Parque Linear Bruno Covas tem problemas de acessibilidade para quem chega a pé
Imagem: Paulo Alves/Parque Linear Bruno Covas.

Parque Linear Bruno Covas tem problemas de acessibilidade para quem chega a pé

Mais novo parque de São Paulo na margem do Rio Pinheiros apresenta problemas de acessibilidade para quem chega a pé.

17 de agosto de 2023

Localizado em uma das áreas mais urbanizadas de São Paulo, o Parque Linear Bruno Covas Novo Rio Pinheiros será o maior parque linear da cidade, acompanhando toda a margem oeste do rio. Inaugurado em 2022, o primeiro trecho com 8,2 km conta com diversas atrações, como ciclovias, playgrounds, áreas para piqueniques e trilhas. Apesar disso, as pessoas que moram ao lado do rio desconhecem que a área é aberta ao público e que é possível usufruir do espaço, ainda que passem com frequência nas pontes sobre ele.

Tão perto, tão longe

Segundo levantamento realizado pelo Laboratório Rio Pinheiros, formado pelo escritório de urbanistas Metrópole 1:1 e a organização Instituto Caminhabilidade, em parceria com a Farah Service, que apoia, junto ao consórcio Parque Novo Rio Pinheiros, 97 comunidades estão no raio de influência do parque.

Dentre essas, algumas estão a distâncias muito curtas, separadas apenas por cerca de 8 pistas da Marginal Pinheiros (sentido Zona Sul), como a Peinha, o Real Parque e o Jardim Panorama. Considerando o deslocamento a pé até as pontes mais próximas, uma vez que a Marginal Pinheiros é uma via expressa atualmente intransponível para as pessoas, o Real Parque e o Jardim Panorama ficam a 15 minutos a pé da Ponte Morumbi — que ainda não tem acesso ao Parque -, enquanto a Peinha está a 5 minutos caminhando da Ponte João Dias — que possui uma entrada, mas que é impossível de ser acessada, já que está no meio da ponte e não há faixa de pedestres para chegar até ela.

Mulheres na ponte Morumbi observando o Parque, mas impossibilitadas de acessá-lo. (Imagem: Instituto Caminhabilidade)
Mulheres na ponte Morumbi observando o Parque, mas impossibilitadas de acessá-lo. (Imagem: Instituto Caminhabilidade)

Ou seja, atualmente, os únicos acessos ao parque em que é possível chegar caminhando são pela Ponte Cidade Jardim e pela Ponte Laguna — distantes 6,2 km entre si, equivalente a 1 hora e meia a pé. Dessa forma, as comunidades mencionadas, apesar de estarem na margem do rio, só conseguem acessar o parque em segurança caminhando cerca de 30 minutos — no caso da Peinha até a Ponte Laguna — e cerca de 1 hora — no caso do Real Parque e Jardim Panorama tanto para a Ponte Laguna quanto para a Ponte Cidade Jardim.

Para a diretora presidente do Instituto Caminhabilidade, Leticia Sabino, o modelo de privatização e concessão dos espaços públicos não tem um olhar para o entorno dos equipamentos, o que prejudica a integração das pessoas com o local. No caso do Parque Linear Bruno Covas Novo Rio Pinheiros, a especialista ressalta a urgência de aproximar as comunidades. “O parque tem o potencial de melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas que há anos são negligenciadas e mais vulnerabilizadas pelas políticas públicas e pelo planejamento urbano. Qualificar um parque tão próximo às pessoas, mas não garantir o acesso seguro é cruel e amplia ainda mais as desigualdades na cidade”, afirma, complementando: “Para ampliar os acessos, diversos atores e atrizes devem estar envolvidas”.

Aproximando as comunidades do parque

Para mudar este cenário e demandar acesso ao parque, a organização que atua há 10 anos com mobilidade urbana, Instituto Caminhabilidade, realizou o projeto Caminhando Juntas nas comunidades mencionadas, no qual promoveu oficinas participativas de diagnóstico dos trajetos a pé até as pontes mais próximas — onde é urgente que se criem entradas para o parque — e co-criou soluções com mulheres e crianças.

Mulheres na ponte João Dias identificando a precariedade e a falta de acesso ao Parque. (Imagem: Produtora do Corre)
Mulheres na ponte João Dias identificando a precariedade e a falta de acesso ao Parque. (Imagem: Produtora do Corre)

No início de fevereiro, as sugestões de melhorias foram apresentadas ao poder público em reunião na Subprefeitura do Butantã. Além da criação de um acesso na Ponte Morumbi — o que já foi apresentado pelo Instituto Caminhabilidade à concessionária do parque em 2022 como urgência para ampliar o acesso — as demandas mais necessárias são as de segurança viária, como:

• criação de faixa de pedestres com semáforo na Ponte João Dias;

• criação de faixas de pedestres para acesso à Ponte do Morumbi;

• diminuição das velocidades nas pontes e no trajeto — com sinalização;

• sinalização de prioridade de pedestres nas travessias.

Na reunião, havia representantes das subprefeituras do Butantã e do Campo Limpo e da SP Urbanismo.

Os representantes da Subprefeitura do Campo Limpo se mostraram entusiasmados para melhorar as condições de acesso e solicitaram que fosse feita uma segunda reunião, realizada no dia 27 de fevereiro. Na ocasião, sugeriram ideias como manutenção das calçadas, articulação de pinturas nos muros e até promoção de eventos esportivos no parque. Já o representante da SP Urbanismo falou sobre a possibilidade das extensões de calçadas através do urbanismo tático.

A CET foi convidada para o primeiro encontro, porém não compareceu. Agora, o Instituto Caminhabilidade está em busca de articular um encontro com a Companhia em ambas subprefeituras, já que as principais demandas precisam ser planejadas por ela.

Moradoras pedem que o Parque tenha atividades que empreguem mulheres da região

Além das soluções de segurança viária, durante as oficinas do projeto Caminhando Juntas foi constatada a falta de representatividade nas ruas, como a ausência de locais com nomes de mulheres, painéis e outros símbolos de identificação. Por isso, foi sugerido também que o parque homenageasse uma mulher em seu nome.

Além disso, a articuladora do projeto no Real Parque e Jardim Panorama, Caroline Viana, ressaltou a importância do parque como gerador de renda local e pediu que o espaço tenha atividades que empreguem as mulheres das comunidades do entorno. “Estou sempre pensando em como gerar renda para as mães na comunidade, e o parque é uma grande oportunidade”, disse.

O Instituto Caminhabilidade seguirá na articulação, pressão e demandará mais reuniões para que os acessos às comunidades do entorno sejam realizados com segurança e de forma convidativa, tornando o Parque Linear Bruno Covas Novo Rio Pinheiros um espaço acessível e de convívio para todos.

Publicado originalmente em ArchDaily em março de 2023.

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