Bairros nunca tiveram o propósito de serem imutáveis
As mudanças nos bairros e nas cidades ao longo dos anos é natural e tentar impor restrições para elas é um equívoco.
Das comunidades brasileiras às cidades soviéticas. Confira nossa lista de séries sobre cidades.
22 de junho de 2020Embora represente, pelo menos, 11 milhões de brasileiros, de acordo com o IBGE, a realidade das favelas brasileiras, com seus desafios e ambições, é desconhecida por muitos que vivem fora dela. A primeira indicação da nossa lista de séries sobre cidades é produzida pelo KondZilla, famoso produtor e empresário brasileiro, conhecido principalmente por lançar inúmeros músicos de funk. Nela, a dinâmica social entre cultura, instituições religiosas, pequenos empreendedores e mesmo o tráfico é representada na história de três adolescentes de uma favela fictícia de São Paulo. Apesar de dramatizada, a trama é embasada na realidade, ao ponto de um dos personagens, o Doni, que busca uma carreira no funk, ser interpretado pelo MC Jottapê, que, na vida real, é um dos músicos produzidos pelo KondZilla. A cidade informal é a que concentra os maiores desafios de cidades brasileiras, e esta série é mais uma oportunidade para compreendê-la.
“Se você imaginar um momento qualquer em uma esquina em Nova York, e pausar em um farol, e algumas pessoas estão paradas e outras estão em movimento, alguns carros estão parados e outros estão em movimento… se você congelar essa cena e parar tudo por um segundo, você perceberia que há todo um universo ali de intenções totalmente diferentes, cada um cuidando das suas coisas, no silêncio das suas próprias vidas com todo o resto, e a rua, e a hora do dia, e a arquitetura, e a qualidade da luz e a natureza do tempo como um pano de fundo, ou campo, para a consciência individual e o drama que está se fazendo naquele momento. Quando você pensa nisso, é o que acontece numa cidade, e de alguma forma a cidade pode abraçar, aceitar e acomodar todas aquelas intenções diferentes ao mesmo tempo, não apenas em uma esquina mas em milhares de esquinas.”
É este depoimento que abre esta série documental sobre a cidade de Nova York, cobrindo “400 anos e 400 milhas quadradas” da história da cidade. Iniciando em 1609 com o início da ocupação do sul da ilha de Manhattan, a série documental traz depoimentos, documentos, mapas, livros e histórias dos personagens e momentos que marcaram a história da cidade.
Nela aparecem figuras emblemáticas, como os ex-prefeitos Ed Kock e Rudolph Giuliani, o ex-governador Mario Cuomo (curiosamente pai de Andrew Cuomo, atual governador de Nova York), o historiador Robert Caro, autor do emblemático livro “The Power Broker: Robert Moses and the Fall of New York” e inclusive Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, à época, fazendo seu depoimento como incorporador imobiliário na cidade.
A maior parte do documentário foi produzido antes dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, com o último episódio, “The Center of the World”, sendo produzido em seguida, contando a sequência de eventos que levaram aos ataques assim como o efeito simbólico na cidade nos tempos seguintes. A mini-série da PBS foi dirigida por Ric Burns, também conhecido por ter produzido a série “The Civil War” com seu irmão mais velho Ken Burns, por sua vez conhecido por uma longa lista de séries documentais, como da história do jazz.
Para gravar “Parts Unknown”, o irreverente ícone da gastronomia mundial tinha carta branca: ele podia ir para qualquer lugar, comer o que ele quisesse e falar o que bem entendesse. Enquanto a comida é a linha guia na temática da série, Bourdain viaja pelo mundo mostrando diferentes culturas e formas de viver, chamando atenção principalmente para a transformação urbana nas cidades que ele visita. Amante da comida de rua e da gastronomia local, os pequenos comerciantes e restaurantes estão intimamente ligados às transformações urbanas e culturais pelas quais essas cidades passam ao longo do tempo. Além disso, Bourdain encontra tanto velhos amigos como profissionais e acadêmicos locais, que ajudam a contextualizar essas transformações não só na pele como na teoria. Na série, Bourdain permite que o espectador faça uma viagem cultural e urbana pelo mundo, das movimentadas ruas de Hanoi até o metrô do Queens, em Nova York.
Demonstra, através do humor, a diversidade de perfis que compõem uma secretaria municipal. No caso, a de “Parques e Recreação” da fictícia pequena cidade de Pawnee, no estado de Indiana, nos Estados Unidos. O burocrata cético e mal humorado, auto-entitulado “libertário” na figura do emblemático Ron Swanson, a secretária adjunta jovem, idealista e ambiciosa interpretada pela excelente Amy Poehler (com direito a um subordinado interpretado pelo comediante Aziz Ansari em um dos primeiros papéis da sua carreira), e o personagem Mark, o arquiteto urbanista, que traz conhecimento técnico, mas que tem dificuldades de entender o funcionamento político por trás da secretaria. Audiências públicas onde moradores extravasam suas críticas, projetos comunitários e obras de infraestrutura frustradas são alguns dos elementos que fazem parte do roteiro desta série, imperdível para amantes de cidades.
O canadense-dinamarquês Mikael Colville-Andersen era jornalista e cineasta e, no final dos anos 2000, decidiu se dedicar ao urbanismo, fundando a empresa “Copenhagenize Design Company”. Na onda de urbanistas como Jan Gehl, também dinamarquês e autor do já célebre livro “Cidades para pessoas”, Colville-Andersen buscava disseminar as boas práticas do urbanismo de Copenhagen para o resto do mundo. Sua experiência como comunicador fez bem, tendo lançado em 2015 a série “The Life-Sized City”, ou “A cidade ao tamanho da vida”, evidenciando o fator essencial da escala humana na qualidade dos espaços urbanos de uma cidade.
O urbanista auto-didata então viaja pelo mundo visitando desde favelas em Medellín, na Colômbia, e na Cidade do Cabo, na África do Sul, até as estreitas ruas de Tóquio e a sua própria cidade de Copenhagen. Nestas visitas, Colville-Andersen tem sucesso ao evidenciar a vida urbana e trazer bons exemplos de espaços urbanos de diferentes realidades, mesmo que pobres e informais, permitindo uma percepção mais abrangente e global para quem busca uma cidade mais humana.
O que cidades tem a ver com um desastre nuclear? Talvez mais do que você imagine. A União Soviética foi um experimento social sem precedentes na história das cidades, onde centros urbanos inteiros foram planejados de cima para baixo através do enorme aparato estatal criado para tentar dirigir a economia. Segundo o urbanista Alain Bertaud, isso resultou em cidades totalmente atípicas, descritas no seu artigo “The Cost of Utopia: Brasilia, Johannesburg, and Moscow”. Com muitas cenas filmadas em Vilnius, capital da ex-soviética Lituânia, o espectador verá como era a vida nos complexos habitacionais de cidades soviéticas, com blocos de apartamentos separados por áreas verdes comunitárias — curiosamente não muito diferentes dos conjuntos habitacionais modernistas realizados no resto do mundo —, assim como as típicas unidades habitacionais onde as pessoas habitavam. A série também mostra os perigos de um regime autoritário e burocrático no processo de tomada de decisão, que resultou não apenas no desastre de Chernobyl mas também no desastre das cidades soviéticas descritas por Bertaud.
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