/vamos-apagar-a-linha-imaginaria-que-divide-as-cidades-brasileiras/
Não há o menor interesse de apagar a linha “imaginária” que divide as cidades brasileiras em cidade legal e ilegal. Bem pelo contrário. O interesse é em expandir os limites da cidade “ilegal” e faturar em cima disso, sendo que iniciativas como a da prefeitura de Ribeirão Preto vão ao encontro disso, ao estipularem multas anuais para os proprietários de imóveis que não tenham sua construção “regularizada” para efeitos de burocracia.
Isso tende até a fortalecer as marcas de divisão entre áreas “ricas” e áreas “pobres”, que aliás, é um ponto importante na definição da precificação imobiliária.
Como ajudar a solucionar o problema da drenagem urbana sem taxa de ocupação e taxa de permeabilidade? Considero uma solução justa, pulverizada e mais eficiente que um grande sistema central.
Colocar no mesmo patamar de atuação, incorporadoras, construtoras e indivíduos em suas empreitas pessoais é que é arbitrário.
Utilizar-se de um discurso supostamente calcado na preocupação social ao acesso do mercado formal de habitação para então aclamar por liberação de gabarito é no mínimo, insensato. Apresente, de fato, onde há a hiper-regulação econômica ou de solo nacional considerando países ou em mesma situação de desigualdade socioeconômica ou de um histórico no qual sanou-se uma boa parte do déficit habitacional. Lembre-se dos exemplos britânicos, franceses, holandeses e até do nova-iorquino, onde os parques construídos contam não só como aporte do Estado mas como gerência e propriedade. Quanto ao absurdo em relação à índices e regramentos urbanísticos, ou arbitrários , lembre-se que há uma sociedade por trás disso, é uma construção social e participativa, na qual inclusive os agentes do mercado participam em defendendo suas demandas.
É importantíssimo lembrar que a discussão do solo criado é sim patrimônio das cidades, e como tal sua gerência deve ser feita pelo único ente competente que é o Estado, legítimo, e não dos poucos agentes privados que exploram o solo, recursos com o único e exclusivo foco no lucro desmedido.
Em um mundo extremamente finaceirizado, alegar que as empresas deixam de existir unica e exclusivamente pelas restrições que o Estado regra, é no mínimo, um ato antidemocrático. Até porque, no fim, o ditado diz : todo liberal, ou neo-liberal não pode ser um republicano nato, muito menos um democrata.
Tais postulações colocadas no artigo reiteram uma postura que ignora os debates públicos realizados, em detrimento de uma busca irrestrita pela não regulação e o lucro extremado, e tudo isso se apoiando na inadequação formal de residências. Essa dissimulação entre o problema conceitual e a conclusão é um verdade latente de como o capital deturpa as relações sociais e pauta um lado com muita força no debate que há no conflito inerente à urbanidade e à cidade.
Essas reivindicações não podem ser entendidas como ilegítimas, afinal, empreendedores, incorporadores são agentes atuantes na cidade, porém, caso sejam desregulados, o poder de ação é incoerente com a forma de atuação destes no meio urbano, a regulação existe não só para legitimar os interesses dos agentes supracitados, mas também daqueles que não possuem essa representatividade por meio do capital. Ou será que é preciso lembrar ainda o que acontece de tempos em tempos nas favelas que ocupam terrenos de grande valor? Recomendo aos desavisados, o documentário “Limpam com Fogo”.
Recomendo também rever a utilização do termo “ilegal” e variáveis, que poderiam ser substituídos, sem perda de valor para o texto por “irregular”, tal alteração, além de contemplar melhor o tema como um todo, é juridicamente mais correto, mesmo que fora de um texto dessa natureza, não creio na ingenuidade do autor em utiliza-los como retórica, mas de fato, pesa um pouco além da conta ao se propor em discutir tal assunto.
Encerro deixando a reflexão para quem lê, se de fato é possível acreditar em uma argumentação que começa com o subjulgamento, conceitual teórico e prático de planos, leis e códigos . Obviamente, é saudável criticar, discordar porém, atribuir um juízo de valor de tão baixo valor como “absurdos” ou “arbitrários” é um ato parcamente dotado de alguma boa intenção. Posicionamentos críticos e contrários são bem vindos ao processo de construção e melhora desses códigos, mas atribuir à eles a causa das irregularidades ou a não abrangência das legislações ao território por simples capricho é simplista em demasia para a realidade brasileira, inclusive, se quiser frisar, por causa e consequências relacionadas à macroeconomia.
Off topic. É sobre bandeirantes, pichações e a esquerda paulista. “Pichação no Monumento às Bandeiras: arte de esquerda é sujar e cagar
Flavio Morgenstern01/10/2016
A pichação no monumento em homenagem aos Bandeirantes revela duas mentalidades: a que aprende com o passado e a que quer destruí-lo.
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O Monumento às Bandeiras, próximo ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo, foi pichado na madrugada entre a última quinta e sexta-feira (29-30), assim como a estátua do bandeirante Borba Gato, em Santo Amaro, e a sede da Secretaria Estadual da Educação, na República.
As pichações ocorreram logo após o debate entre candidatos à prefeitura na Rede Globo, em que o tema das pichações foi mencionado, com a candidata Marta Suplicy esforçando-se para separar “pichação” de “grafite”, que seria uma “arte”. Litros e litros de tinta rosa, verde, azul e amarela despejados foram despejados sobre o monumento.
