A batalha das quitinetes: como o zoneamento urbano bloqueia a habitação popular
Restrições de uso e exigências edilícias tornam inviável a produção de moradias compactas e acessíveis nas áreas urbanas consolidadas.
Será que a chegada de moradores ricos de fato é suficiente pra aumentar os preços dos aluguéis?
14 de novembro de 2019Um argumento muito repetido contra a construção de novas habitações é que elas nunca vão reduzir os custos de moradia, porque a chegada de milionários em cidades de alto custo cria um nível de demanda insaciável.
Descobri uma fonte de informação que pode ser relevante para esse argumento: a Wealth Report (Relatório de Riqueza, tradução livre), que lista o número de indivíduos muito ricos em uma série de cidades do mundo, incluindo cinco cidades americanas: Nova York, Los Angeles, Chicago, Houston e Miami. Mais especificamente, o relatório lista o número e crescimento percentual de “indivíduos de patrimônio líquido ultra alto” (Ultra High Net Worth Individuals, UHNWIs), que ele define como aqueles com mais de $30 milhões em seu nome.
Me parece que se o aumento de UNHNWIs fosse relacionado ao alto custo das habitações, as cidades mais caras desse grupo (Nova York e Los Angeles) teriam o maior crescimento de UNHWI. Na verdade, o número de UHNWIs cresceu mais rapidamente em Houston (63%), cidade com moradia muito acessível, entre 2005 e 2015. Em contraste, o crescimento dos UNHWI em outras quatro cidades variou entre 31% e 34%.
No Canadá, o crescimento dos UNHWI foi maior, mas praticamente igual (variando entre 65% e 70%) em Toronto, Vancouver e Montreal — mesmo que essas cidades tenham preços muito variados de habitações. O preço médio de uma unidade em Vancouver passa de $1 milhão, mais ou menos três vezes a média de Montreal.
E UNHWIs como porcentagem da população? Nova York tem 5.600 deles em uma cidade de 8,1 milhões* — pouco menos de 700 a cada milhão de pessoas. A mais acessível, Chicago, tem 2030, em uma cidade de 2,7 milhões — cerca de 750 por milhão. Houston tem 1.318 em uma cidade de 2,1 milhões, ou cerca de 625 por milhão de pessoas. Diferenças que não me parecem muito significativas..
*Assumindo que todas essas pessoas vivam na cidade central; Não tenho certeza se esse é o caso, mas mesmo se eu estiver errado, isso não afeta minhas conclusões. Mesmo que Nova York esteja na frente, todas as três cidades teriam entre 200 e 280 UNHWIs por milhão de pessoas.
Texto publicado originalmente em Market Urbanism em 27 de junho de 2016. Traduzido para o português por Gabriel Prates, com revisão de Anthony Ling.
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Eu diria “menos, menos”…
Isso pode até livrar alguns empreendimentos, principalmente na região central, das exigências enfadonhas, exageradas e um tanto quanto dispendiosas de vagas de garagem, mas isso em si não vai tornar a cidade de Porto Alegre mais humana e com uma melhor qualidade de vida.
Uma coisa não se liga a outra em si.
Não creio, pois os de mais alta renda, “empurram” as favelas para outros lugares, pois estes não têm condições de suportar aluguéis altos. Por outro lado, há a necessidade de baixar os aluguéis, pois os de alta renda, adquirem seus imóveis com os custos de uma locação alta…as cidades crescem para os lados, as pessoas se mudam para locais com mais segurança, sem ter que pagar aluguéis…
Qual a lógica de seu comentário dentro desse contexto?
Bom, já que foi apresentada uma porcentagem por população, uma proporção de ricos, seria interessante trazer essa proporção do custo de moradia nessas cidades para ver se ocorre uma correlação. Acho que ficou uma informação suprimida que não permite literalmente nenhuma reflexão ao leitor.