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Singapura, China, Dubai (Emirados Árabes Unidos), Londres (Inglaterra), Toronto (Canadá), Hong Kong, Nova York (EUA) e Paris (França) são exemplos de lugares que vêm se verticalizando mais intensamente nos últimos anos e adotando uma série de medidas para conter a expansão de seus territórios ao mesmo tempo em que buscam atender à demanda por mais moradias e infraestrutura. Nesse sentido, essas regiões têm visto crescer cada vez mais o número de arranha-céus ou prédios altos — como também são chamados — sendo construídos em seus bairros, inclusive em áreas centrais e históricas.
Unindo inovação e planejamento, muitas dessas cidades e países criaram guias para orientar a implementação desses complexos e os tornar mais sustentáveis, verdes e em sintonia com o seu entorno. “A cada ano se edifica mais arranha-céus para se ter um melhor aproveitamento do solo.
Não é uma questão estética, é funcional, e vem acontecendo até em localidades da Europa que a gente conhece por terem prédios baixos”, observa o arquiteto e urbanista Luís Henrique Villanova, sócio/coordenador do escritório Ideia1 Arquitetura, de Porto Alegre (RS).
Ele reforça que, em um mundo cada vez mais urbano — até 2050, mais 2,2 bilhões de habitantes irão viver nos municípios, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) —, erguer esse tipo de empreendimento é ainda uma maneira de responder à escassez de residências sem espraiar as cidades.
Distintos estudos já identificaram os reflexos prejudiciais da ampliação das localidades no meio ambiente, na locomoção e nos custos de infraestrutura, aponta Villanova, que é doutorando no Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde aprofunda a investigação sobre edifícios altos. Por isso, em vez de expandir, os municípios estão crescendo para cima, subindo, salienta o profissional.
Quando uma cidade espraia os seus limites há um custo maior para levar toda a estrutura até esses novos bairros, desde o cabo de energia, sistema de coleta de esgoto e tratamento de água até o transporte coletivo, que precisa elevar a quantidade de ônibus e de paradas. Além disso, acrescenta o arquiteto, a mobilidade urbana é afetada, pois aumentam os deslocamentos e o tempo que as pessoas gastam para irem de suas casas até o trabalho ou terem acesso a espaços de lazer ou ao comércio e serviços.
Villanova assinala que a principal vantagem dos arranha-céus é conseguir reunir mais moradores em um mesmo ambiente e, dessa forma, concentrar a infraestrutura, suprindo as demandas que existam nos pontos onde eles são construídos. Ao disponibilizar mais imóveis em um terreno menor, inserindo-os em uma área já existente das localidades, ocorre também uma preservação maior do habitat natural, uma vez que a ampliação dos municípios é evitada.
Modelo de verticalização brasileiro não é eficiente
No entanto, Al enfatiza que esses impactos podem ser minimizados com projetos bem-concebidos, sendo possível, através de uma abordagem cuidadosa no desenvolvimento desses complexos, elevar as regiões verdes, aprimorar o transporte coletivo e potencializar a vitalidade de uma cidade.
Para o sócio do Ideia1, Luís Henrique Villanova, um dos problemas da verticalização no Brasil é que ela é dispersa. “Cada novo edifício alto está em um determinado lugar, eles não estão juntos formando um cluster, como vemos nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e em partes da Europa”, compara. Ele afirma que as críticas relacionadas a esses empreendimentos, como a de que eles aumentam o trânsito, são consequências da falta de concentração dos arranha-céus.
“Aqui no País temos um modelo não eficiente de prédios de altura. Em outras nações, onde eles ficam agrupados, pode-se ter habitações sem vagas de garagem, porque as pessoas conseguem fazer tudo a pé, existe comércio, lazer, residências e empregos próximos”, frisa.
As áreas centrais, como as de Porto Alegre, São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), com suas construções aglomeradas e altas são uma referência de regiões onde os cidadãos conseguem resolver questões do dia a dia caminhando: morar, ir a uma loja, almoçar e trabalhar, tudo percorrendo trajetos curtos, ressalta Villanova.
