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As caronas compartilhadas com veículos autônomos prometem transformar a mobilidade urbana, reduzindo congestionamentos e a necessidade de carros particulares. Para que os benefícios se concretizem, é essencial que autoridades públicas se antecipem e integrem esses serviços ao transporte coletivo.
Cidades ao redor do mundo estão à beira de uma revolução no transporte com a chegada dos veículos autônomos. Com os avanços mais recentes nas tecnologias de direção autônoma e de viagens compartilhadas, combinadas têm o potencial de transformar a mobilidade urbana. No entanto, se os gestores do transporte público não se prepararem para o rápido lançamento desses serviços, prestadores privados devem introduzir robotáxis, podendo colocar em risco os benefícios mais amplos que o transporte autônomo poderia trazer. A modelagem de transportes moderna desempenha um papel crucial para compreender os impactos reais dessa nova mobilidade autônoma em relação à qualidade do serviço, aos preços e, em última instância, ao congestionamento, às emissões de carbono e aos custos operacionais.
Diversas empresas estão testando serviços de robotáxis e ônibus autônomos em larga escala. Pode-se dizer que esses serviços estão saindo da fase de testes e entrando em operação comercial plena, com clientes pagantes. A maturidade técnica do transporte autônomo já alcançou um nível que permite o lançamento de viagens compartilhadas com veículos autônomos em grande escala nos próximos anos, como demonstrado pelos testes da MOIA na Alemanha.
A direção autônoma pode mudar drasticamente o equilíbrio entre o uso do carro particular e os serviços de mobilidade. Como previ há uma década no palco do Slush (evento de startups e tecnologia), com veículos autônomos as famílias não terão mais incentivos para possuir carros próprios. Embora visionários como Elon Musk sugiram que as pessoas vão continuar comprando veículos autônomos e alugá-los quando não estiverem em uso, eu argumento que o “modelo Airbnb” não funcionará nesse setor, pois operadores de frotas podem gerenciá-las com muito mais eficiência. A dinâmica do setor de transporte difere significativamente da indústria de hospedagem, com aspectos críticos que incluem exigências regulatórias, de segurança e de responsabilidades legais. Os custos operacionais de veículos particulares tendem a permanecer praticamente inalterados com a automação, mas os custos operacionais dos serviços de transporte podem cair pela metade, tornando esses serviços ainda mais competitivos frente aos automóveis privados.
Veículo autônomo de uso coletivo na Alemanha, em 2017. Foto: Wikimedia Commons
Impactos na mobilidade urbana
As caronas com veículos autônomos prometem alterar significativamente o cenário da mobilidade urbana. Aqui estão alguns dos principais impactos:
1) Redução do congestionamento viário: Ao otimizar rotas e maximizar a ocupação dos veículos, esses serviços podem reduzir o número de automóveis nas ruas, aliviando os congestionamentos. Além disso, os veículos autônomos podem operar de forma eficiente em várias condições de tráfego, melhorando ainda mais o fluxo.
2) Benefícios ambientais: Menos veículos circulando significa menos emissões de carbono e melhor qualidade do ar nos centros urbanos.
3)Melhora na segurança viária: Veículos autônomos são projetados para seguir rigorosamente as leis de trânsito, potencialmente reduzindo a ocorrência de acidentes causados por erro humano. Isso contribui para vias mais seguras e menor número de mortes e lesões no trânsito.
4)Uso do solo mais eficiente: Com a diminuição da necessidade de veículos próprios, as cidades podem ver uma queda na demanda por vagas de estacionamento e guarda de veículos. Isso abre oportunidades para requalificação urbana com áreas verdes, ruas para pedestres e amenidades para a comunidade.
5)Fim dos incentivos à posse de carro próprio: Com o avanço da automação da direção, torna-se menos atrativo ter um carro próprio. Isso vai permitir ganhos de escala nos serviços de mobilidade, tornando-os economicamente viáveis.
6) Melhor acessibilidade e deslocamento: Viagens compartilhadas com veículos autônomos oferecem uma alternativa flexível e confiável para pessoas com acesso limitado ao transporte público tradicional — como moradores de áreas suburbanas ou rurais. Essa acessibilidade é particularmente importante para fornecer soluções de mobilidade para idosos e pessoas com deficiência.
7) Integração com o transporte público: Viagens compartilhadas autônomas podem funcionar como alimentadores de sistemas de transporte de alta capacidade, como redes de metrô e trem, ampliando seu alcance e eficiência. A integração pode gerar uma rede de transporte urbano mais fluida e centrada no usuário.
O papel da modelagem de transportes
Para avaliar com precisão os impactos das viagens compartilhadas com veículos autônomos — e da transição mais ampla para uma mobilidade baseada em serviços — é essencial fazer modelagens de transporte avançadas. Modelos baseados em atividades e agentes (Activity- and Agent-Based Models — AABMs) são ferramentas indispensáveis para essa análise, pois oferecem insights detalhados sobre o comportamento dos usuários e o desempenho do sistema em diversos cenários.
Modelos baseados em atividades, como o BRUTUS, da Ramboll, focam no cotidiano dos indivíduos e suas escolhas de deslocamento para cumprir suas atividades. Ao incorporar os veículos autônomos e os serviços compartilhados nesses modelos, os planejadores urbanos podem prever mudanças na demanda de viagens, escolha modal e preferências de rota, permitindo avaliar os impactos no sistema de transporte como um todo.
Modelos baseados em agentes simulam as ações e interações de agentes individuais (como passageiros e veículos) dentro do sistema de transporte, oferecendo uma estrutura flexível para modelar os aspectos operacionais das caronas autônomas e entender seus efeitos nos padrões de deslocamento, uso dos veículos e níveis de serviço.
Essas abordagens de modelagem permitem uma avaliação abrangente dos serviços com veículos autônomos compartilhados, assegurando que eles sejam projetados e implantados de modo a maximizar os benefícios e mitigar possíveis efeitos negativos.
O papel dos gestores do transporte público
A Região Metropolitana de Helsinque (HSL) já demonstrou uma visão de larga escala para serviços de caronas compartilhadas e sua integração com o sistema de transporte público por meio do Kutsuplus — um sistema pioneiro operado entre 2012 e 2015. O transporte autônomo reduz drasticamente os custos operacionais, viabilizando esses serviços em larga escala sem necessidade de subsídios, com ganhos de escala reais. Isso vai finalmente viabilizar a visão que inspirou o Kutsuplus.
Van do Kutsuplus em 2014. Foto: Anthony Ling
Agora, as autoridades de transporte enfrentam a tarefa crítica de definir uma visão clara e um plano de ação para a implementação do transporte autônomo. A tecnologia não apenas facilita as viagens compartilhadas, como também permite automatizar rotas fixas e agendar o transporte público. Essa inovação representa uma oportunidade — e talvez uma necessidade — de reestruturar completamente o sistema de transporte coletivo.
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