Apesar de não ser comentado nas notícias que foram vistas na imprensa, para o brasileiro médio acostumado com o modelo de atuação da esquerda não é difícil imaginar quem estaria por trás de tais atentados criminosos, está uma ideologia política. Tampouco demanda-se que alguém entenda de herméticos e arcanos símbolos de seitas para traduzir o significado de tintas coloridas e a qual corrente ideológica e partidária atendem.
Sede da Secretaria de Educação de São Paulo é pichada com os dizeres “Fora Temer”
De fato, não é possível imaginar que pichações, vandalismo, crimes e alguma forma de emporcalhar uma cidade, custando trabalho e dinheiro de trabalhadores honestos, possa ser feita contra o PT, a esquerda ou o modernoso ideário progressista. Nem era preciso ver as imagens: bastava saber que tal fato ocorreu para saber que o mote vazio “Fora Temer” apareceria em algum momento.
De acordo com a Veja São Paulo, a “pintura” (sic) no monumento “divide opiniões”. Não uma “divisão” como imaginamos ao ler a frase, de 50/50, ou pelo menos, talvez, 70 contra 30%. Quem apóia são pessoas como o ator Caio Blat, que postou em seu Instagram: “Gostei da intervenção. Podiam deixar por uns dias…”.
Já as respostas são escritas com menos eufemismos:
vc achou legal “a intervenção”???? Então disponibiliza verbas para comprar produtos de limpeza e vai limpar você essa sujeira.
Pinte a sua casa, a sua cara a sua vida desse jeito que irá combinar com você ????????
Já que gostou, por que não deixa seu endereço para que pichadores como esses façam uma intervenção na sua casa, ou na de sua família ?
guerrilheiro de iPhone, esquerdinha condomínio fechado, babaca maior
Avá!! @tamarag.bringel além de puxa saca falta-lhe cidadania. Então se sou católico posso destruir uma igreja evangélica!? Larga de ser irresponsável e apoiar vandalismo sua escrota! Independente da sua ideologia, patrimônio público não pode ser vandalizado. Vc é baixa é ridícula, aceita que dói menos. #temerfica#esquerdinhanutella
É obrigação para os atores brasileiros serem ridículos???
O modelo progressista é a faina da destruição do trabalho alheio, da glorificação de qualquer coisa de baixo valor, desde que destrua tudo o que seja considerado velho, ultrapassado ou mesmo “obscurantista”, como monumentos celebrando fatos históricos, e não um futuro sem passado.
Bandeirantes, Tamoios, Anhangüera
O progressismo é hoje pesadamente financiado por instituições globalistas como a Open Society de George Soros, que financia estudos provando, entre outras coisas, que o modelo de gestão da Crackolândia por Fernando Haddad é uma excelente política pública de saúde (sic).
Outra agência financiada por George Soros é a Agência Pública, “agência de jornalismo independente” e “sem fins lucrativos” (sic), que recebeu mais de R$ 1 milhão da Open Society em cinco anos. A Agência Pública tem entre seus curadores a blogueira do El País e da Época, Eliane Brum, e o blogueiro do UOL Leonardo Sakamoto.
Leonardo Sakamoto seguiu o rito do progressismo globalista (adjetivo quase desconhecido da intelectualidade brasileira) e, se criticou a pichação, ou melhor, o “custo alto” da “intervenção”, pelo trabalho gasto (alguém terá de limpar o monumento), por outro lado, subiu no cavalo do seu monotematismo e, pela oitava vez desde quinta-feira, atacou “os bandeirantes”. Para o blogueiro progressista a soldo de George Soros e contra a classe média, algo celebrando os bandeirantes nem deveria existir.
Em um texto extremamente apelativo para o público infanto-juvenil, com jargões galerosos de internet como “Na minha opinião, um povo não precisa de heróis” ou “#prontofalei”, Leonardo Sakamoto diz que a arte “pode ser usada que a história seja passada adiante de forma acrítica, contribuindo com a doutrinação” (!), ou que “[o] fato da (sic) elite de São Paulo tê-los [os bandeirantes] (…) escolhido como heróis diz muito sobre o espírito do Estado” (de novo?), decorrendo-se então que “parte da população encare a tortura como método válido de investigação policial”, considerando então que monumentos a bandeiras são “símbolos construídos para fortalecer uma narrativa histórica por um grupo social que ainda hoje está no poder”.
Leonardo Sakamoto, como se sabe, nunca esteve no poder, nem faz parte da elite. Elite é a dona Jusecreide da faxina, que teve de limpar tudo aquilo, vai à igreja evangélica e é contra o casamento gay. Ela, sim, contribui com a doutrinação.
Para Sakamoto,
Nossos heróis são Domingos Jorge Velho, Antônio Raposo Tavares, Fernão Dias Paes Leme, Manuel Preto, Bartolomeu Bueno, Borba Gato que roubaram, mataram, escravizaram e ampliaram nossas fronteiras como consequência não de algum princípio mais alto, mas da ganância.
É difícil crer que algum paulista considere Raposo Tavares algo além de uma rodovia e pense em Paes Leme sem ser numa atriz global, mas a análise de Sakamoto jura que são estes nossos “heróis”. Todo um estudo, digamos, sério, pode ser demolido simplesmente verificando-se se sua primeira premissa tem algum nano-respaldo na realidade.
CracolândiaDe toda forma, para Sakamoto e sua cruzada anti-Bandeirantes, preferindo sempre viajar pela Anhangüera, os bandeirantes “roubaram, mataram, escravizaram e ampliaram nossas fronteiras como consequência não de algum princípio mais alto, mas da ganância”. Sua premissa menor também é falha: os bandeirantes tinham sim princípios mais elevados do que a ganância. Ainda que não sejam aqueles que Sakamoto glorifica, como “ocupações” (sic) e “crackolândia” (sic).
