Via Costeira: um apagão urbano à beira-mar em Natal

26 de junho de 2025

A Via Costeira de Natal, oficialmente Avenida Senador Dinarte Mariz, é uma das mais emblemáticas da capital potiguar. Inaugurada em 1985, ela se estende por 9 km entre as praias de Areia Preta e Ponta Negra, margeando o Parque das Dunas e o Atlântico. Um cenário de beleza incomparável — e ainda assim, marcado pelo silêncio urbano.

Apesar de seu potencial paisagístico e turístico, a Via Costeira permanece desconectada da vida de Natal. É um território onde os natalenses raramente circulam, sem fachadas ativas, sem usos mistos, sem praças. Sem gente. Um “apagão” urbano: nem uso, nem vitalidade. Um lugar de passagem, e não de permanência.

Esse vácuo tem consequências. Uma cidade que vira as costas para sua orla perde em pertencimento, identidade e oportunidades econômicas. Deixar a Via Costeira como está é desperdiçar uma das áreas mais valiosas e simbólicas da capital potiguar.

Mas o cenário pode mudar. O novo Plano Diretor de Natal, sancionado em 2022, classifica a Via Costeira como Área Especial de Interesse Turístico e Paisagístico (AEITP). A categoria abre caminho e dá a base para pensar uma ocupação qualificada da via — que integre paisagem, turismo, economia e cidadania.

O desafio agora é traduzir essa intenção em ação. E isso passa, necessariamente, por ocupação. Ocupação com critérios, claro: respeitando a zona costeira, o Parque das Dunas, e as regras de urbanismo. Mas ocupação, sobretudo, com presença humana: com feiras, quiosques, praças, bares, calçadas caminháveis e vivas, usos mistos que convidem as pessoas a viver a via, e não apenas vê-la pela janela do carro ou do ônibus.

Não se trata de repetir erros do passado nem de construir sem critério. Trata-se de ativar socialmente um espaço estagnado. Um bom exemplo vem de Salvador, onde a Orla do Porto da Barra passou de ponto degradado a área viva e democrática, com requalificação urbana, incentivo ao uso público e estímulo a comércios locais. Em Miami Beach, o que antes era uma faixa esquecida foi transformada em um dos calçadões mais emblemáticos do mundo, com uso misto e forte presença de pedestres, ciclistas, hotelaria e comércio. Natal pode — e deve — buscar caminhos semelhantes.

Hoje, em um momento em que tantas cidades tentam se reconectar com seu litoral, Natal já tem uma orla pronta — só falta ser ativada. A Via Costeira não precisa ser museu nem monumento. Precisa ser cidade. Precisa de gente. Precisa ser devolvida aos natalenses.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e urbanista, especialista em Gestão de Projetos e mestre em arquitetura pela UFRN. Atualmente é sócia da PSA Arquitetura em São Paulo e da PYPA Urbanismo & Desenvolvimento Urbano em Natal-RN. ([email protected])
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