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Estamos no ano de 1997. Você está visitando como turista uma adorável cidade rural no interior de Pernambuco. População: 3.000. Você tira um monte de fotos com sua câmera analógica para registrar essas doces memórias.
Vinte anos depois, você retorna. A adorável cidade é, agora, um centro regional de mineração. População: 100.000. O charme desapareceu embaixo de uma onda de novas construções: residenciais, comerciais e industriais. Você tira uma foto com seu smartphone onde deixa cair uma lágrima de pesar pela Nova Cidade da Mineração. Sua legenda: “Progresso?”.
Do ponto de vista de um turista, você está claramente correto. Adoráveis cidades rurais são muito mais gostosas de visitar do que centros regionais de mineração. Quase qualquer um que tenha visto fotos do antes-e-depois concordariam com você: a cidade piorou muito.
Mas qual é a grande importância do ponto de vista do turista? Turismo é só uma minúscula indústria em uma vasta economia. Se uma indústria de mineração bilionária substitui uma indústria de turismo de dez milhões de dólares, aí vai um ganho de $990 milhões para a humanidade, não “uma tragédia”.
A transformação é claramente boa para os 97.000 novos residentes da cidade. É bom para todo mundo que consome os novos produtos derivados desses minérios. E enquanto os habitantes originais provavelmente se queixam do que perderam, eles são livres para vender seus terrenos (a preços inflacionados) e se mudar para uma das muitas outras adoráveis áreas rurais.
Por que, então, a perspectiva do turista é tão atraente? Deixe-me explicar.
Percepção de turista
Como Bastiat diria, o charme turístico é “visível”, enquanto o retorno industrial é “invisível”. Você passa por um local adorável; você suspira imediatamente: “aaah.” Você passa por um campo de mineração; você imediatamente fecha a cara: “eca”. Para apreciar a maravilha da perfuração, você tem que colocar de lado sua reação instintiva e visualizar os sólidos e múltiplos benefícios da extração e exploração de substâncias minerais.
Perspectiva
Turistas precipitadamente atribuem suas aversões iniciais aos moradores locais: “se olhar para esse campo de mineração uma vez já me fazem mal, deve ser um inferno viver aqui.” Mas essa reação impulsiva ignora tudo que nós sabemos sobre adaptação hedônica. Uma vez, na saída de Sigmaringen, na Alemanha, um pneu do meu carro furou.
Quando eu elogiei o mecânico por sua idílica cidade, ele franziu a testa e refletiu, “é, acho que sim. A gente não pensa muito sobre isso.” Moral da história: se você vive em beleza todos os dias, você raramente dá muita atenção a isso — e o mesmo vale para feiura. É por isso que muitas pessoas vivem felizes em lugares que a maioria não gostaria nem de visitar.
Status de turista
Turismo tem status na nossa sociedade. Elites viajam a todos os cantos, e desdenham o povo provinciano que não pode. Como resultado, muitos de nós tratamos a beleza turística como bem de interesse social — e muitos outros fingem concordar pra reforçar nosso próprio status. As elites podem estar certas? Minha resposta padrão é “sim”, mas, como todo bem de interesse social, turismo parece uma seleção bem arbitrária.
Próximo verão eu vou passar um mês na França. É um país lindo; eu passaria feliz um ano inteiro por lá, só observando. Mas isso não significa que a França é um país especialmente maravilhoso no geral. Se a França tivesse uma população dez vezes maior com metade da sua renda per capita atual e nenhuma das suas atrações turísticas, eu provavelmente não gostaria de visitá-la. Mas, levando tudo em conta, não seria um enorme progresso?
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Há uma discussão rica e interessante sobre o papel do turismo nas cidades, especialmente quando o assunto tem forte relação com outra questão complexa, a do patrimônio. Muitas cidades hoje dependem sim, quase que exclusivamente do capital do turismo, e isso é extremamente negativo. A cidade real mas feia se faz nas bordas enquanto a espetacularização simplista de um cenário “charmoso” e “histórico” atrai turistas para uma cidade que não existe mais de verdade.
Mas os mesmos malefícios que uma cidade que agrada apenas a turistas pode trazer são semelhantes a de uma cidade se transformada de modo impiedoso por atividades econômicas de qualquer natureza. Valores de turista não podem definir uma cidade inteira, e muito menos o desenvolvimento econômico de qualquer natureza deve ser desculpa para o descaso com as memórias da cidade e para um crescimento desordenado, puramente movido por interesses capitais. Uma cultura urbana e comunitária saudável não se consolida com ideais de que os únicos valores de uma cidade sejam os econômicos. Acreditar apenas nas duas possibilidades é um atestado de morte às cidades.
Oi Cláudio, acredito que a questão é que o país teria um PIB cinco vezes maior, dado que a sua população seria 10 vezes maior apesar de ter metade da renda per capita.
Bom, mas o mote do texto é que o progresso muitas vezes deixa a cidade feia, porém a população com uma renda maior (e, portanto, com melhor qualidade de vida, apesar da paisagem). Do tipo, “a França está pior pra mim, mas melhor pros franceses.” Se a renda per capita diminuir, aí o progresso não teria vantagem nenhuma.
Oi Claudio, acredito que o que o autor está querendo dizer aqui é que a cidade terá uma população nova, cinco vezes maior, e esta população teve sua vida melhorada com a oportunidade gerada pela indústria implementada nesta cidade. Concordo que o exercício sugerido nesta frase não é exatamente prático, pois no meu entendimento é como se houvesse uma substituição dos moradores originais, apenas para efeito comparativo, e que em agregado teria um resultado de maior geração de riqueza com a população maior.
Se a França tivesse uma população dez vezes maior com metade da sua renda per capita atual e nenhuma das suas atrações turísticas, eu provavelmente não gostaria de visitá-la. Mas, levando tudo em conta, não seria um enorme progresso? // Essas frases juntas não fizeram muito sentido, algo não está bem redigido
Há uma discussão rica e interessante sobre o papel do turismo nas cidades, especialmente quando o assunto tem forte relação com outra questão complexa, a do patrimônio. Muitas cidades hoje dependem sim, quase que exclusivamente do capital do turismo, e isso é extremamente negativo. A cidade real mas feia se faz nas bordas enquanto a espetacularização simplista de um cenário “charmoso” e “histórico” atrai turistas para uma cidade que não existe mais de verdade.
Mas os mesmos malefícios que uma cidade que agrada apenas a turistas pode trazer são semelhantes a de uma cidade se transformada de modo impiedoso por atividades econômicas de qualquer natureza. Valores de turista não podem definir uma cidade inteira, e muito menos o desenvolvimento econômico de qualquer natureza deve ser desculpa para o descaso com as memórias da cidade e para um crescimento desordenado, puramente movido por interesses capitais. Uma cultura urbana e comunitária saudável não se consolida com ideais de que os únicos valores de uma cidade sejam os econômicos. Acreditar apenas nas duas possibilidades é um atestado de morte às cidades.