Se não queremos que “a história seja passada adiante de forma acrítica, contribuindo com a doutrinação”, é bom se entender que os bandeirantes, tão odiados por Sakamoto 39 vezes por semana, são odiados por ele justamente pela “ampliação de fronteiras” e por ajudarem e, literalmente, abrirem caminho aos jesuítas na conversão dos índios.
Como Sakamoto e o progressismo têm o cristianismo como inimigo público número 1, e como o modelo de pensamento progressista não busca encadear pensamentos em silogismos, mas sim em causar uma reação imediata com palavras chocantes (“elite! no poder! tortura! escravizaram! acrítica!”), mesmo que sem coerência nenhuma, passa despercebido a Sakamoto e seus leitores que, por exemplo, quem mais matava e escravizava índios eram, justamente, os próprios índios.
As tribos, afinal, eram guerreiras, e a palavra tem mesmo tal significado, o que é difícil ao pensamento de esquerda e sua cisão absoluta entre significante e significado entender. Os que “roubaram, mataram, escravizaram” os índios, sem precisar de bandeirante nenhum, foram outras tribos indígenas, com o curioso adendo de serem canibais, comendo a carne dos guerreiros inimigos (sem o canibalismo, a angüera, espécie de alma do índio, poderia morrer, sem atingir a terra-sem-mal).
A guerra antes da civilização – guerras indígenasOs bandeirantes, muito mais desprotegidos do que os índios e em número incrivelmente menor, apesar da superioridade de armas, apenas praticaram o modelo de guerra já em voga entre os índios. Não surpreenderia que, caso inventassem o modelo de intervenção militar para instaurar uma “democracia” nas aldeias de pajés, Sakamoto igualmente os criticasse como versões anteriores de George W. Bush. Aliás, não foi muito diferente do que eles fizeram, com os jesuítas logo atrás.
Os jesuítas, com seu odiado cristianismo, aquele que crianças doutrinadas e acríticas aprendem a odiar desde tenra infância nas escolas lobotomizadas por pensamentos como o de Leonardo Sakamoto, converteram os índios justamente sobre um Deus único comum, e não deuses rivais, que faziam com que índios odiassem qualquer pessoa de uma tribo inimiga (e deus inimigo) tão somente por pertencerem a outra tribo. Se Sakamoto quer falar de racismo, poderia analisar, de forma “crítica” e sem ser “doutrinada”, o que é o pensamento tribal, base antropológica do racismo.
Bandeirantes e índios. Se hoje andamos nas ruas de São Paulo e não tomamos uma flechada na orelha tão somente por trocar para o bairro de uma tribo rival, tal se deve aos bandeirantes e jesuítas, a despeito de pessoas com preguiça de pesquisar, mas facilmente impressionáveis e rápidas nas conclusões ao ver uma iconografia de bandeirantes malvados diante dos índios. Nossa paz em São Paulo não se deve ao esquema social dos índios, que foram convertidos por jesuítas como Padre Anchieta e aprenderam que o ser humano é dotado de corpo, alma e espírito, da trindade divina, que não precisavam assassinar seus inimigos por um deus diferente e nem comer sua carne para sua angüera ir para a terra sem mal, que era a bondade e as ações individuais, e não a vitória na guerra contra uma tribo rival que levaria sua alma para uma terra-sem-mal. Digamos, “algum princípio mais alto” do que a ganância de tomar as posses alheias pela guerra.
(ler mais sobre as guerras indígenas no maravilhoso romance de Alberto Mussa, A Primeira História do Mundo, sobre o primeiro homicídio investigado no Rio de Janeiro, como analisamos no nono episódio do Guten Morgen, o nosso podcast.)
Leonardo Sakamoto culpa os bandeirantes por guerrearem como os índios guerreavam, e tem credulidade de que os índios eram simpáticos, tolerantes, amáveis uns com os outros como alguém os amou. Como bons cristãos, dir-se-ia.
Mas, para o pensamento progressista-globalista, tudo é apenas uma doutrinação de frases de efeito acríticas e doutrinadas (exatamente o que Leonardo Sakamoto tenta acusar “o povo paulista”, beirando o discurso de ódio contra um povo, de fazer). Basta gritar “racismo” para que pessoas de esquerda pensem em bandeirantes e jesuítas escravizando índios por não terem alma, enquanto índios estariam se amando entre si. Entre outras bazófias histórias que só se sustentam sem saber o que raios é um bandeirante.
Pichação: ars poetica sakamotiana
Justamente sem ter nenhum ideal mais elevado do que a ganância, seja a visão histórica de Sakamoto ou sua visão sobre arte, tudo é um imanentismo absoluto, o tipo de materialismo mais reducionista, que só vê na matéria algum valor e só vê valor material no que está além de suas impressões imediatas.
Para um modelo de arte materialista-histórico-dialética-sakamotiana, aquela da luta de classes entre bandeirantes e índios, pauparicada na risível idéia de que os bandeirantes sempre estiveram no poder, e não os índios que enterravam e enterram vivas suas crianças gêmeas e deficientes, não há um universalismo de almas inocentes (como de bebês na barriga da mãe) que possam ir para uma terra-sem-mal: todo o universal deve ser realizado por um governo universal que controle e imponha valores que destruam o passado das memórias coletivas. Para que as pessoas pensem “acriticamente”, numa Doutrinação absoluta com D maiúsculo. É o D que substitui Deus.
