A mudança de uso é inevitável
Cidades são dinâmicas, e os tipos de uso do solo precisam acompanhar as mudanças pelas quais a cidade passa.
O corredor pode redefinir o uso e a ocupação da Avenida Brasil, uma das principais vias da cidade e que, no último ano, liderou o ranking de colisões com vítimas.
1 de julho de 2021Em construção desde 2014 e com previsão de finalização para 2022, o BRT TransBrasil tem potencial para se tornar um dos corredores de BRT de maior capacidade do mundo. O corredor pode redefinir o uso e a ocupação da Avenida Brasil, uma das principais vias da cidade e que, no último ano, liderou o ranking de colisões com vítimas. A avenida corta e divide uma série de bairros predominantemente de baixa renda, segregando e dificultando o acesso entre ambos os lados da via. A finalização das obras do corredor TransBrasil é uma oportunidade para reestruturação urbana desses bairros e aprimoramento dos espaços para os moradores, trabalhadores e visitantes da região.
O ITDP calculou, com base nos dados do indicador PNT, dois cenários hipotéticos que mostram os resultados em termos de acesso com a finalização da TransBrasil.
O primeiro avalia o percentual da população que atualmente acessa as estações de BRT a uma distância de 1 quilômetro do local de moradia e quanto seria esse quantitativo após o começo das operações do corredor. O resultado é promissor. Atualmente, 8,3% da população que ganha até 1 salário mínimo mora perto de uma estação de BRT. Com a finalização da obra, esse número subiria para 12,7%. São mais de 120 mil pessoas de baixa renda que estariam mais perto de uma estação. Para a população negra, os números são ainda maiores. Quase 60% a mais de pretos e pardos estariam mais próximos de uma estação. Enquanto que, para a população como um todo, seria um crescimento absoluto de quase 250 mil pessoas, cerca de 44,2%.
O segundo cenário avalia não somente o BRT, mas toda a rede de estação de média e alta capacidade, através do indicador PNT, inferindo assim o percentual de pessoas que seriam beneficiadas. Os cálculos mostram que cerca de 95 mil pessoas com renda de até 1 salário mínimo teriam mais oportunidades de deslocamento e quase 190 mil para a população geral. Os números também são positivos para pretos e pardos, com aumento de 13,4%.
Os números não mentem. A TransBrasil tem um potencial de reduzir as desigualdades, principalmente para a população negra e de baixa renda e de facilitar os deslocamentos da população no Rio de Janeiro e sua região metropolitana. Entretanto, só a sua finalização não será suficiente. A implementação do corredor TransBrasil precisa ser realizada na sua versão completa, com um corredor exclusivo até o centro da cidade e a finalização dos terminais Margaridas e Missões, que garantem a conexão. Essa é apenas uma de várias recomendações que devem ser seguidas para que os resultados esperados sejam obtidos.
Artigo publicado originalmente em ITDP Brasil em 9 de junho de 2021.
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