Uma breve história das cidades-satélites de Brasília
O desenvolvimento urbano da capital foi muito além do Plano Piloto, mesmo antes de sua inauguração.
A lógica usada pelos chineses é a mesma do filme "Campo dos Sonhos": se você construir, eles virão.
28 de julho de 2011Já faz alguns anos que o Estado da China implementa políticas de fortes subsídios e incentivos à construção civil. A lógica usada pelos chineses é a mesma do filme “Campo dos Sonhos”: se você construir, eles virão.
Basicamente o que acontece é o uso do dinheiro do pobre camponês com os objetivos dos técnicos e políticos no poder: a construção das cidades serviria para estimular a economia, para sinalizar o progresso da nação (afinal, países desenvolvidos têm cidades bonitas) e para investir em infraestrutura para o futuro, já que milhões de camponeses um dia migrarão para as cidades.
Porém, os três argumentos que compõem o raciocínio são falácias econômicas, usadas pelo governo para implementar projetos gigantescos e justificar sua existência. Não é por mal (imagino que alguns políticos chineses até possam querer o bem coletivo) mas infelizmente eles erraram nos conceitos básicos de como funcionam as cidades e a economia, não vendo o prejuízo que suas políticas trazem.
Primeiro, a economia não é algo que pode ser estimulado a critério dos planejadores. Tudo que estado faz é tirar dinheiro que seria investido diretamente pelos cidadãos para investir em coisas que os cidadãos não investiriam voluntariamente.
O problema disso é que o recursos acabam sendo alocados a critério pessoal dos representantes eleitos (ou no caso da China da ditadura no comando). Estes recursos acabam subsidiando grupos de interesse que se organizam para influenciar os políticos — no caso os líderes da construção civil — ou indo para seus gastos pessoais — a chamada corrupção.
Ambas situações trazem grandes prejuízos à nação como um todo, mas que disperso por toda população é muito pequeno para os cidadãos comuns se organizarem para que isso não aconteça novamente.
Depois, a sinalização de riqueza só acaba trazendo mais prejuízos aos chineses. Apesar do que a mídia tenta passar, a China ainda não é um país rico — tem renda per capita bem abaixo da brasileira — e não é natural ela se portar como tal.
O investimento chinês em grandes obras e cidades desenvolvidas só na aparência se equivale à alguém muito pobre comprando um carro de luxo, mesmo sem saber dirigir e sem conseguir pagar o preço da gasolina. A China divulga as fotos das lindas novas construções enquanto milhares ainda passam fome no campo.
A China de Mao também utilizava estratégias como esta, chegando a derreter produtos prontos como ferramentas agrárias para atingir as metas nacionais de industrialização, na época sintoma de uma economia poderosa, mas não a causa.
A parte de investir no futuro é provavelmente a justificativa mais aceita mundialmente, e infelizmente até invejada por muitas pessoas. A crença vem do nosso viés em acreditar que toda prevenção é necessária, apesar de não agirmos desta forma no nosso dia a dia.
Se alguém que leva seu consumo de açúcar a zero ou que estoca comida e combustível para o resto da vida porque “pensa no futuro” é normalmente como um maluco, porque governos que fazem o mesmo são vistos como prudentes?
O investimento no futuro é calculado por cada um de nós baseado na nossa própria expectativa de prazer e cálculo de risco. Sabemos exatamente o prazer que teremos e todos os riscos envolvidos nas nossas decisões? Não, mas isto não justifica a intervenção estatal. Pelo contrário: como que alguém que não sabe calcular os riscos e planejar sua própria vida perfeitamente pode alegar que sabe fazer isto para uma outra pessoa?
No fim, o resultado das políticas de subsídio chinesas são semelhantes ao filme, já que tanto o campo de beisebol construído pelo personagem de Kevin Costner quanto as cidades construídas pelos burocratas chineses parecem atrair nada mais do que fantasmas, meros produtos do nosso imaginário.
Imagens e mais informações:
Seeking Alpha, “The Phantom Growth of China’s Ghost Cities”
Dailymail, “China’s Ghost Towns”
Businessinsider, “Pictures of Chinese Ghost Cities”
Somos um projeto sem fins lucrativos com o objetivo de trazer o debate qualificado sobre urbanismo e cidades para um público abrangente. Assim, acreditamos que todo conteúdo que produzimos deve ser gratuito e acessível para todos.
Em um momento de crise para publicações que priorizam a qualidade da informação, contamos com a sua ajuda para continuar produzindo conteúdos independentes, livres de vieses políticos ou interesses comerciais.
Gosta do nosso trabalho? Seja um apoiador do Caos Planejado e nos ajude a levar este debate a um número ainda maior de pessoas e a promover cidades mais acessíveis, humanas, diversas e dinâmicas.
Quero apoiarO desenvolvimento urbano da capital foi muito além do Plano Piloto, mesmo antes de sua inauguração.
A inteligência artificial já transforma o planejamento urbano no mundo. Mas será que cidades brasileiras estão preparadas para essa revolução? Entre potencial e desafios, o uso de IA pode tornar as cidades mais eficientes ou ampliar desigualdades. A decisão sobre seu futuro começa agora.
Confira nossa conversa com o médico Paulo Saldiva sobre como a vida urbana, a mobilidade e a poluição afetam a saúde das pessoas.
Os diferentes métodos para calcular a densidade de pessoas morando em uma determinada área podem tornar difícil o entendimento desse conceito.
Se hoje o Brasil começasse a urbanizar uma favela por semana, demoraríamos 230 anos para integrar todas as favelas e comunidades às nossas cidades. 230 anos. Ou seja, teríamos de aguardar nove gerações. Por isso, precisamos falar com urgência de soluções transitórias.
O processo de licenciamento ambiental, necessário para a aprovação de projetos nas cidades brasileiras, apresenta diversos entraves na prática.
A mudança recente na forma como o IBGE chama as favelas reflete as transformações ao longo do tempo nesses lugares e vai ao encontro de investigações acadêmicas que apontam o fortalecimento do empreendedorismo.
Iniciado em 1970, o processo de favelização na cidade de Guarulhos foi marcado por processos de migração, ações de retirada de barracos e lutas de resistência.
O domínio de facções no Brasil revela a falência do Estado e a precariedade do urbanismo formal. Transporte, serviços e espaços públicos são moldados por regras paralelas, expondo a exclusão e a desigualdade, enquanto soluções urgentes para a dignidade urbana são necessárias.
Anthony,
o pior é que inúmeros economistas acham que o modelo chines é um modelo bom…onde foi que os liberais erraram?
abs
Daniel Katz