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Frases de esquerda @FrasesEsquerda
urge ressignificar o espaço urbano
13: 48 – 30 set 2016
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Para essa mentalidade que vai da estética à ética, a destruição de um monumento, ainda que modernista, é apenas purificar o presente da terrível presença dos mortos e da história. Tudo deve ser substituído pela crença moderna no progressismo global.
Esta arte, que só tem matéria bruta e corporificação absoluta, medindo de fetos a monumentos tão somente por sua capacidade de uniformizar as mentes para o controle corporal total e totalitário, qualquer manifestação que destrua o “obscurantismo” da família, de religiões contrárias ao Estado total, da universalidade da alma e não do corpo, só pode ser criticada também pelas suas conseqüências materiais, como alguém ter de limpá-la depois.
Fernando Haddad grafita Pato Donald em muroA arte que resta é a pichação, a “intervenção”, a destruição. É o credo do futurismo, que pretendia destruir as pontes, edifícios, praças, a arte clássica italiana e, claro, as igrejas para construir algo novo do zero. Os futuristas defendiam um modelo totalitário, o fascismo, além de querer expulsar as mulheres da vida pública. O fascismo não vingou, mas o neo-futurismo se reinventou, defendendo totalitarismos sem precisar citar seus nomes.
Para essa mentalidade, que obedece não mais a “princípios mais elevados”, só conseguindo olhar para a matéria imanente, toda a obediência é à destruição do que mantém a ordem social funcionando, sem crenças no Leviatã moderno globalista, com aborto, drogas e afins.
Fazer cocô em público no MASP contra Bolsonaro não é digno de críticas: apenas o povo paulista é criticável. Ficar nua e depilar a perereca em público defronte a outro museu de arte moderna, com velhinhas e crianças na “platéia”, tampouco é criticável: o problema é honrar bandeirantes. Fazer centopéia humana com seres humanos enfiando seus dedos no roscofe alheio não é ausência de “princípios mais elevados”: “ampliar as fronteiras” e ensinar universalidade divina o é. E enfiar gelo e garrafas de vinho no culito ainda não é, digamos, “ganância”: é apenas o valor materialista sem o “obscurantismo” do atrasado povo paulista.
Se quer uma mentalidde com “princípios mais elevados”, talvez Sakamoto devesse rejeitar ser financiado por George Soros “sem fins lucrativos” e observar algo realmente de valores elevados. Talvez a Notre Dame ou a Capela Sistina. Não são “intervenções”: são arte. Não precisam do eufemismo dos progressistas, que nunca descrevem a realidade com termos precisos.
São estes os dois tipos de mentalidade que estão “dividindo” São Paulo, segundo a Veja São Paulo. Para que os jovens saibam distinguir qual a melhor, talvez seja necessário terminar com #prontofalei”
Veja também: Não é você que pensa o que pensa: George Soros pensa por você: http://sensoincomum.org/2016/08/22/guten-morgen-george-soros-pensa-voce/
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Flavio Morgenstern
Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro “Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs” (ed. Record). No Twitter: @flaviomorgen
Errata: onde está escrito ‘apuperização’ leia-se pauperização.
Meu caro Anthony Ling, defendo a ideia das pessoas mais humildes morarem lá no interior do país, bem longe das metrópoles por uma razão que não pode ser medida em nenhum estudo científico: a felicidade. Como nordestino que sou, posso afirmar, escrever, assinar e reconhecer firma em cartório que os nordestinos que lá estão são infinitamente mais felizes que os milhões de infelizes que vivem amontoados e levando uma vida de cão aqui em São Paulo. Lembrando Euclides da Cunha no célebre Os Sertões: ‘o nordestino ama o nordeste e não sabe viver sem ele’. É uma verdade irrefutável. Porém, você tocou em um ponto crucial: a questão da água. Graças à ação da ASA – Articulação do Semi- Árido – o NE está vencendo a seca com medidas simples e baratas como captação de água de chuva e armazenamento em cisternas. Aliado ao programa de crédito à agricultura familiar e ao empreendedorismo, o Luz para Todos está levando luz elétrica ao outrora esquecido semi-árido. Precisamos lembrar também das boas ações de valorização da cultura local, o que vem ajudando as famílias nordestinas a darem valor a si mesmas e fixarem-se naquela região (a propósito, veja a programação da TVT e algumas reportagens do Globo Rural) Caso contrário, a solução para aquelas famílias seria a migração rumo às grandes cidades do sudeste agravando o problema da superpopulação. Eu falei problema mas hoje a apuperização das metrópoles é vista como solução pela classe política, como já destaquei. Entretanto, água é um recurso finito. Precisamos ser realistas e encarar os números. Caso contrário, não haverá água suficiente para todos daqui a 50 anos e São Paulo será de fato o novo NE, o NE do começo do seculo 20. Estaremos então aqui eu e você discutindo a transposição do rio Amazonas para São Paulo. Se olharmos para a metrópole abarrotada de gente, é uma solução. Porém, se abrirmos a mente e afastarmos o zoom olhando para o país veremos que a concentração populacional é um erro. Abraço.
Celso P, muito obrigado por mais uma ótima troca de ideias.
