Bairros nunca tiveram o propósito de serem imutáveis
As mudanças nos bairros e nas cidades ao longo dos anos é natural e tentar impor restrições para elas é um equívoco.
Os subúrbios americanos, apesar de verdes, são insustentáveis por sua baixa densidade e uso excessivo de carros. Áreas mais densas são a solução.
30 de outubro de 2023Em uma viagem recente aos Estados Unidos, olhei a vista da janela do avião ao decolar de Tampa, na Flórida, e chamou atenção a perfeita paisagem verde do subúrbio americano. Sequências organizadas de árvores que pareciam iguais, cobrindo o território plano como um tapete verde. Para alguns, o verde pode parecer um sonho de sustentabilidade integrada ao meio ambiente.
Nada poderia ser mais distante da verdade. O subúrbio americano, baseado no conceito ultrapassado da “cidade jardim”, foi projetado para incentivar o automóvel, a moradia unifamiliar residencial de baixa densidade e o zoneamento de atividades. Tal modelo inviabiliza transporte ativo (a pé ou de bicicleta) e torna o transporte de massa, que exige densidade e caminhabilidade, inviável.
Como se sabe, o americano, via de regra, é dependente do automóvel para viver. Este modelo gera uma tremenda emissão de poluentes, além de maior gasto energético, ocupa o território natural em proporções muito maiores e aumenta o custo de infraestrutura per capita para percorrer essas distâncias territoriais maiores.
Legenda: Relação entre a energia gasta no transporte e a densidade habitacional das cidades. No eixo horizontal, densidade medida em habitantes por hectare. No eixo vertical, energia per capita gasta em transporte anualmente, medida em gigajoules.
Estudos apontam uma forte correlação negativa entre densidade demográfica e consumo energético relacionado ao transporte. Não surpreende que quanto mais dispersa a população no território, maior o gasto energético para mover as pessoas de um lado para o outro. Dessa forma, cidades norte-americanas, neste aspecto, são campeãs mundiais de gasto energético relacionado a transporte.
No condado de Hillsborough, onde fica Tampa, apenas 1% das viagens casa-trabalho são realizadas em transporte coletivo, contra uma média de um terço das viagens nas grandes cidades brasileiras, por exemplo. Nos EUA, esse percentual é de 5%, com 76% das viagens sendo realizadas não apenas de carro, mas como motorista individual. A paisagem da janela do avião, seja dos subúrbios da Flórida ou da Carolina do Sul, parecia idêntica.
A busca pela restrição das densidades traz enormes custos urbanos e ambientais e não deveria ser um fim em si próprio, dado que a opção de vida em baixa densidade sempre estará disponível à medida que nos distanciamos dos centros urbanos.
No estudo “Densidade, dispersão e forma urbana: Dimensões e limites da sustentabilidade habitacional”, os pesquisadores Geovany Jessé Alexandre da Silva, Samira Elias Silva e Carlos Alejandro Nome buscaram comparar o custo de infraestrutura entre modelos de ocupação unifamiliar e multifamiliar, evidenciando a diluição de custos de infraestrutura quando ela é compartilhada por um número maior de habitantes.
O que precisamos é garantir a infraestrutura de áreas de maiores densidades, estratégia que tem um custo per capita muito mais eficiente.
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Cara que absurdo. Então todos devem viver amontoados num prédio gigante e nessa teoria haveria uma floresta amazônica em volta? Essas cidades americanas q vc citou é um sonho pra qualquer pessoa e exemplo. Q nada de emissão de gases vc tem árvores pra todo lado que nem se vê as casa. Só por não ter trânsito já diminuiu as emissões de gases, vai ter uma meia dúzia de carro so, numa cidade densa vc tem trânsito e carro ou ônibus parado emite muito mais gases e nas cidades q conhecemos todas tem muito menos árvore que essas aí, mesmo que tivesse uma floresta ao redor da cidade ainda a cidade seria uma ilha de poluição. Essas teorias são inviável na prática e é cabeça de quem acha q as pessoas devem depender de um governo que não prioriza a família e a individualidade. Vai lá em Gaza que é o local mais densamente povoado ser sustentável.
Espera um pouco, o que você chama de eficiente? Viver aboletado em um kitnet? Isso é bom apenas pra custo energético de transporte, não para custo de saúde mental.
Também trazem outros problemas como alta necessidade de captação de água e transporte até a unidade consumidora. Também tem o custo de bombeado da água para caixas d’água em atranhacéus, ilhas de calor e desertificação, etc. você pegou um único ponto de um problema multifacetado para defender algo que é bom para muito poucos. E nem chegou perto do problema real, principal causador dos estragos ambientais: tem mais gente do que o que o planeta suporta. E não nascemos pra viver em super cidades. Dano mental é absurdo. Falo porque sai da cidade de São Paulo, bairro nobre, apartamento, e vim pra uma cidade aonde moro em uma rua tranquila e agradável numa casa. É muito melhor em qualidade. Da mais trabalho, mas a qualidade de vida é muito diferente. Privacidade, não precisar ouvir o vizinho gritando no telefone em cima, o cachorro latindo frenético por estar sozinho num cubículo, não precisar disputar elevador no rush, etc.
Esqueceram de algo primário ao dizer que as cidades Jardins são obsoletas. Menor adensamento com edificações mais baixas permitem não só uma ventilação melhor mas melhor qualidade de vida para os moradores.
Com relação ao transporte público a tecnologia com carros elétricos ou combustíveis menos poluidores vai resolver o problema.
Ok, a teoria é ótima, devemos buscar formas mais eficientes de gerir os recursos. Mas alguém já parou para pensar na vontade pessoal? A família simplesmente querer morar numa boa casa, com um bom quintal, numa vizinhança tranquila? Não nos enganemos, o sonho da “família brasileira” é morar em uma casa de condomínio, e não temos uma grande proliferação destes, porque somos um país pobre de infraestrutura ruim. O Americano do subúrbio mora assim, porque “faz sentido”, a casa é barata, o carro é barato, a vizinhança é amigável e segura. O brasileiro corre para um apartamento primeiramente pela segurança, antes de qualquer outro motivo, tanto que hoje os condominios de prédio são verdadeiros resorts um ao lado do outro, jogando por água abaixo o conceito de adensamento eficiente, pois gera um estresse localizado enorme nos sistemas de esgoto, água, e outros serviços…e as pessoas continuam usando seus carros para irem a padaria, supermercado, restaurantes e etc.
Excelente artigo!
Estou morando em London, na Província de Ontário, no Canadá. Aqui o modelo suburbano espraiado também impera. O resultado: mais de 80% dos deslocamentos são feitos por automóvel. Os ônibus demoram para passar e as distâncias são inviáveis para caminhar. A cidade está tomando algumas medidas para reverter este quadro, recentemente o conselho municipal aprovou a construção de um edifício residencial de mais de 50 andares no centro, espero que mais medidas contra o espraiamento sejam adotadas por aqui.
Um abraço.
Falou-se muito em eficiência energética, eficiência econômica, eficiência nos sistemas de transportes, etc. Porém, falou-se pouco ou nada de qualidade de vida, liberdade individual, heterogeneidade social… Fatores inexoráveis quando tratamos de urbanismo.
Acredito que a tão pregada insustentabilidade do modelo urbano “espraiado” com também a “inquestionável” sustentabilidade do modelo adensado, não devem ser as únicas condicionantes a serem consideradas na prática do planejamento urbano.
Não obstante os gráficos coloridinhos, duvido veementemente que a maioria das pessoas prefiram viver em um arranha céu de Hong Kong ao invés de viver em uma casa, com sua família, em um subúrbio americano.