Sobre outros argumentos utilizados por aqueles que se posicionam contra novos arranha-céus, como a formação de ilhas de calor, o arquiteto pondera que esses reflexos, que ocorrem também em lugares com edifícios mais baixos, podem ser mitigados com fachadas verdes, que ajudam no conforto térmico externo e interno dos complexos e instalação de brises.
Como os prédios altos aparecem na paisagem, muitas pessoas, até por questões nostálgicas, criam um preconceito sobre eles, pois não querem ver esse panorama mudar, analisa Villanova. Ele defende ainda que uma das questões mais importantes relacionadas aos arranha-céus não deveria ser o debate sobre o quão alto eles são e sim como irão “casar” com o entorno.
“Contextualizar esses empreendimentos com a localidade, com o térreo, ter uma fachada ativa com comércio, uma praça, respeitar a altura dos edifícios vizinhos e construir essas estruturas próximas das calçadas conferem maior caminhabilidade aos projetos e são mais relevantes do que a quantidade de andares que eles vão ter”, destaca.
A esses fatores ele agrega a colocação de mais árvores nos passeios e a idealização de galerias que atravessam os arranha-céus, como o Conjunto Nacional, em São Paulo, que permite que os pedestres acessem diferentes ruas cruzando o seu térreo.
Uma maneira de abordar as controvérsias e discussões que envolvem o tema, como sombreamento e falta de espaços verdes, é oferecer um retorno para a sociedade, uma gentileza urbana, relata Stefan Al, que é também autor da obra “Supertall: How the World’s Tallest Buildings Are Reshaping Our Cities and Our Lives (Super altos: Como os Prédios mais Altos do Mundo estão Remodelando nossas Cidades e nossas Vidas)”, lançada em 2022.
O Rockefeller Center, em Nova York, é um exemplo dado por ele que, mais que uma coleção de edifícios altos, ergueu uma grande praça pública, bem como a torre comercial One Vanderbilt, que faz parte das ações de revitalização de Midtown East de Manhattan, que contribuiu com uma praça e um corredor de trânsito para qualificar o município.
Diversas estratégias e iniciativas impulsionam desenvolvimento de prédios altos pelo mundo
O século 21 é o primeiro em que mais da metade da população do planeta vive em ambientes urbanos, o que traz novos desafios para as localidades e países. O rápido aumento das cidades tem sido, na opinião do arquiteto Stefan Al, favorável para a construção de edifícios altos, especialmente na Ásia. Conforme ele, muitas nações decidiram basear sua política nacional em uma relação positiva entre crescimento econômico e urbanização, como a China, que tem uma das maiores quantidades de arranha-céus do mundo.
A classificação desse tipo de complexo é algo que também gera polêmicas, com muitos usando a altura como parâmetro. Nesses casos, explica o sócio do escritório Ideia1, Luís Henrique Villanova, prédios com mais de 100 metros seriam chamados de arranha-céus. Porém, ele indica que a maneira mais usual de fazer essa categorização é a realizada pelo Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano (Council on Tall Buildings and Urban Habitat), que considera o contexto local para definir se uma construção é um arranha-céu ou não. “Se um prédio tem 20 metros de altura e está cercado de outros de cinco metros, ele é alto. Mas, se estiver entre outros de 40 metros de altura, não”, descreve.
Entre as regiões onde estão surgindo mais empreendimentos altos, o arquiteto aponta Londres, que possui guias com diretrizes e parâmetros para inserir essas edificações no tecido urbano, especialmente nas áreas centrais, em harmonia com as construções históricas, como o Guidance on Tall Buildings e o Tall buildings: Historic England Advice Note 4.
“A capital inglesa é o município que mais se verticaliza hoje em dia e onde coexistem prédios antigos, altos e baixos”, comenta Villanova. Nova York é outro lugar listado por ele como exemplo de cidades onde os arranha-céus convivem com edifícios históricos, como o Empire States.
No quesito tecnologia e sustentabilidade, Singapura é vista pelo sócio do Ideia1 como uma referência na construção de prédios altos verdes. Para melhorar a qualidade do ar e elevar os pontos com vegetação, em 2009, foi criado o Programa Paisagismo para Espaços Urbanos e Arranha-céus (LUSH, na sigla em inglês), pelo órgão responsável pelo planejamento urbano de Singapura.