Acredito que grande parte da nossa discordância parte da premissa de que você acha que sabe o que é bom para as pessoas mais do que as próprias pessoas. Você acha que quando uma pessoa se muda de uma cidade pequena, no interior, para uma cidade grande, ela está tomando uma decisão ruim, então você quer impedir que ela faça isso. Aliás, você considerou isso uma verdade irrefutável e universal. Eu penso muito diferente. O que ocorre, de fato, é que centenas de milhares de pessoas pessoas que moram no interior do país estão de fato se mudando para cidades grandes justamente para procurar mais oportunidades que cidades pequenas não tem condições nem escala para oferecer. Esta ação realizada por elas próprias representa muito melhor as suas vontades do que uma premissa que Celso P acredita ser verdadeira. É por este motivo que eu gostaria que os centros urbanos fossem mais abertos e receptivos, para se transformar para abraçar cidadãos que buscam a vida na cidade grande.
Quanto à água, não entendi o seu comentário. O custo de saneamento e distribuição de água diminui a medida que aumentamos a densidade demográfica. Se as pessoas estiverem espalhadas no país este custo aumentaria significativamente.
Abraços!
Grato pela sua réplica Anthony, mas mantenho minha opinião. O governo deveria sim remover aquelas famílias dando-lhes outro local para morar mais próximo do centro. Mas isso nunca vai acontecer porque a maneira dos governos governarem não é resolvendo problemas mas perpetuando-os. Afinal, é desses imensos bolsões de pobreza que eles extraem seus votos. Ficam porém algumas perguntas para a reflexão: por que dar moradias para essas pessoas em uma cidade saturada e tão difícil como São Paulo quando sobra espaço no país? Em vez de pregar o tal ‘direito à cidade’ que incentiva a concentração populacional e migração raiz de todos os problemas que afligem as metrópoles, não seria mais honesto falar em ‘direito ao país? Lembrando que água é uma das poucas coisas que não podem ser fabricadas pelo homem, como ficará a questão do abastecimento de 20 milhões de bocas se sofrermos mais duas secas consecutivas futuramente? Com a palavra o governo federal que criou o inútil Ministéria das Cidades e o inerte Ministério da Reforma Agrária.
Olá Celso P, muito obrigado por mais um comentário.
Você está usando os argumentos “antiurbanos” que eram muito comuns no início do século passado, pelo que eu entendi criticando o adensamento populacional em zonas urbanas e incentivando o alastramento da população pelo território nacional. Não entendi muito bem como você pode ser contra o alastramento da mancha urbana e contra o adensamento populacional ao mesmo tempo, dado que espalhar as pessoas no território é justamente isso.
Você pergunta: “por que dar moradias para essas pessoas em uma cidade saturada e tão difícil como São Paulo quando sobra espaço no país?”, porque sou justamente contrário ao espalhamento das pessoas no território de forma artificial. Acho que se há demanda para morar em um determinado local a cidade deveria poder responder com oferta abundante de moradia justamente para possibilitar a moradia adequada destas pessoas. Concentração populacional significa não só que as suas demandas estão sendo respondidas mas também um ganho de eficiência no uso de infraestrutura e no consumo de recursos naturais. Estudos do Santa Fe Institute já comprovaram matematicamente o ganho de eficiência de cidades analisando milhares de casos de cidades do mundo inteiro em todas as escalas. Ou seja, muitos problemas que eram apontados em teoria no início do século passado hoje foram desmistificados por um estudo mais científico e embasado em dados das cidades. Você fala em abastecimento de água, mas é muito mais difícil distribuir água por todo território nacional do que em uma única cidade: é este o ganho de eficiência que as cidades oferecem.
São Paulo não é uma cidade saturada – a sua densidade populacional nos centros é menos da metade de cidades como Nova York ou Hong Kong. É apenas uma questão de como a cidade responde com oferta habitacional e infraestrutura adequada.
Abs!
Não entendi. Se o governo promover a regularização fundiária dessas ocupações – ilegais, é bom lembrar – não estará jogando a toalha? E o meio ambiente, as matas que foram perdidas, a água que está acabando, como é que ficam? E o espraiamento da mancha urbana, não é algo a ser combatido? Penso que já que é impotente, o governo deveria convidar as grandes construtoras para sentar-se à mesa e discutir planos para a cidade. Por exemplo, a construção de bairros mistos nas APM. Isso evitaria o processo de gentrificação da classe média que por falta de opção vai morar lá no km 100 da Castelo Branco mas continua trabalhando na capital. O resultado é o que vemos todo dia de manhã na chegada a São Paulo: um inferno.
Olá Celso P,
Quanto às matas que foram perdidas, infelizmente isso não é recuperável. Eu entendo que devemos olhar para a realidade dos 11 milhões de brasileiros que vivem em tais condições excluídos da formalidade e sem acesso ao mercado habitacional formal. Devemos, na medida do possível, trabalhar para integrar estas pessoas à realidade do restante da sociedade. A regularização fundiária é um processo onde, na prática, ninguém sai perdendo: apenas se modifica a estrutura institucional para potencializar e melhorar estruturas urbanas e sociais que, de fato e na realidade, já existe.
O espraiamento da mancha urbana deve ser combatido sim, possibilitando mais e mais oferta de moradia em regiões centrais. Justamente por isso o motivo do artigo sobre o Jardins que você está comentando. O espraiamento da mancha urbana NÃO deve ser combatido destruindo e expropriando comunidades já existentes, mesmo que em periferias de áreas urbanas.
