Podcast #105 | Arborização urbana
Confira nossa conversa com a engenheira florestal Isabela Guardia sobre arborização urbana.
É preciso estabelecer limites aos carros e regulamentar plataformas digitais de entrega. Proibir motos nas marginais culpa a vítima, não resolve o problema.
8 de julho de 2019A proibição da circulação de motociclistas na via expressa da Marginal Pinheiros sentido Castelo Branco começou a ser fiscalizada pela CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) na última quinta-feira (20/6). Vale lembrar que a Prefeitura já havia adotado medidas semelhantes na Marginal Tietê.
As medidas fazem parte de um Plano de Segurança Viária, que a Prefeitura de São Paulo tem implementado com o objetivo de reduzir mortes no trânsito. Dados da CET apontam que em 2018 morreram 849 pessoas no trânsito de SP, número que cresceu em relação ao ano anterior. Destes, 366 eram motociclistas. Esta foi a primeira vez, desde 1979, em que morreram mais motociclistas do que pedestres, historicamente os campeões de mortes.
Reduzir as mortes no trânsito, estabelecer uma meta e adotar medidas nesta direção é louvável. Mas cabe pergunta aqui. Ora, se quem morre mais no trânsito é o motociclista, e as Marginais e outras vias expressas são os pontos que concentram os acidentes de motoqueiros, a melhor solução é impedir os motociclistas de circular? Em outras palavras, por que apenas as potenciais vítimas são responsabilizadas por todo o ônus da sua própria morte? Aqui temos dois pontos a considerar. O primeiro é: em que pese a imprudência por parte dos motoristas de moto, não há dúvida de que a forma como os sistema viário é monopolizado pelos automóveis – com pouquíssimas restrições de velocidade – também tem grande responsabilidade na ocorrência dos acidentes. Carros atropelam e matam, mas sua onipresença na cidade não é considerada no Plano de Segurança da prefeitura. Inclusive desde o início da gestão Doria os limites de velocidade em determinadas vias de circulação, reduzidos na gestão Haddad, foram novamente elevados, sob o lema “acelera, São Paulo”.
Outro ponto a considerar quando nos colocamos diante do desafio de reduzir as mortes de motociclistas é a crescente participação deste modo de circulação na região metropolitana. De acordo com a última edição da pesquisa Origem e Destino, realizada em 2017, a participação das motos na mobilidade da cidade aumentou 42% nos últimos dez anos, muito acima percentual geral de aumento de viagens no período, que foi de 9%. O uso de motocicletas já vinha aumentando, mas tem sofrido uma verdadeira explosão como a entrada no mercado das empresas de aplicativos digitais de entrega rápida. De acordo com os dados do Sindimoto, dos 200 mil motociclistas de São Paulo, entre 30 e 40 mil são motofrentistas trabalhando com apps.
Para quem usa os aplicativos, parece um milagre: com um clique, mercadorias chegam na porta da casa ou trabalho, uma verdadeira “revolução na mobilidade, ou a logística do futuro”, de acordo com os anúncios presentes nos sites das empresas. Porém o paradoxo é que a esta hiper modernidade confortável implica uma espécie de volta a um tipo de exploração do trabalho do final do século 19, quando as pessoas esperavam nas ruas e portas das fábricas a oportunidade de oferecer seu trabalho por hora ou por dia.
Neste setor, os entregadores, denominados “parceiros” pelas empresas, são microempreendedores individuais que recebem por entrega e para poder ganhar “rodar” precisam trabalhar muito rapidamente, se expondo a riscos, inclusive a morte. Algumas empresas, inclusive, oferecem bônus a quem cumpre e supera a meta das entregas.
Diante deste quadro, proibir que os motociclistas circulem na marginal é fazer da vítima seu próprio algoz. Para não tocar nem questionar os outros elementos que fazem parte desta equação macabra.
Texto publicado originalmente em LabCidade em 27 de junho de 2019.
