Espaços abertos positivos
No projeto de espaços abertos, considero que um dos conceitos mais importantes é o de conformação de espaços abertos “positivos”.
Confira de 10 espaços públicos da iniciativa privada que são mais democráticos que outros exemplos de propriedade pública.
2 de junho de 2015Não há uma definição muito precisa para “espaço público”, mas no contexto do urbanismo ele normalmente difere da definição de propriedade pública ou privada com a qual estamos acostumados. Em uma cidade, um espaço público é um espaço aberto, que permite livre acesso e permanência irrestrita daqueles que gostariam de usar aquele espaço para qualquer finalidade. Neste sentido, até mesmo cafés podem ser considerados espaços públicos (ou semi-públicos) dado que, na maioria dos casos, funcionam desta forma. A distinção se torna ainda mais clara quando usamos o exemplo oposto: o escritório do presidente da República é de propriedade pública, mas certamente não pode ser considerado um espaço público.
É comum pensar que a criação de espaços públicos é uma tarefa única do poder público, sendo impossível depender da sua provisão através da iniciativa privada. A lógica é razoável: a falta de incentivos para investir em espaços públicos, pois não trazem benefícios diretos para o seu empreendedor, tornaria a sua produção escassa no mercado.
Mesmo assim, existem vários projetos de espaços públicos de qualidade pelo mundo realizados inteiramente pela iniciativa privada, mesmo já existindo o pagamento de impostos e o dever público de oferecer estes espaços em todas as cidades onde estes projetos acontecem. Seus empreendedores não buscam benefícios diretos, como na venda de um produto para um cliente, mas em outros atributos como a criação de um espaço onde seus clientes possam consumir seus produtos, ganhos de imagem valorizando sua marca e seu empreendimento e, muitas vezes, a simples doação com objetivo de fortalecer a comunidade. Pretendo mostrar aqui que tanto empreendedores como ONGs e até mesmo os próprios cidadãos, que decidem valorizar ou não esses espaços, são agentes importantes na cidade e têm muito a contribuir na produção de espaços públicos no sentido de serem abertos.
Uma crítica comum de espaços públicos de natureza privada é de que não seriam verdadeiramente públicos. No entanto, a verdade é que nenhum espaço consegue receber essa característica com facilidade. Mesmo espaços públicos de propriedade pública têm regras estabelecidas e contam com o poder da polícia para controlar atitudes indesejadas pelo governo vigente. Nossa lista mostra exemplos de espaços públicos da iniciativa privada mais democráticos que outros exemplos de propriedade pública, provando que essa característica vai variar de caso a caso.
Para ser fiel ao critério da iniciativa privada, nossa lista se restringe a espaços: não enclausurados; sem barreiras na entrada; sem custo de acesso para o usuário final; inseridos no meio urbano (onde o valor da terra é alto); financiados inteiramente pelo empreendedor; e, ainda, que não foram resultado de legislações que induziram ou obrigaram a sua existência, mas sim da intenção de quem empreendeu o espaço.
O edifício Seagram, projeto do lendário arquiteto Mies Van der Rohe, ficou pronto em 1958 com uma praça que deu respiro em meio à densa Manhattan. Emblemática, foi uma das principais inspirações para o Zoning Ordinance de Nova York de 1961, que determinou que edifícios poderiam ser maiores se deixassem espaços abertos no térreo. Ironicamente, a legislação teve consequências negativas que não foram previstas, gerando espaços públicos menos qualificados e até menos acessíveis que a praça do Seagram.
Cabot Square é a principal praça de Canary Wharf, um dos maiores empreendimentos imobiliários da atualidade, localizado na região de Tower Hamlets, em Londres. O espaço é utilizado principalmente durante o horário comercial, dada a característica do bairro como centro de negócios. No entanto, os novos empreendimentos residenciais trouxeram moradores permanentes para a região, que começam a ocupar o espaço também à noite e aos finais de semana.
A enorme praça é aberta gerando a conectividade dos espaços de um projeto denso e de uso misto na região de Camden. O espaço é atendido pelos cafés e restaurantes dos edifícios, e árvores e obras de arte foram posicionadas cuidadosamente.
O Parque Gulbenkian faz parte da Fundação Calouste Gulbenkian, uma importante fundação sem fins lucrativos portuguesa que apóia um grande espectro de atividades culturais. O jardim da sede da fundação é chamado de Parque Gulbenkian, é aberto ao público e é coberto por um projeto paisagístico espetacular, tornando-se um verdadeiro oásis no meio de Lisboa.
Yebisu Garden Place é um grande complexo de uso misto no meio de Tóquio, com apartamentos, escritórios, restaurantes, cafés, lojas e espaços culturais. Ele foi construído no antigo terreno da cervejaria Yebisu, onde era produzida desde 1890. A idealizadora do projeto foi a Sapporo Real Estate Co., subsidiária da Sapporo Holdings que, por sua vez, também é dona da cerveja Yebisu.
O Downtown Container Park é um dos principais empreendimentos do Downtown Project, um ambicioso projeto idealizado pelo Tony Hsieh, fundador da Zappos, de transformar o ultrapassado centro antigo de Las Vegas em uma região atraente e inovadora. O espaço reúne uma série de microempreendedores locais, idealizado para reforçar e unir a comunidade do bairro. Além dos espaços comerciais, também são feitos shows ao ar livre e dispõe de espaço para crianças.
Uma área verde central no campus de Harvard, é também a parte mais antiga da universidade. De forma simbólica nessa lista, campi de universidades privadas ao redor do mundo normalmente constituem espaços públicos de excelente qualidade, sendo um ponto de encontro central entre jovens universitários.
O arquiteto Norman Foster repensou totalmente o conceito do edifício de escritórios neste projeto, sendo a praça coberta no térreo um elemento marcante em uma cidade densa como Hong Kong. Essa “plaza” do edifício é utilizada como verdadeiro espaço público: é um importante ponto de encontro da comunidade filipina no final de semana e também foi palco dos protestos do Occupy Central.
Logo após a queda do Muro de Berlim, a Sony tinha planos de estabelecer sua sede em Potzdamer Platz, onde está o Sony Platz. Reunindo residências, hotéis, lojas, centro de convenções, auditórios e restaurantes, a praça é um elemento central do projeto e se tornou destino turístico obrigatório dos visitantes de Berlim.
Mesmo construído no início do século passado, muitos ainda consideram o Rockefeller Center o maior projeto privado já realizado em tempos modernos. O espaço público é um elemento central de valorização do projeto e, sempre movimentada, o espaço também abriga no inverno a pista de patinação mais lembrada do mundo.
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COMENTÁRIOS
A duvida e sobre as normas de uso. O proprietario é livre para organizar o uso?
nao ajudou em nada
Muito bem colocado! Bons espaços públicos, sejam em áreas de propriedade do governo ou de propriedade privada, são fundamentais para vitalidade das cidades mas enquanto esta discussão fica embotada por preconceitos ideológicos estamos perdendo inúmeras oportunidades. As cidades são importantes demais para serem deixadas apenas nas mãos do governo.