Por fim, o processo do governo convidar grandes construtoras para definir planos para a cidade é extremamente perigoso. Perigoso porque tal relação corporativista não busca benefícios para a cidade como um todo mas para os agentes que estão acordando entre si, sem considerar o benefício para o grande público. É fato que, para a grande construtora, se o poder público expropriar centenas de milhares de pessoas de áreas informais para a construção de uma obra ela sai ganhando. No entanto, há um caminho muito mais justo onde todos saem ganhando: concede-se propriedade para tais moradores que, na prática, são os ocupantes da área e cria-se uma estrutura regulatória que permite que tais incorporadoras possam prestar serviço e desenvolver a região de forma descentralizada, beneficiando os moradores na transação e não os expropriando.
SÓ NÃO DERRUBEM AS ÁRVORES, POR AMOR
Por que não deixam os Jardins em paz e vão construir bairros mistos nas ex-áreas de proteção aos mananciais? A resposta parece simples mas não é. Primeiro porque é mais politicamente correto atacar a burguesia paulistana descendente de ‘bandeirantes assassinos de índios’ e outras diatribes do que mexer com os pobres coitados das favelas que ocuparam e destruíram as APM. Segundo porque as APM são regidas por lei estadual. Governo do estado e prefeitura não se falam, uma vez que pertencem a partidos opostos. Terceiro porque a densidade nas favelas é medida em eleitores/m². Quem é louco de mexer ali e perder milhões de votos? Quarto porque, em política é mais vantajoso perpetuar problemas que resolvê-los. Político adora falar em ‘destinação de verbas’ milionárias para mitigar esse ou aquele problema de forma pontual enquanto a cidade perece. São Paulo sempre foi vista como uma gigantesca Serra Pelada urbana. Para muita gente, a cidade é um excelente lugar para ascender politicamente ou ganhar rios de dinheiro. A cidade? Que pegue fogo, ora. É assim que muita gente pensa.
Oi Celso P, obrigado pelo comentário!
Áreas periféricas normalmente são menos demandadas do que áreas centrais, ou seja, é mais crítica a falta de adensamento construtivo em áreas centrais do que em áreas periféricas. As áreas periféricas ocupadas irregularmente tem densidades demográficas mais altas justamente porque falta adensamento construtivo e oferta imobiliária nas regiões centrais.
Essas “ex-áreas de proteção” também são, ainda, oficialmente áreas de proteção e ocupadas por comunidades estabelecidas. O processo de regularização fundiária e titularização de propriedade é extremamente complexo mas, ao meu ver, indispensável.
O artigo se baseia em uma lógica econômica real – a da oferta e procura – e acertada, mas isto não é suficiente. Se estivermos pensando na migração de moradores devido a ampliação da oferta de imóveis para os Jardins e, por conseguinte, de outros moradores para os imóveis dos que migraram primeiro e assim sucessivamente, sim, nós teríamos uma melhoria no acesso à infraestrutura urbana. No entanto, tudo pode ser corrompido pela cultura… Se os passeios urbanos (calçadas) não forem preservados e, pelo contrário, ‘liberados’ para serem ocupados por mais imóveis que diminuam os recuos vigentes teremos este padrão minimalista de cidade comum em áreas menos nobres. Portanto, mesmo que se aponte pela flexibilização dos zoneamentos, eles ainda são necessários para facilitar a circulação e o desenvolvimento do mercado urbano porque NÃO EXISTE mercado sem estado. Analogamente, não existe cidade livre sem regulamentações.
Não acho que as pessoas devam ser convocadas para “lutar” contra determinados moradores de determinados bairros de uma cidade. Esse texto pretende apoiar uma visão de um empreendimento, tentando abarcar todas as suas nuances, ou quer promover luta de classes? Essa postura é ridícula, inaceitável, sob qualquer ponto de vista.
No mais, a mudança de zoneamento se escora sempre num suposto “se”, por exemplo, 1) se abrir mais vagas para moradores na região central, 2) causará um efeito cascata empurrando as pessoas mais para a região central. Discordo. Logicamente, é impossível promover a debandada urbana plena rumo ao centro, sobretudo porque mesmo que esses Jardins tenham suas densidades alteradas, os imóveis se manterão caros como sempre. Se existirá uma “democratização” do espaço urbano, ela será para benefício único e exclusivo dos… mesmos RICOS de sempre. Ou será que forçar a densidade populacional nesses bairros reduzirá o preço da moradia? Cascata.
Oi Lucas, obrigado pelo comentário!
A intenção do uso do termo “luta” não foi, de forma alguma, uma promoção de luta de classes. Peço desculpas se pode ter ficado confuso. A “luta” da elite paulistana do Jardins significa, aqui, um grande esforço organizado defendendo um determinado interesse, que é o que ocorre de fato. Eu entendo que a palavra “luta” pode sim ser usada nesse significado, ao exemplo da frase genérica “vamos lutar – ou batalhar – para que isso aconteça”.
Quanto ao zoneamento: caso o Jardins flexibilizasse seu zoneamento a “possibilidade” de que ele seria adensado seria tão grande que poderíamos considerar uma certeza absoluta. Nesse caso, a entrada de milhares de pessoas na região seria, de fato, uma aproximação de habitantes à região central. Isso não é, de forma alguma, “forçar” a densidade populacional. Aliás, densidade populacional dificilmente pode ser aumentada “à força”, já que migração urbana depende de pessoas voluntariamente comprando imóveis em uma determinada região. Estou desconsiderando, aqui, um movimento onde o governo coage ou obriga as pessoas para morarem uma determinada região usando a força da polícia, o que já aconteceu (ou ainda acontece) em regimes ditatoriais comunistas, já que não vivemos sob essa realidade. O que pode acontecer no Brasil é “forçar” a restrição do adensamento, mas não o contrario.
