Recentemente, em Porto Alegre, um movimento de pessoas engajadas com o espaço público finalmente começou a defender uma utilização alternativa do arroio Dilúvio ao esgoto aberto que ele é hoje. A principal referência para sua reforma é o Cheonggyecheon, um pequeno rio urbano de Seul. A obra basicamente removeu a avenida que passava sobre ele, que o escondia, e construiu calçadas e espaços para passagem e permanência de pedestres em suas margens, criando um verdadeiro parque linear urbano.
Porém, não podemos esquecer algumas diferenças essenciais entre a capital gaúcha e a capital coreana. Um dos principais motivos que faz o Cheonggyecheon ser movimentado — além da sua qualidade espacial — é a densidade demográfica de Seul, uma das cidades mais povoadas do mundo com 17.000 hab/km². Para se ter ideia, os bairros adjacentes ao arroio Dilúvio, considerando a região Partenon do Orçamento Participativo, têm por volta de 8.000 hab/km². Já o distrito de Dongdaemun, principal bairro por onde passa o arroio Cheonggyecheon, tem impressionantes 24.000 hab/km² — o triplo da situação em Porto Alegre. Claro que os visitantes e usuários do arroio sul-coreano também vem de outros bairros, mas os números são de outra escala: lá o arroio recebe cerca de 64.000 visitantes por dia, basicamente o equivalente ao bairro da Azenha e do Partenon somados circulando à beira do rio.
Seul é um caso urbanístico interessante já que, junto com este tipo de reforma urbana, recentemente alteraram a permissão de construir do equivalente a um índice de aproveitamento de 3 (área construída total de três vezes a área do terreno) para 10, próximo ao que acontece Manhattan. Na avenida Ipiranga este índice de aproveitamento gira em torno de 1,9 segundo o Plano Diretor de Porto Alegre.
Permitir a aglomeração de pessoas e atividades resulta na menor dependência do automóvel para se locomover, e esta foi a alternativa usada por Seul na sua reforma urbana, permitindo que obras públicas como a do arroio Cheonggyecheon sejam bem utilizadas.
Se o arroio Dilúvio for revitalizado dentro da situação urbana atual de Porto Alegre, com índices de aproveitamento e densidades baixos, as margens seriam reconstruídas para serem inutilizadas, já que pouquíssimos pedestres atravessariam a movimentada avenida Ipiranga para passearem sozinhos à beira do arroio rio.
Eu também sou favorável à reforma do Dilúvio, mas outras mudanças também devem acompanhar para que ela se torne viável. Inclusive, a venda de potencial construtivo poderia servir como forma de financiamento para viabilizar a obra, já que Porto Alegre certamente dependeria de repasses federais adicionais para executá-la.
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COMENTÁRIOS
REPOT – Região de Potencial Tecnológico seria a solução. http://www2.portoalegre.rs.gov.br/portal_pmpa_novo/default.php?p_noticia=146059&PREFEITURA+PROPOE+LEI+PARA+INCENTIVAR+EMPRESAS+DE+TECNOLOGIA
Fantástico este posto parabéns!