Ônibus elétricos podem tornar nossas cidades mais sustentáveis
Imagem: Daniël Bleumink/Flickr.

Ônibus elétricos podem tornar nossas cidades mais sustentáveis

A eletrificação das frotas de ônibus é uma oportunidade para repensar e aprimorar a rede de transporte público como um todo.

17 de fevereiro de 2022

Nas últimas décadas, as discussões sobre o enfrentamento dos desafios climáticos vem ocorrendo ao mesmo tempo em que sentimos os seus efeitos. Apesar de carros e motos serem os principais emissores de poluentes, os ônibus também têm uma participação significativa nas emissões de gases de efeito estufa e no aumento das doenças relacionadas à poluição do ar. Neste sentido, a adoção de novas tecnologias, como os ônibus elétricos e o uso de combustíveis alternativos, é essencial para reduzir os seus impactos à saúde pública e ao meio ambiente.

De acordo com a MobiliDADOS, o transporte coletivo é responsável por 40% das viagens realizadas nas regiões metropolitanas brasileiras, e o ônibus é o modo de transporte mais utilizado pela população. O uso de motores movidos a combustíveis fósseis nas frotas de ônibus é a principal razão para o aumento de doenças relacionadas à poluição do ar, pois em vista do tamanho das partículas emitidas durante a combustão, são mais perigosas do que as emitidas pelos veículos individuais motorizados. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a poluição atmosférica foi a principal causa de óbitos no país em 2016.

O impacto negativo da poluição do ar é ainda mais delicado para crianças de até 3 anos, que inspiram uma quantidade maior de partículas nocivas à saúde pois possuem uma frequência respiratória superior se compararmos com a dos adultos. No caso de idosos, que têm sistema imunológico mais debilitado, os mecanismos de defesa corporais são mais frágeis e podem se sobrecarregar quando os sintomas se agravam, podendo ocasionar mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares. O fator socioeconômico também torna pessoas de mais baixa renda mais suscetíveis aos poluentes devido à dificuldade de acesso ao atendimento médico e aos maiores níveis de exposição a poluentes locais.

pessoas subindo no ônibus
Crianças e idosos estão mais propensos a sofrerem por doenças relacionadas à poluição do ar. (Imagem: Mariana Gil/WRI Brasil)

Nas grandes cidades, este cenário é evidente. Além da exposição ao ar poluído, a população já sente os efeitos do aumento contínuo da temperatura, chuvas intensas e desastres naturais por conta das mudanças climáticas, evidenciando que medidas para mitigação das emissões de gases de efeito estufa e de poluentes locais precisam ser adotadas de forma emergencial, a exemplo da utilização de novas tecnologias e combustíveis alternativos.

Dentre as tecnologias existentes, a utilização de ônibus elétricos nas frotas de transporte público é a que pode trazer benefícios de forma mais rápida, de acordo com os estudos do International Council on Clean Transportation (ICCT).

A transição na China, na América Latina e no Brasil

A cidade de Shenzhen, na China, foi pioneira na transição para uma frota de ônibus inteiramente elétrica e já colhe diversos benefícios. Apesar de possuir uma matriz energética majoritariamente baseada no carvão, a mudança, que começou em 2009, reduziu as emissões de CO2 anuais dos ônibus em 48% e o consumo de energia em média por veículo foi 73% menor do que em 2016, quando a frota era majoritariamente de ônibus a diesel. 

frota de ônibus elétricos em Shenzhen
Shenzhen é a primeira cidade do mundo com a frota de ônibus 100% elétrica. (Imagem: dcmaster/Flickr)

No Brasil, esses benefícios poderiam ser ainda maiores considerando que 65% da energia elétrica do país é gerada por usinas hidrelétricas. Como não emitem gases nocivos à saúde ou ao meio ambiente na produção de sua fonte de energia e em sua operação diária, os ônibus elétricos brasileiros possuem um ciclo de vida sustentável, com alto potencial para contribuir para a redução das emissões locais e atmosféricas.