Abraços,
Anthony
Eu acho essa visão de “democratizar” o espaço público um pouco forçada, é mais um pensamento de ideologia socialista, do que a técnica urbanista. E não faz sentido porque é provável que as construtoras tem um lobby pesado na câmara municipal pra mudar a lei de zoneamento ali, que vai virar uma mina de ouro se fora liberada a construção de edifícios. Logo não vejo interesse público nisso, apenas continuará segregada e cara em função da óbvia demanda. Pode ser que esses bairros na verdade já não atraem mais, com proprietários loucos pra passar pra frente, cansados de manter tanto espaço grande. Mas é o mercado é que dirá, e ali tá com cara que vai ser um espaço estrategicamente atraente para empreendimentos de alto padrão. E quero ver como vai ficar o trânsito se juntarmos os caóticos Itaim Bibi e Jardim Paulista já que nem se vislumbra ali uma linha de metrô.
Olá! Muito obrigado pelo seu comentário. Fiquei com algumas dúvidas, no entanto: o adensamento do espaço é forçado e por ser um pensamento socialista ou há, de fato, uma óbvia demanda para adensar o espaço? Não entendi essa parte do seu comentário.
No entanto, discordo de que é “o mercado que dirá”: este é o cerne do artigo, de que existe a demanda de mercado mas que ela não é possível (há muitas décadas) de ser implementada por causa da legislação. Já conversei com inúmeros incorporadores de São Paulo e eles não vêem a menor possibilidade de mudar essa restrição, nem está no seu radar de tão longe suas chances.
Quanto ao trânsito, também foi um ponto tocado no artigo: a distância entre pessoas e atividades vai diminuir, não aumentar, diminuindo a dependência do carro e viabilizando obras como linhas e estações de metrô. Da forma que está, com baixíssima densidade e caminhabilidade, não faria o menor sentido instalar uma estação de metrô.
Abs!
Se interessar, veja: http://www.cartasabertas.com
Meu caro, veja a foto da Rua Espanha que você postou e veja-a novamente uns dois anos depois, caso essa Lei seja aprovada.
OU, veja a Rua Estados Unidos, próximo ao número 400. O comércio destrói o verde com estacionamentos, vagas para carros, trânsito, ampliações… Mas aí já será tarde demais e você vai poder passear nessas áreas desertificadas que você está promovendo.
Preocupe-se em levar o verde para os bairros pobres, que precisam. As pessoas, ricas ou pobres, tem o direito de viver num local agradável.
Gostaria também de falar que : as mesmas pessoas que não conseguem entender que uma cidade como São Paulo, que há muito tempo não é mais industrial , precisa urgente mesclar seus usos .
Que as mesmas pessoas quando viajam para o exterior querem estar em hotéis bem localizados , isso quer dizer , perto dos restaurantes, teatros, cafés, lojas etc..
Mas aqui , not in my backyard !
Gisele Rozemboim, muito obrigado pela colaboração! Comentários perfeitos, muito legal ver cidadãos tão bem informados sobre o tema.
Abs!
Matéria esclarecedora, não é de hoje que esse assunto cria polêmica , todas as vias em questão são bem conhecidas , problemas antigos , que muitos não querem ver resolvidos.
Em particular gostaria de escrever sobre a Alameda Gabriel Monteiro da Silva , trecho Faria Lima / Rua Hungria, esse trecho vem sendo discutido e pontuado como residencial por pessoas que não conhecem o trecho.
Esse trecho em 2004 foi classificado como corredor de serviços e não mais residencial, mas mesmo assim o trecho não se mantém.
Desde então a Alameda vem decaindo á olhos vistos , por causa das restrições de uso imposto pela ex administração Municipal , mas dando liberdade para o comércio no trecho Faria Lima/ Rebouças , uma mesma via com 2 zoneamentos diferentes !!!!
A falta de segurança já atinge os imóveis vagos , um deles já foi invadido , pois não são mais economicamente viáveis e seguros pelos seus próprios meios.
Hoje esse trecho é um mero fantasma do que já foi um dia em termos urbanísticos e de valor imobiliário.
Seria também interessante se possível, sabermos quantos imóveis estão inadimplentes ( IPTU) , por essa mesma restrição de uso.
A borda do bairro, como os conhecidos urbanistas gostam de citar, já conta com 3 esqueletos , um deles um prédio está invadido por 160 pessoas .
Parabéns pela matéria e pelas respostas sempre educadas aos comentaristas de boteco de plantão nem sempre tão educados.
Pessoal que ainda vive na ladainha de “pago mais posso mais!”
Obrigado, Adriano!!!
Moro num bairro misto e amo. Do lado do condominio de casa (lindo e arborizado) em que vivo, há um hortifruti, ao qual vou a pé, bem como farmácia, cabeleireiro, padaria, restaurantes e até escola. Colégio Santa Maria (um dos mais arborizados da cidade) Minha filha sempre foi a pé para a escola!. Já morei na Europa ,em Amsterdã e lá era assim. Simples assim. Todos convivendo harmoniosamente. Casas e comeércio. Em zonas mais residenciasi, priorizar comércio de BAIXO impacto e prestação de serviços que não causem incomodidade.,como consultórios ,por exemplo. Em grandes avenidas, comércios maiores…Descentralizar sim. Diminuir locomoção e poluição, sim,por favor!. Nada de lutas. Sim ao diálogo. SEMPRE!
