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O conceito da "Cidade de 15 Minutos" propõe uma mobilidade facilitada sem depender do automóvel. Como a cidade de São Paulo se encaixaria nesse contexto? Confira a análise do tempo de deslocamento dos moradores para diferentes atividades.
Muito se tem discutido sobre a “Cidade de 15 Minutos” nos debates urbanos atuais. O conceito, que ganhou notoriedade durante a gestão de Anne Hidalgo em Paris, propõe que os moradores possam acessar tudo o que precisam no dia a dia em até 15 minutos de suas casas, sem depender do carro.
Neste estudo, analisamos como São Paulo, a maior cidade do Brasil, se encontra dentro desses parâmetros. Para isso, utilizamos dados do Censo 2022 do IBGE e informações públicas sobre a localização de equipamentos urbanos presentes em sites como Geosampa e no repositório do Seade. Embora o conceito envolva diferentes modos de locomoção, focamos aqui nos deslocamentos a pé e de bicicleta para avaliar a acessibilidade da população a esses serviços.
O primeiro levantamento considerou os hospitais gerais públicos. Os dados mostram que 1.308.740 habitantes (11% da população) estão a até 15 minutos de caminhada de um hospital (Hospital Geral – Público), enquanto esse número salta para 9.340.592 (82%) quando se considera o deslocamento por bicicleta.
Mapa: Ivan Alves
Já para as UBS (Unidade Básica de Saúde), que buscam uma maior capilaridade nos bairros, os números sobem para 81% em relação aos pedestres e 100% para quem utiliza bicicleta.
Mapa: Ivan Alves
Parques e áreas verdes
Apenas 15% dos paulistanos vivem a até 15 minutos a pé de um parque urbano. No entanto, ao incluir a bicicleta como meio de transporte, esse alcance se amplia para 87% da população, evidenciando o impacto da mobilidade ativa na acessibilidade aos espaços verdes da cidade.
Mapa: Ivan Alves
Cultura e lazer
A análise dos equipamentos culturais e de lazer iniciou-se com as bibliotecas públicas. Os dados indicam que 27% da população vive a até 15 minutos de caminhada de uma biblioteca. Quando a bicicleta é incluída como meio de transporte, esse número cresce para 82%.
Seguindo a análise, teatros, cinemas e casas de shows, tanto públicos quanto privados, foram considerados. Apenas 14% da população tem acesso a esses equipamentos em um raio de 15 minutos a pé. No entanto, para ciclistas, esse percentual aumenta para 82%.
Mapa: Ivan AlvesMapa: Ivan Alves
No município de São Paulo existe a rede dos Centros Educacionais Unificados, mais conhecidos como CEUs, onde é possível encontrar cursos de capacitação, aulas de arte, shows, entre outras atividades, sendo um equipamento com grande concentração de atividades educacionais e culturais.
Mapa: Ivan Alves
Os CEUs encontram-se concentrados fora do centro expandido e são importantes equipamentos para o município de São Paulo, estando a até 15 minutos de distância de 17% da população que vai andando e 77% utilizando bicicletas.
Shopping centers
Expandindo a análise para além dos equipamentos públicos, consideramos os shopping centers com base nos dados do Geosampa. O levantamento revelou que apenas 9% da população pode acessar um shopping a pé em até 15 minutos. Já para quem se desloca de bicicleta, o alcance representa 56% dos moradores.
Mapa: Ivan Alves
Transporte metroferroviário
A proximidade dos paulistanos às estações de trem e metrô também foi avaliada. Os dados apontam que 2.578.276 pessoas (23% da população) moram a até 15 minutos a pé de uma estação. Para os ciclistas, esse número cresce para 8.989.706 pessoas (78%).
Mapa: Ivan Alves
Emprego e distribuição urbana
A jornada até o trabalho é um dos principais motivos para os deslocamentos diários em qualquer cidade, e é algo que consome muito tempo diário de grande parte da população. Ter empregos próximos às áreas residenciais não significa que todos trabalharão perto de casa, mas pode ajudar a reduzir distâncias e tempo de viagem, sendo uma estratégia essencial para diminuir o tempo médio de deslocamento e ampliar o acesso ao conceito da “cidade de 15 minutos”, já que pessoas que moram próximas às áreas com maior densidade de emprego estão mais propensas a gastar até 15 minutos se deslocando até o trabalho.
Pelos motivos citados, com base na Pesquisa Origem e Destino do Metrô de 2017, foi possível analisar a relação entre empregos e população em cada zona da cidade, criando um índice de densidade de empregos. Essa métrica auxilia na compreensão de como os postos de trabalho estão distribuídos e sua acessibilidade para a população.
O mapa abaixo demonstra uma grande concentração de empregos em algumas áreas do centro expandido, o que significa que o tempo de deslocamento diário de muitos moradores de regiões mais distantes é muito grande.
Mapa: Ivan Alves
Reflexões e desafios
Embora o estudo possa ser expandido, os levantamentos já permitem algumas conclusões significativas. A partir do resultado, foi gerado um mapa resumindo a acessibilidade na cidade a partir dos levantamentos anteriores:
Mapa: Ivan Alves
Deu-se um peso maior para áreas que estão a 15 minutos andando do que as áreas que estão a 15 minutos de bicicleta, bem como um peso maior para a rede metroferroviária em relação aos demais tipos de equipamento. É importante ressaltar que a mancha cinza escura representa a mancha urbana, a área sem mancha cinza-escuro tem uma pequena população e por isso pontua pouco.
Os mapas evidenciam a já conhecida desigualdade no acesso a equipamentos e infraestrutura entre os moradores do centro expandido e aqueles das periferias, que, apesar da alta densidade populacional, enfrentam maior escassez de oportunidades e serviços.
Outro ponto crítico é a limitação da rede metroferroviária, em especial do metrô, que atende diretamente com uma caminhada de até 15 minutos apenas 23% da população. Isso reforça a necessidade de expandir o transporte público e repensar a ocupação do território. Estratégias como o adensamento populacional em áreas com boa oferta de infraestrutura, equipamentos e empregos podem ser fundamentais para reduzir desigualdades e melhorar a mobilidade urbana.
Além disso, é importante ressaltar a importância de políticas que não considerem apenas a proximidade física dos equipamentos, mas também sua adequação às necessidades da população. Nem todas as bibliotecas oferecem acervo compatível com seus usuários, assim como equipamentos culturais nem sempre exibem atrações de seu interesse ou o shopping perto da sua casa pode não ter a loja que gostaria de ir. Da mesma forma, a existência de empregos em determinada região não significa que eles sejam compatíveis com o perfil profissional dos moradores. É por questões como essas que o sonho da “cidade de 15 minutos” é tão difícil de se concretizar em qualquer grande cidade.
É importante lembrar também que existe uma disparidade de formalização dos equipamentos privados pela cidade, provavelmente existem lugares de exposição e de espetáculos que não são formalizados e por isso não constam nas bases públicas.
O papel da bicicleta na mobilidade urbana
Por fim, é essencial incentivar e viabilizar ainda mais o transporte por bicicleta, já que, embora os dados demonstrem que ela promova acesso facilitado em até 15 minutos a diversos equipamentos, a infraestrutura cicloviária é, muitas vezes, inadequada ou mesmo inexistente, desincentivando o uso da bicicleta nos deslocamentos. É necessário reverter esse cenário com investimentos na infraestrutura cicloviária, capacitação de agentes e criação de espaços adequados, como vestiários e estacionamentos em polos de emprego e estações de transporte coletivo, bem como políticas de incentivo e educação relacionados a essa forma de se locomover pela cidade.
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