A medida incentiva a introdução de mais ambientes verdes em complexos verticalizados, seja por meio de jardins escalonados, paredes com plantas, telhados verdes ou hortas comunitárias. Saiba mais sobre a ação na matéria feita para o portal do Somos Cidade.
Em Porto Alegre, lembra Villanova, o decreto 20.746/2020, que trata dos Rooftops Sustentáveis, estimula a implementação de mais locais verdes, de lazer e convívio em terraços de edifícios residenciais e comerciais, colaborando, dessa forma, para reduzir as ilhas de calor, reter água da chuva e proporcionar mais conforto térmico e acústico.
De acordo com a lei, as coberturas de empreendimentos que tiverem elementos sustentáveis contemplados não são consideradas como áreas adensáveis e não entram no cálculo de altura permitida para os prédios.
Já Hong Kong é, para o arquiteto, um exemplo de mobilidade interna e preservação entre os lugares com o maior número de arranha-céus do planeta. Ele revela que a região tem 80% do seu território natural preservado, ficando com 20% do seu espaço para concentrar uma população de mais de 7 milhões de habitantes.
“Hong Kong precisava crescer para cima. Como os edifícios altos ficam aglomerados, com tudo mais perto, cerca de 90% dos seus residentes não usam carro em suas rotinas para se locomover, eles utilizam bicicleta, trem, metrô e ônibus. Claro que, para isso funcionar, eles possuem um transporte coletivo excelente”, avalia.
Toronto (Canadá) é outro município que tem erguido mais arranha-céus e conta com um sistema de aprovação para garantir a integração harmoniosa deles com o entorno. Melbourne (Austrália) e Rotterdam (Holanda) são mais cidades salientadas por Villanova que estão se verticalizando agilmente.
Sobre a situação no Brasil, ele reforça que os planos diretores das localidades induzem a um padrão de prédios altos dispersos. “Antes do surgimento dessas normas, anterior à década de 1960, as construções eram altas e aglomeradas, como mostram os nossos centros urbanos”, sustenta.
Tecnologia e inovação: aliados na diminuição dos efeitos dos arranha-céus
Os mais recentes softwares de simulação de cargas estruturais e de ventos e a impressão 3D, entre outras ferramentas, estão auxiliando o trabalho de tornar os edifícios altos mais eficientes em relação aos materiais e soluções empregados, argumenta o arquiteto e especialista em planejamento urbano, Stefan Al.
Segundo ele, com um leque maior de formas fabricadas por máquinas à disposição, os engenheiros conseguem idealizar estruturas que transferem as forças horizontais para o solo de maneira mais natural e eficaz.
Atualmente, há arranha-céus na China, Dubai e na Europa que têm elevadores que geram energia para os prédios durante o seu deslocamento, reduzindo o consumo, complementa Luís Henrique Villanova, sócio do Ideia1, escritório que, entre outros projetos, elaborou o edifício INN e a Torre de São Gonçalo no Parque Uma, em Pelotas (RS).
Colocar vegetação nas fachadas e usar outros materiais além do aço para se ter estruturas com alturas elevadas são outras alternativas para mitigar os reflexos desses complexos mencionadas por Villanova.
“Hoje se trabalha com concreto e existem edifícios, não tão altos, com estrutura de madeira, algo mais sustentável”, assinala o arquiteto. Ele finaliza recordando que outras iniciativas, que também são adotadas em prédios de menor porte, como a instalação de painéis fotovoltaicos para gerar energia, são utilizadas nos arranha-céus. Alguns deles, como nos Emirados Árabes Unidos e na China, possuem torres eólicas implementadas, conclui.
Publicado originalmente em Somos Cidade em abril de 2023.
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Quando li o título achei que iria ao menos comentar sobre o Plano Massa que existe em Curitiba desde os anos 70/80, que incentiva as fachadas ativas e as galerias ao longo dos corredores do expresso.
Este artigo é um belo exemplo da síndrome de vira lata, que busca exemplos lá fora e ignora o que tem aqui dentro.
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