Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar o conteúdo. Saiba mais em Política de privacidade e conduta.
Em janeiro deste ano, a página do Senado Federal no Facebook publicou uma imagem divulgando a regulamentação de multas a pedestres e ciclistas que cometerem infrações de trânsito. De acordo com a publicação, a medida serviria para “reforçar a segurança da população nas vias públicas”. As punições, que passariam a valer a partir deste mês, foram adiadas para abril de 2019.
A multa será aplicada ao pedestre que ficar no meio da rua ou atravessar fora da faixa, da passarela ou da passagem subterrânea. Para o ciclista, a medida é mais arbitrária: além de não poder andar na calçada, o ciclista que guiar de “forma agressiva” e pedalar sem as mãos também está sujeito a receber sanções de até R$ 130,16.
Isso é uma quebra da hierarquia de “menor para o maior” do Código de Trânsito brasileiro, onde o pedestre tem preferência na via sobre o ciclista que, por sua vez, tem preferência sobre o automóvel. O foco da preocupação da segurança nas vias públicas deveria estar exatamente na mudança de comportamentos que a nova regulamentação de multas para pedestres passa a sancionar. Só na cidade de São Paulo, pedestres totalizam 45% das mortes em acidentes de trânsito, um índice desproporcional à sua presença cotidiana nas ruas da cidade.
A regulamentação também dificulta ainda mais a já prejudicada caminhabilidade das cidades brasileiras e acaba mais uma vez incentivando o uso do automóvel individual — que, como já comentamos em uma sériede artigosaqui do site, tem sido subsidiado de forma indiscriminada como única solução de mobilidade no Brasil.
Uma observação realista do comportamento dos pedestres e dos ciclistas pode prever um desrespeito diário à nova regulamentação: semáforos permitem, a cada 2 minutos, 15 segundos para pedestres atravessarem, faixas de pedestres e para ciclistas são desrespeitadas por motoristas, e passarelas são não apenas escassas mas um grande esforço e desconforto no deslocamento do pedestre (para não dizer inviável para ciclistas e cadeirantes).
Como já referimos aqui no Caos Planejado, os planejadores de transporte e os decisores públicos raramente andam a pé ou de bicicleta, então é possível que a nova regulamentação venha de uma visão enviesada a favor do automóvel. No entanto, essa nova multa é outro atestado da incapacidade das gestões públicas em melhorar o acesso, a segurança e o trânsito para ciclistas e pedestres.
Sua ajuda é importante para nossas cidades. Seja um apoiador do Caos Planejado.
Somos um projeto sem fins lucrativos com o objetivo de trazer o debate qualificado sobre urbanismo e cidades para um público abrangente. Assim, acreditamos que todo conteúdo que produzimos deve ser gratuito e acessível para todos.
Em um momento de crise para publicações que priorizam a qualidade da informação, contamos com a sua ajuda para continuar produzindo conteúdos independentes, livres de vieses políticos ou interesses comerciais.
Gosta do nosso trabalho? Seja um apoiador do Caos Planejado e nos ajude a levar este debate a um número ainda maior de pessoas e a promover cidades mais acessíveis, humanas, diversas e dinâmicas.
Estruturas como bancas de jornal e os quiosques possuem muitos desafios de gestão e regulamentação. Como podemos explorar o potencial dessas estruturas e, ao mesmo tempo, garantir que elas não prejudiquem os espaços públicos?
Após uma história conturbada, o bairro Rodrigo Bueno, em Buenos Aires, teve resultados transformadores com uma estratégia que inclui a colaboração e a tomada de decisões em conjunto com os moradores.
Como as esquinas, esse elemento urbano com tanto potencial econômico, cultural e paisagístico, podem ter sido ignoradas por tanto tempo pela produção imobiliária em São Paulo? É possível reverter essa situação?
Enquanto Nova York adia seus planos para reduzir o congestionamento, o sucesso de políticas de taxa de congestionamento em outras cidades prova que essa medida não é apenas inteligente — é popular.
As intervenções em assentamentos precários em bairros de maior e menor renda mostram que a política pública se dá de maneira distinta. Cabe questionarmos: o que leva a esse cenário? Quais forças devem influenciar a decisão de se urbanizar favelas em certos bairros e não em outros?
A transformação da cidade de Medellín teve como inspiração um projeto brasileiro, mas é difícil reproduzir o modelo colombiano para obter resultados semelhantes aqui.
Nem tudo o que é prometido em termos de infraestrutura e serviços acaba sendo entregue pelas intervenções. Já a sensação de segurança, endereçada indiretamente pelas obras, pode aumentar, apesar de os problemas ligados à criminalidade persistirem nas comunidades.
COMENTÁRIOS