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Com tantas dependentes variáveis, o design paramétrico leva em conta formas quantitativamente diferentes quando se manipula variáveis independentes.
16 de junho de 2016Qual é o urbanismo radical de Patrik Schumacher? Aqui estão suas ideias como as entendi, pinçadas de leituras dos artigos quase impenetráveis de Schumacher.
Schumacher acredita que arquitetura e desenho urbano estão em uma encruzilhada. Os estilos que animaram o século XX estão mortos, porque dependem muito do planejamento centralizado (o tipo de zoneamento e design que Jane Jacobs odiava).
O modernismo morreu e foi o último estilo ou filosofia de desenho arquitetônico verdadeiramente coerente. Mas o pós-modernismo não é nada de verdade. Se refere a ele como o “vazamento de lixo” do desenho urbano — onde qualquer processo resulta em uma desordem espraiada incoerente. Muitas cidades modernas americanas são como um Frankenstein de planejamento centralizado nefasto e vazamento de lixo desestruturado.
Ele então propõe Design Paramétrico, um novo e — para Schumacher — coerente estilo de design do século XXI. Parametrização é a adaptação consciente de ideias sobre teorias de sistemas complexos aplicadas ao design. Fundamentalmente, design paramétrico é como uma fusão de modelagem baseada no agente com a complexidade de cálculos possibilitada por computadores. Esses modelos dizem respeito a amarrar elementos ao invés de impor uma visão de cima.
Com tantas dependentes variáveis, tal design leva em conta formas quantitativamente diferentes quando se manipula variáveis independentes. É como a “emergência” nos sistemas biológicos.
Design paramétrico torna os planos facilmente editáveis e manipuláveis mesmo após a construção ter começado. Pode ligar também dados não-tradicionais com variáveis de design, como o mapa de calor dos raios solares sobre uma cidade. O mapa de calor poderia, então, ser usado para determinar limites de altimetria de modo que canalizasse luz solar através do design.
Schumacher consistentemente chama o design paramétrico de “urbanismo radical de livre mercado”. Entende de modo profundo os riscos epistemológicos do planejamento centralizado e por que planejamento em excesso é um paradigma falido.
Os mercados e a livre troca são um “robusto sistema de processamento de informação” — o melhor que os humanos encontraram até hoje. Cidades também são, em última instância, sobre informação estruturada. O ambiente construído incorpora gerações de aprendizados da humanidade, a evolução da comunidade refletida em suas ruas e paredes, e a estruturação deliberada de humanidades através da arquitetura.
A “rede econômica pós-fordista”, como Schumacher se refere ao século XXI, é sobre densas redes de comunicação. Tecnologias digitais avançam muito em nos conectar, mas haverá sempre demanda por ambientes construídos que também densifiquem a conexão humana. Schumacher acredita que o trabalho do arquiteto visionário é desenhar tais ambientes.
Apesar da linguagem livre-mercado de Schumacher, ele rejeita a ideia de planejamento de tudo por todos. Esse é o vazamento de lixo. Por analogia, pode-se imaginar o vazamento de lixo como um libertarianismo não sofisticado que coloca cada indivíduo como entidade soberana que deve independentemente contratar todos serviços/direitos/proteções.
O segredo de Schumacher foi ter um desenho urbano abrangente via parametrização que cria as condicionantes necessárias para que um urbanismo de mercado “não-planejado” aconteça com sucesso.
Qualquer um familiar com sistemas complexos pode ver a conexão aqui. O emergente demanda condicionantes para os agentes num sistema. Um mercado funcional requer leis e regulações que permitam a cooperação social. Um ambiente urbano funcional requer um esquema paramétrico que permita o “urbanismo radical de livre mercado” ocorrer.
Considero os argumentos de Schumacher convincentes. A economia passa por uma similar mudança de um reducionismo quase-Newtoniano a uma complexidade e emergência através do trabalho de locais como o Santa Fe Institute. A Física já avançou nesse caminho e há sinais de que a Ciência Política e o Direito poderiam seguir o mesmo rumo, com personalidades como Oliver Goodenough modelando com sucesso contratos como sistema computacional. Por que não a arquitetura também?
Talvez a complexidade se apoderará de tudo. Veremos os trabalhos primários dos seres humanos de encontrar maneiras de estruturar nosso ambiente — legalmente, arquitetonicamente, politicamente — de modo que se permita a emergência positiva complexa, conexões densas e cooperação social.
Este artigo foi originalmente publicado no site Market Urbanism em 19 de maio de 2016. Foi traduzido por Lucas Magalhães, revisado por Anthony Ling e publicado neste site com autorização do autor.
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Confuso esse texto. Não entendi essa ideia de parametrização. Tem algum exemplo prático disso? Outra coisa, os defensores do liberalismo, em geral, odeiam a linguagem empolada dos seus concorrentes, estes a usam para passar uma pseudo erudição tendente a inibir o debate. Vocês, se liberais, deveriam ter uma preocupação com isso.
Excelente, parabéns pelo blog!
Sugiro refazer este artigo, ficou muito ruim. Texto muito confuso. Concordo com o comentário do Bom Samaritano.