A tarifa de congestionamento é uma importante ferramenta de gestão do espaço viário, não necessariamente para arrecadação, mas para melhorar sua eficiência.
Congestionamento resulta de vários motoristas usando a mesma via ao mesmo tempo. A tarifa, para ter sucesso, deve mitigar este comportamento, incentivando a mudança do padrão de viagens ao longo do dia. O IPVA, por exemplo, não tem esse efeito: se o carro fica na garagem, paga igual.
A proposta da Prefeitura de Porto Alegre, embora carregue o nome, não deve mitigar o congestionamento pois não está relacionada a horários e vias específicas, como é o caso de Londres, Estocolmo, Milão e Nova York, citadas na proposta. Ela taxará os 25 mil veículos de aplicativos e os 75 mil veículos que entram na cidade a partir da Região Metropolitana (RM). Números grandes, mas uma fração dos 610 mil carros da capital que continuarão fazendo mau uso das vias.
Faltam alternativas para quem mora em regiões periféricas.
Singapura, com a tarifa de congestionamento mais evoluída do mundo, cobra de todos via portais eletrônicos espalhados pela cidade, com preços que variam de acordo com horário e local. Lá as faixas de ônibus se tornam irrelevantes dado que o trânsito sempre flui. Como consequência, a arrecadação também é mais justa, pois carros ocupam espaço na rua independente se são de aplicativo ou se são ou não da cidade.
Nossa política habitacional restritiva e excludente levou o crescimento da RM por necessidade, não por opção, e a taxa focada nesse grupo é mais um golpe restringindo o acesso à capital gaúcha. Ao contrário: faltam alternativas para quem mora em regiões periféricas, pois sua natureza de baixa densidade não viabiliza o transporte de massa.
Vans compartilhadas de menor capacidade, de baixo custo e maior capilaridade deveriam ser legalizadas, mitigando não só o uso do carro mas também das motos, hoje a maior concorrente dos ônibus e que levam a um número assustador de fatalidades.
É assim, com um universo mais amplo de alternativas, que também se viabiliza uma tarifa de congestionamento de verdade, mais justa e mais eficiente.
Artigo publicado originalmente em Zero Hora em 1 de fevereiro de 2020.
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O foco ai não é em mitigar o problema dos congestionamentos, mas atender a lobbies específicos por um lado e mitigar os efeitos negativos da medida com finalidades arrecadatórias sobre o campo político-eleitoral por outro, dado que 2020 é ano de eleições municipais.
A tarifação sobre motoristas de aplicativos tem a intenção de implicar num imposto disfarçado sobre tais operações, de forma a tentar reduzir a disparidade de preços em relação aos taxis regulamentados e a tarifação sobre os veículos com placas de outras cidades que não Porto Alegre tem vistas a se garantir uma arrecadação extra com a taxa sem implicar em uma oposição por parte dos munícipes da cidade interpondo recursos e ações judiciais contra tal taxa.
Creio que tal proposta provavelmente será arquivada por conta do ônus político envolvido nisso, sendo a alternativa mais provável o recolhimento compulsório de ISSQN sobre as operações dos motoristas a serviço de apps como Uber e 99.