Bairros nunca tiveram o propósito de serem imutáveis
As mudanças nos bairros e nas cidades ao longo dos anos é natural e tentar impor restrições para elas é um equívoco.
Quer investir em um empreendimento imobiliário bacana, com impacto positivo, poder de renovação urbana, que melhore a rua e o bairro todo? Pode ser feito.
27 de agosto de 2015“A Torre Eiffel foi financiada por Gustave Eiffel, o Empire State por John Jakob Raskob e Pierre Dupont, o Burj Khalifa, o arranha-céu mais alto do mundo, foi financiado pelo Sheik Mohammed Bin Rashid Al Maktoum. O primeiro arranha-céu da Colômbia está sendo financiado por eles, milhares de colombianos que acreditaram que poderiam fazer historia em sua cidade sem depender de mais ninguém.”
Assim discorre o empreendimento imobiliário colombiano BD Bacata, o projeto via crowdfunding com maior repercussão internacional até o momento. De fundos imobiliários a construções em “condomínio” a preço de custo, os financiamentos coletivos na área imobiliária não são exatamente uma novidade. O que mudou?
Seja na área pública ou na esfera privada, a construção civil sempre se mostrou um dos setores mais conservadores da economia. Complexidade operacional e alto custo de desenvolvimento tem aversão à risco como resultado natural e, por consequência, também à experimentação e à inovação. Enquanto no Estado a burocracia e a ineficiência imperam, no setor privado o investimento é restrito a poucos. As altas cifras envolvidas são a principal barreira de entrada a novos (e inovadores?) players.
Marc Kushner, arquiteto e fundador do Architizer, bem relata em sua TED Talk sobre o pêndulo imaginário que ora se posiciona ao lado da inovação, empurrado pela vanguarda da arquitetura, ora se atém ao simbolismo e tradições predominantes no mercado. A boa notícia é que o pêndulo está se movendo cada vez mais rápido. O advento das mídias sociais, sobretudo a velocidade com que as informações são transmitidas, cada vez mais aproximam teoria e pratica de mercado. O tradicional comportamento de mercado começa a dar lugar ao trabalho em rede na chamada “economia do compartilhamento”.
Pode ser o início da chamada era de Aquário, da fraternidade universal onde será possível solucionar os problemas sociais de maneira equitativa para todos ou, mais provavelmente, o resultado prático de teorias que postulam a convergência de objetivos entre economias de mercado e socialistas em suas principais virtudes. O bem individual levando ao bem comum, às relações de interdependência, à economia colaborativa, às cidades colaborativas. Aliando novas tecnologias e conceitos, as práticas antigas, como o financiamento coletivo, são reformuladas, ou “retrofitadas” – em analogia ao setor. Nasce o Crowdfunding Imobiliário, na sua primeira fase.
Quer impedir que aquela casa do século XIX seja demolida para dar lugar a um edifício de apartamentos? Você pode: organize um crowdfunding para adquiri-la e transformá-la em um centro cultural, ou mesmo um comércio local, sem depender do estado ou da boa vontade de terceiros. Quer investir em um empreendimento imobiliário bacana, com impacto positivo, poder de renovação urbana, que melhore a rua e o bairro todo? Pode ser feito. Quer apenas a rentabilidade de um investimento antes acessível apenas a grandes investidores? As ferramentas estão disponíveis.
Curtir, compartilhar, ignorar ou criticar. Caiu na rede é… “crowd”. O projeto inovador que cair nas graças do público pode ter seu resultado exponencializado, atraindo um verdadeiro exército de promotores. Assim como um projeto desastrado, ou apenas mal assimilado, pode acabar sendo abortado antes que faça mal a cidade, ou pelo menos ao bolso dos investidores, em uma espécie de validação pré-lançamento. Riscos reduzidos e mais espaço para inovação.
As ferramentas estão postas. Como iremos nos comportar do outro lado do balcão? Empoderamento do indivíduo ou apenas comportamento de manada? Engajamento com a causa ou simplesmente matemática financeira? Iniciaremos um ciclo virtuoso? Pela primeira vez temos a possibilidade de viver não apenas na cidade que queremos, mas na cidade que projetamos. Como diria Ben Parker (pra quem não acompanha a Marvel tão de perto, o tio do Homem-Aranha): “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.
Muito se diz que a arquitetura é o reflexo da sua sociedade, e talvez nunca tenhamos estado tão próximos dessa verdade.
Lucas Obino é Arquiteto e Urbanista, sócio diretor da OSPA Arquitetura e Urbanismo, escritório que conta com diversas premiações e publicações nacionais e internacionais. Também é vice presidente da AsBEA-RS e co-fundador do URBE.ME, a primeira empresa brasileira de Crowdfunding Imobiliário.
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