O que o Parque Ibirapuera em São Paulo tem a ver com o Nobel de Economia?
Na perspectiva do desenvolvimento econômico, vemos que alguns aspectos da configuração urbana de São Paulo são excludentes.
Em lugares com altas restrições ao uso do solo, a demanda crescente se mostra mais nos preços da habitação do que em sua quantidade.
27 de abril de 2016A migração tem caído aos poucos nos Estados Unidos desde os anos 80. Por quê? Uma possibilidade é a mudança demográfica. Pessoas mais velhas, por exemplo, são menos propícias a se mudarem do que as mais jovens, portanto o aumento da população idosa pode explicar o declínio nas taxas de migração interna. Mas a migração caiu para todas as idades. Nos anos 80, por exemplo, 3,6% da população entre 25 e 44 anos havia se mudado no ano anterior, mas nos anos 2000 a taxa caiu para 2,2% dessa faixa etária.
Na verdade, migração caiu não importando a idade, gênero, raça, situação de aquisição da moradia, se os cônjuges trabalham ou não, classe de renda, situação de emprego, então seja qual for a causa do declínio, tem de ser forte o suficiente para afetar grandes números de pessoas ao longo de diferentes faixas demográficas.
Meu melhor palpite é que o declínio da migração é devido a problemas com nosso mercado imobiliário (um artigo importante de Peter Ganong e Daniel Shoag). A mudança costumava ser de pessoas pobres para lugares ricos. Um zelador em Nova York, por exemplo, costumava ganhar mais do que um em Alabama mesmo após levar em conta os custos de habitação. Como resultado, zeladores se mudavam de Alabama para Nova York, aumentando seus padrões de vida e reduzindo a desigualdade salarial nesse processo. Hoje em dia, no entanto, ao levar em conta os custos de habitação, zeladores em Nova York ganham menos que os de Alabama. Como resultado, pessoas mais pobres não migram mais para lugares mais ricos. Na verdade, há uma tendência inversa de pessoas mais pobres se mudarem para lugares mais pobres pois apesar dos salários mais baixos, os custos de habitação são ainda menores por lá.
Idealmente, queremos que a força de trabalho e outros recursos se mudem de lugares com menor produtividade para os de maior produtividade — essa dinâmica relocação de recursos é uma das causas da produtividade crescente. Mas para trabalhadores desqualificados o oposto está acontecendo — o preço das habitações está fazendo com que se mudem de lugares com alta produtividade para aqueles com baixa produtividade. Além disso, quando trabalhadores sem qualificação vão para locais de baixa produtividade, os salários são menores então há menos motivos para ser empregado. E não há altos salários na região, reduzindo os incentivos para o aumento de capital humano. O processo de pobreza se torna vicioso.
Por que a habitação se tornou tão cara em lugares muito produtivos? É verdade que existem limites geográficos (Manhattan não aumentará de tamanho) mas leis de zoneamento e restrições de uso do solo, incluindo “proteção” histórica e ambiental, estão reduzindo a quantidade de solo disponível para habitação e o quanto pode ser construído num determinado terreno. Como resultado, em lugares com altas restrições ao uso do solo, a demanda crescente se mostra mais nos preços da habitação do que em sua quantidade.
No passado, quando uma cidade como Nova York se tornava mais produtiva, atraía tanto ricos quanto pobres e quando pobres se mudavam para a cidade, mais moradias eram construídas, os salários e produtividade aumentavam e a desigualdade nacional diminuía. Agora, quando uma cidade como San José se torna mais produtiva, pessoas tentam se mudar para a cidade mas os custos da habitação não se expandem, aumentando os preços das moradias e apenas os trabalhadores altamente qualificados conseguem morar na cidade. O resultado é trabalhadores qualificados morando em cidades com alta produtividade e trabalhadores com baixa qualificação morando em cidades de baixa produtividade. Em nível nacional, restrições ao uso do solo significam menos migrações, menor produtividade nacional e maior desigualdade econômica e geográfica.
Este artigo foi originalmente publicado no site Marginal Revolution em 8 de abril de 2016. Foi traduzido por Lucas Magalhães, revisado por Anthony Ling e publicado neste site com a autorização do autor.
Somos um projeto sem fins lucrativos com o objetivo de trazer o debate qualificado sobre urbanismo e cidades para um público abrangente. Assim, acreditamos que todo conteúdo que produzimos deve ser gratuito e acessível para todos.
Em um momento de crise para publicações que priorizam a qualidade da informação, contamos com a sua ajuda para continuar produzindo conteúdos independentes, livres de vieses políticos ou interesses comerciais.
Gosta do nosso trabalho? Seja um apoiador do Caos Planejado e nos ajude a levar este debate a um número ainda maior de pessoas e a promover cidades mais acessíveis, humanas, diversas e dinâmicas.
Quero apoiarNa perspectiva do desenvolvimento econômico, vemos que alguns aspectos da configuração urbana de São Paulo são excludentes.
Banheiros públicos são investimentos essenciais para garantir a qualidade dos espaços públicos nas cidades.
A pesquisa em Belo Horizonte mostra que muitas resistências comuns às ciclovias são, na verdade, equivocadas e sem fundamento.
As mudanças nos bairros e nas cidades ao longo dos anos é natural e tentar impor restrições para elas é um equívoco.
Com o objetivo de impulsionar a revitalização do centro, o governo de São Paulo anunciou a transferência da sua sede do Morumbi para Campos Elíseos. Apesar de ter pontos positivos, a ideia apresenta equívocos.
Confira nossa conversa com Diogo Lemos sobre segurança viária e motocicletas.
Ricky Ribeiro, fundador do Mobilize Brasil, descreve sua aventura para percorrer 1 km e chegar até a seção eleitoral: postes, falta de rampas, calçadas estreitas, entulhos...
Conhecida por seu inovador sistema de transportes, Curitiba apresenta hoje dados que não refletem essa reputação. Neste artigo, procuramos entender o porquê.
No programa Street for Kids, várias cidades ao redor do mundo implementaram projetos de intervenção para tornar ruas mais seguras e convidativas para as crianças.
COMENTÁRIOS