Oi Audrey, obrigado pelo comentário! Sim, nós também gostamos do uso misto de bairros, mas é importante notar que eles surgem naturalmente, não precisam necessariamente ser incentivados nem restritos. Como mostra a economista Emily Washington neste artigo, até mesmo bairros industriais podem ser auto-organizados baseados no preço dos terrenos: https://caosplanejado.com/como-o-preco-dos-terrenos-faz-com-que-o-zoneamento-seja-desnecessario/
Abs!
Excelente a forma da colocação do problema. A cidade é óbviamente um organismo vivo todos devem se adaptar às mudanças, mais ainda em um período de quase um século. Uma pequena parcela da população, reacionária e com visão tacanha, esperneia de forma pouco educada sobre o óbvio. O interesse individual não pode se sobrepor ao interesse coletivo.
Obrigado pelo comentário, Mauro!!!
Anthony,
Parabéns pelo artigo. Embora não seja nenhuma novidade para urbanistas, o volume de distorções e mentiras propagadas por algumas associações de bairro pauta a discussão em cima de premissas erradas.
Pra quem reclama do ‘IPTU mais caro da cidade’, imagina então nós proprietários de imóveis fechados e ociosos na Avenida Europa e na Gabriel Monteiro. Nada é mais caro do que o IPTU que incide sobre um imóvel que não consegue cumprir sua função social. Existem casas fechadas a 5-6 anos a procura de locatários, afinal quem quer morar na Gabriel Monteiro com seu zoneamento ZER?
As associações de bairro reclamam muito, no entanto não oferecem RESPOSTAS para perguntas simples. Somos tão cidadãos quanto os demais moradores, e não aceitamos mais perdurar numa situação de quase confisco, onde não podemos usar nossos imóveis, onde somos usados pelo resto do bairro como um ‘escudo’ para as vias de maior trânsito.
Em nenhuma outra cidade do mundo existem áreas unifuncionais no meio da cidade.
Parabéns!
Obrigado, Gabriel! Na verdade existem sim casos com áreas monofuncionais em meio à zona urbana, mas não é algo muito comum… e constantemente tem operações comerciais irregulares, como o próprio caso dos jardins!
“se fosse proposta uma densidade ainda mais democrática”… que ideia mais esdrúxula é essa? Democratizar a densidade demográfica? Faça-me o favor…
Quem deve decidir as alterações do bairro são os seus moradores, aqueles que pagam impostos proporcionais ao que o bairro tem de valor agregado. Caso contrário, estarão passando por cima do indivíduo e das concepções originais dos locais. Tudo que é individual é ruim ou criminoso? Não. Pode tudo em nome de uma suposta coletividade? Creio que não. Permitir uma interferência dessa magnitude seria autorizar o Estado, mais uma vez, a agir como um ditador que manda e desmanda, relevando assim os interesses individuais daqueles que pagaram com SEU DINHEIRO cada metro quadrado que adquiriram no bairro.
Claiton, obrigado pelo comentário!
Na realidade, quando ocorreu a compra do terreno não havia nada que garantisse que o local seria protegido pelo desenvolvimento da cidade de forma indefinida. O município poderia, inclusive, desconsiderar completamente o regramento do loteamento após a construção das primeiras casas. O que deveria ser seguido é que a primeira edificação deveria seguir aquelas regras, apenas isso.
O que ocorre hoje é exatamente isso: o Estado mandando o que deve ser feito em propriedade privada, absorvendo uma regra inicial de um loteamento que não deveria ter feito desde o início. O Estado não está mandando que seja feito outras coisas lá: os moradores tem total liberdade de fazerem um contrato privado, entre si, para manterem a configuração do bairro independente do poder municipal. É claro que, dada o custo de oportunidade financeira de uma flexibilização regulatória em nível municipal, muitos moradores não assinariam este contrato. Ou seja: estes moradores que mudariam de ideia, adensando ou trocando o uso do seu terreno, estão sendo restritos pelo poder estatal às custas dos demais.
Releia este texto tendencioso: “Trará benefícios para a cidade…A população DEVE LUTAR contra este pequeno grupo de pessoas que são sim, moradores, mas não donos da área, pessoas que pedem pela exclusão do resto da cidade da região dos Jardins…Então, respondendo a pergunta “a quem interessa o fim das zonas exclusivamente residenciais?”: à cidade de São Paulo”. Não, esta resolução não interessa a “cidade de São Paulo”, esta solução apenas estragaria e descaracterizaria um dos bairros mais belos da cidade de São Paulo. O autor que não é “dono da área” para determinar o que é melhor para seus moradores e muito menos dono da verdade e opinião pública. Tirar a identidade do bairro não faria nenhuma diferença positiva na vida dos milhões de brasileiros “da classe trabalhadora”. Este artigo me lembra os discursos chulos e demagogos do PT, puramente tendencioso e infundado defendendo interesses próprios inconseqüentes que estão destruindo a cidade e o país para beneficiar meia dúzia de babacas.
Oi Elie! Obrigado pelo seu comentário.
Entendo sim que a mudança da lei beneficiaria sim a cidade de São Paulo, que hoje não aproveita em nada esta suposta beleza do Jardins: apenas os moradores tem esse benefício. Os motivos foram claros, explicitados no texto: permitir o aumento da densidade demográfica, a produção de moradias em áreas centrais, a diminuição de deslocamentos, o aumento da caminhabilidade, a viabilidade de redes de transporte coletivo, o benefício ao ambiente geral da cidade. Você pode não concordar, mas gostaria de ouvir seus argumentos contrários à essas colocações, pois no seu comentário você só mencionou a sua impressão subjetiva ao tom que você interpretou do meu discurso, e não aos fatos apresentados.
Att