Além da China, outras cidades do mundo também têm avançado com sucesso nesta transição. Desde outubro de 2017, mais de 30 cidades assinaram a Declaração de Ruas Verdes e Saudáveis da rede C40, assumindo compromissos políticos para transformar suas frotas de ônibus em veículos de zero emissão. Na América Latina, algumas cidades têm tomado posições relevantes nesta discussão, como Santiago, no Chile, que tem potencial para se tornar segunda maior frota de ônibus elétricos no mundo. 

No Brasil, a discussão sobre o tema vem crescendo e diversas cidades têm realizado testes com ônibus elétricos, como São Paulo, Campinas, São Bernardo do Campo, Curitiba, Salvador e Brasília. Apesar do período de testes da tecnologia através de projetos-piloto ser importante, o tamanho e a quantidade de veículos utilizadas no momento de análise nem sempre é suficiente para entender todos os benefícios que os ônibus elétricos trazem para a população. Por este motivo, é necessário que os testes contem com o monitoramento da operação e com uma maior quantidade de veículos por frota, acompanhadas de uma estratégia de transição. 

No entanto, poucas cidades brasileiras avançaram na elaboração de planos que tratam da transição para frotas mais limpas em escala, com exceção da capital paulista. Desde a adoção da Lei do Clima em 2018, o processo de concessão para a operação da frota de ônibus na cidade de São Paulo estabeleceu uma série de metas para reduzir aos poucos as emissões de dióxido de carbono (CO2), de material particulado (MP) e de óxido de nitrogênio (NOx) ao longo dos anos, com foco na redução total até 2038.

A inclusão dos ônibus elétricos na malha de transporte

Os ônibus elétricos tornam as viagens dos usuários mais confortáveis e seguras, pois são mais silenciosos, estáveis e com melhor desempenho térmico para passageiros e condutores. Além disso, estudos mostram que eles têm custos menores de operação e manutenção para os operadores. 

Frota de ônibus elétricos em São Bernardo do Campo-SP. (Imagem: Ciete Silvério/A2IMG)

A elaboração do modelo de regulamentação do serviço de transporte a ser ofertado (seja por contrato de concessão, permissão ou autorização) é o primeiro passo na operação de um sistema e necessita de alterações profundas para tornar a transição viável e garantir a implementação em escala nas cidades. 

Além da troca do tipo de veículo que circula nas ruas, a transição para frotas com tecnologias mais limpas e de zero emissões exige um planejamento em diversas etapas. Os estágios para implementar um corredor ou linha que conte com ônibus elétricos necessita de planejamento visando evitar possíveis desafios relacionados à inovação:

• No detalhamento do modelo de regulamentação;

• Na definição do financiamento da frota;

• Na etapa de desenho da rota a ser eletrificada;

• Na definição do tipo e localização das infraestruturas de recarga;

• No monitoramento e gestão da operação;

• Na manutenção e nas atividades de suporte.

Como as cidades estão se preparando para incluir ônibus elétricos em suas frotas?

O infográfico “Ônibus Elétricos estão movendo cidades” (disponível aqui), produzido pela ITDP Brasil, traz as principais diretrizes a serem adotadas em cada uma dessas etapas, considerando a experiência de diversas cidades que já avançaram no tema. “O maior problema para o governo não é focar na mudança de tecnologia, que virá de qualquer maneira, mas focar no seu papel de fornecer a estrutura para que isso aconteça”, afirma Juan Carlos Muños, Conselheiro Executivo do BRT Center of Excellence.

A eletrificação das frotas de ônibus é uma oportunidade para repensar e aprimorar a rede de transporte público como um todo. A partir dela, abrem-se caminhos para integrarmos os modos de transporte público e ativo, dando prioridade aos ônibus nas ruas, garantindo maior velocidade e confiabilidade ao sistema. A qualidade de vida dos usuários e da população podem ser aprimoradas para além do questão climática e da poluição do ar, trazendo outros benefícios para aqueles que se deslocam diariamente nas cidades.

Artigo publicado originalmente em ITDP Brasil em 19 de fevereiro de 2020.

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  • É possível imaginar uma cidade como São Paulo tendo uma frota não só de ônibus (públicos e fretados), mas de micro-ônibus e vans, inclusive vans escolares. A próxima pergunta pode ser: de onde virá tanta matéria prima para as baterias?