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Não terão pois o IPVA não tem como motivador da cobrança a circulação, mas a propriedade do veículo automotor. Não há no Brasil tributo relacionado à circulação dos veículos. A taxa de licenciamento é administrativa, refere-se ao custo de registrar um veículo. Além disso, a proibição refere-se somente à pista expressa, onde o diferencial de velocidade será maior em caso de congestionamentos. Nas pistas central e local elas estão liberadas. É o mesmo tipo de proibição que impede um caminhão de 10 toneladas de passar sobre uma ponte, ou que impede um carro com placa final 7 de circular na quinta-feira em são paulo.
A autora está equivocada sobre a grande responsabilidade dos motoristas nos acidentes envolvendo motos. Os acidentes de motos ocorrem devido ao elevado diferencial de velocidade, resultado da circulação das motos em velocidade legal em meio a carros muito mais lentos ou parados. É a famosa curva de Solomon, conceituada lá atrás, no início dos anos 1960.
A discussão de trânsito, infelizmente, sempre pende para o argumento ridículo do controle de velocidade, enquanto não se questiona o aumento brutal das máquinas de fiscalizar e a redução proporcional das pessoas que fiscalizam. Atualmente o grande inimigo do trânsito urbano chama-se smartphone — esteja ele na mão de pedestres, no guidão das motos ou nos suportes dos carros. Esse as máquinas de multar não fiscalizam, somente agentes de carne e osso.
Quando se fala em humanizar o trânsito, parece que a fiscalização não faz parte do trânsito. Precisamos humanizar a fiscalização de trânsito se queremos um trânsito mais humano. Não adianta nada usar uma máquina para multar um motorista se ele segue em frente em velocidade inadequada e mexendo impunemente no celular.
A proibição das motos, embora seja questionável, é compreensível: o diferencial de velocidade em nível perigoso acontece mesmo abaixo do limite. Enquanto não modificarmos o código de trânsito — o que não vai acontecer devido à conjuntura política do Brasil em 2020 — não teremos como regulamentar a velocidade das motos para limitar o diferencial de velocidade como acontece nos EUA, por exemplo. No fim, foi preciso uma medida radical questionável, porém eficaz. Além disso, a proibição é na pista expressa, não nas centrais/locais, que têm limites menores e, portanto, diferencial de velocidade menor e mais seguro.
Sério?!!!
Em sua foto está nitidamente claro que as suas vítimas estão trafegando em corredor, que pelo CTB é proibido. Tal ação, nas vias expressas, ocasionam quase em totalidade os acidentes onde estes mesmos perdem suas vidas.
Assim como veículos, as motos devem transitar na faixa de rolagem.
Sugiro que a CET intensifique ainda mais a fiscalização e que a placa das motocicletas sejam impressas obrigatóriamente nos capacetes, tanto na frente quanto atrás, para que os radares frontais possam identificar estes infratores crônicos.
Caro Marcelino, obrigado pela leitura e pelo comentário.
Diferente do que você falou, segundo o CTB atualmente não é proibido o trânsito entre os corredores em zona urbana, que é o caso da foto. Seguem referências:
https://jornaldocarro.estadao.com.br/motos/moto-pode-circular-no-corredor-urbano/
https://portaldotransito.com.br/noticias/moto/descubra-agora-moto-pode-ou-nao-andar-no-corredor/
Quanto à questão de segurança, especialistas divergem sobre o assunto sobre qual é mais perigoso. Para evitar acidentes, a condução responsável é necessária tanto para motociclistas como para motoristas, e tanto no corredor como na faixa.
Um abs,
Anthony
A fiscalização é eficaz na redução de velocidade, está provado. Porém, deve ser avisada, para evitar a impressão de caça a multa.
A pergunta que eu faço é a seguinte: se as motos não podem utilizar parte da oferta viária de São Paulo, elas terão desconto no IPVA?