Arroio Dilúvio: como Seul pode inspirar Porto Alegre

Arroio Dilúvio: como Seul pode inspirar Porto Alegre

Um movimento em Porto Alegre quer uma utilização alternativa ao arroio Dilúvio e se inspira no projeto sul-coreano que revitalizou o arroio Cheonggyecheon.

12 de dezembro de 2012

Recentemente, em Porto Alegre, um movimento de pessoas engajadas com o espaço público finalmente começou a defender uma utilização alternativa do arroio Dilúvio ao esgoto aberto que ele é hoje. A principal referência para sua reforma é o Cheonggyecheon, um pequeno rio urbano de Seul. A obra basicamente removeu a avenida que passava sobre ele, que o escondia, e construiu calçadas e espaços para passagem e permanência de pedestres em suas margens, criando um verdadeiro parque linear urbano.

Porém, não podemos esquecer algumas diferenças essenciais entre a capital gaúcha e a capital coreana. Um dos principais motivos que faz o Cheonggyecheon ser movimentado — além da sua qualidade espacial — é a densidade demográfica de Seul, uma das cidades mais povoadas do mundo com 17.000 hab/km². Para se ter ideia, os bairros adjacentes ao arroio Dilúvio, considerando a região Partenon do Orçamento Participativo, têm por volta de 8.000 hab/km². Já o distrito de Dongdaemun, principal bairro por onde passa o arroio Cheonggyecheon, tem impressionantes 24.000 hab/km² — o triplo da situação em Porto Alegre. Claro que os visitantes e usuários do arroio sul-coreano também vem de outros bairros, mas os números são de outra escala: lá o arroio recebe cerca de 64.000 visitantes por dia, basicamente o equivalente ao bairro da Azenha e do Partenon somados circulando à beira do rio.

Seul é um caso urbanístico interessante já que, junto com este tipo de reforma urbana, recentemente alteraram a permissão de construir do equivalente a um índice de aproveitamento de 3 (área construída total de três vezes a área do terreno) para 10, próximo ao que acontece Manhattan. Na avenida Ipiranga este índice de aproveitamento gira em torno de 1,9 segundo o Plano Diretor de Porto Alegre.

Permitir a aglomeração de pessoas e atividades resulta na menor dependência do automóvel para se locomover, e esta foi a alternativa usada por Seul na sua reforma urbana, permitindo que obras públicas como a do arroio Cheonggyecheon sejam bem utilizadas.

Se o arroio Dilúvio for revitalizado dentro da situação urbana atual de Porto Alegre, com índices de aproveitamento e densidades baixos, as margens seriam reconstruídas para serem inutilizadas, já que pouquíssimos pedestres atravessariam a movimentada avenida Ipiranga para passearem sozinhos à beira do arroio rio.

Eu também sou favorável à reforma do Dilúvio, mas outras mudanças também devem acompanhar para que ela se torne viável. Inclusive, a venda de potencial construtivo poderia servir como forma de financiamento para viabilizar a obra, já que Porto Alegre certamente dependeria de repasses federais adicionais para executá-la.

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