Envelhecimento solitário: é possível influenciar a socialização por meio do planejamento urbano?
Em meio ao envelhecimento da população, precisamos pensar em como promover qualidade de vida e interações sociais nas cidades.
Pequenas intervenções preventivas no desenho urbano podem ser mais valiosas do que vários policiais.
20 de fevereiro de 2025Melhorias simples no ambiente construído — como a instalação de iluminação pública eficiente e estratégias de traffic-calming (acalmamento de tráfego) — desempenham um papel enorme e subvalorizado na redução da violência que assola tantas comunidades. Essas intervenções podem ajudar a mudar a abordagem tradicional de reforço policial.
Em um estudo publicado em 2024, o Futures Institute analisou dezenas de pesquisas acadêmicas, relatórios técnicos e cidades para identificar quais estratégias para prevenção do crime estão funcionando.
Além de fatores amplamente reconhecidos, como saúde comunitária, tratamento de dependência química, habitação, geração de emprego, educação e investimentos, o relatório “Getting Smart on Safety” (“sendo inteligente na segurança”) inclui uma seção específica sobre o papel do urbanismo.
Leia mais: O que é CPTED e por que ele é importante para a segurança pública?
Essa seção, intitulada “Investimentos em Desenho Urbano e Infraestrutura Comunitária”, revela a conexão entre a qualidade dos espaços públicos e a redução da criminalidade:
No entanto, o redesenho viário é o fator mais determinante, segundo o relatório.
“Redesenhar ruas e expandir o transporte público representam a chave para fortalecer a segurança comunitária por meio do desenho do ambiente construído”, aponta o documento. “Seja reduzindo o congestionamento ou repensando a estrutura das vias, essas mudanças podem reduzir a criminalidade e otimizar tempos de deslocamento, aumentando a qualidade de vida.”
Obviamente, reduzir congestionamentos diminui tensões, o que, por sua vez, reduz episódios de violência. Mas até restringir os pontos de acesso de vias arteriais para dentro dos bairros pode levar a uma queda significativa nos índices de furtos. Ruas com múltiplas entradas tendem a apresentar taxas de criminalidade mais altas.
Um exemplo citado no relatório é a cidade de Dayton, Ohio, que conseguiu reduzir a criminalidade em 26% e cortar os crimes violentos pela metade após a implantação de barreiras que transformaram algumas ruas em cul-de-sacs (ruas sem saída).
“Praticamente todos os estudos avaliando medidas preventivas apontam que os benefícios superam, de longe, os custos”, afirma o relatório. “Em um dos estudos, a instalação de uma nova iluminação pública gerou um retorno de $121 dólares para cada dólar investido.”
Thea Sebastian, fundadora do Futures Institute, conclui: “Precisamos fazer os investimentos certos.”
“Existe uma associação histórica de que prisões, cadeias e o simples aumento do policiamento nas ruas são o que nos mantêm seguros. E muitas pessoas nunca realmente questionaram: ‘O que esses investimentos estão de fato produzindo? E quais são as alternativas?’”, disse Thea Sebastian.
“Sabemos, por exemplo, que o maior aumento na expectativa de vida da humanidade ocorreu devido a investimentos em medidas preventivas de saúde, como higiene, qualidade do ar, entre outras, e não só pelos avanços diretos da medicina. E o mesmo se aplica à segurança pública. Quanto mais investimos nas causas estruturais da violência e do crime, mais eficazes seremos e menos recursos precisaremos gastar.”
Essas ideias, evidentemente, remontam a Jane Jacobs: ao criar comunidades vibrantes e habitáveis, você terá mais “olhos na rua”, o que contribui para a redução da criminalidade. No entanto, o relatório vai além e estabelece conexões diretas entre o ambiente construído e a segurança pública.
“Eu fiquei impressionada com a diversidade dessas estratégias, até mesmo ações como a remoção de lixo, o controle de descartes irregulares e a instalação de murais urbanos são eficazes”, destacou Sebastian.
Leia mais: Podcast #78 | Decifrando a obra de Jane Jacobs
Artigo originalmente publicado em Streets Blog USA, em janeiro de 2025.
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