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A integração da micromobilidade compartilhada apresenta uma oportunidade real de expandir o acesso à cidade e oferecer às pessoas opções de mobilidade mais rápidas e baratas.
1 de novembro de 2021Quando a pandemia começou, o mundo teve de parar. Muitos modelos e funções foram interrompidos, prejudicados ou alterados completamente. A mobilidade destacou-se por sua capacidade de rápida transformação e aprimoramento. O status quo — pautado pela valorização e predomínio do automóvel particular — mudou quando números recorde de pessoas começaram a andar e pedalar mais. Esses modos ativos foram rapidamente adotados, demonstrando um verdadeiro desejo por mudança na mobilidade em todo o mundo. Parte do crescente sucesso nas taxas de deslocamentos a pé e em bicicleta em muitas cidades deve-se ao aumento do uso da micromobilidade. O termo micromobilidade refere-se a meios de transporte pequenos de tração elétrica ou humana que normalmente circulam abaixo de 25 km/h e são ideais para viagens curtas.
Veículos como bicicletas e patinetes elétricas (e-bikes e e-scooters) são algumas das opções de micromobilidade mais conhecidas. Nos primeiros meses da pandemia, algumas cidades forneceram acesso gratuito a bicicletas compartilhadas para os profissionais de saúde e outros trabalhadores essenciais. Outras forneceram e-bikes aos profissionais de saúde para facilitar deslocamentos seguros ao local de trabalho.
Os sistemas de micromobilidade compartilhada ofereceram às pessoas uma alternativa a ônibus lotados ou longas caminhadas, e continuaram a complementar os meios de transporte sustentáveis, especialmente na forma de conexões de primeiro e último trecho das viagens (last mile).
Considerando que algumas cidades ao redor do mundo ainda convivem com medidas mais rígidas de confinamento, a necessidade de opções de transporte flexíveis e confiáveis permanece óbvia e urgente. À medida que as cidades vão retomando suas atividades ou planejam a reabertura, há uma tremenda oportunidade de repensar os sistemas de mobilidade existentes. Uma nova oportunidade é a integração intencional e significativa de modos de micromobilidade compartilhada aos sistemas de transporte.
Isso ajudaria as cidades a garantir que as pessoas não voltem ao paradigma do automóvel particular e, em vez disso, possam confiar em formas de mobilidade mais seguras, resilientes e sustentáveis. Em muitas cidades, diversas estruturas de transporte estão disponíveis (redes para mobilidade a pé ou de bicicleta, transporte público e veículos de micromobilidade), mas em muitos casos elas não estão conectadas de forma a maximizar o potencial de toda a rede de transportes.
Os deslocamentos multimodais são aqueles em que as pessoas usam vários meios de transporte para chegar ao seu destino. A integração multimodal torna esses deslocamentos mais fáceis e baratos ao melhorar a conexão entre as diversas infraestruturas e formas de pagamento.
Em 2018, houve uma forte expansão na oferta de bicicletas e patinetes elétricas compartilhadas operadas por empresas privadas. Desde então, muitas cidades têm tratado a micromobilidade compartilhada com preocupação, criando e implementando regulamentações rígidas para combater eventuais impactos negativos, tais como o excesso de oferta e a condução insegura.
À medida que as cidades foram aprendendo umas com as outras, começaram a surgir recomendações de boas práticas para a regulamentação da micromobilidade compartilhada. No entanto, na maioria dos casos, apenas a regulamentação de bicicletas e patinetes compartilhadas não habilita as cidades a explorarem todo o potencial destes modos no preenchimento das lacunas de suas redes de transporte.
Embora a regulamentação seja uma ferramenta importante para gerenciar as operações, a integração da micromobilidade compartilhada apresenta uma oportunidade real de expandir o acesso à cidade e oferecer às pessoas opções de mobilidade mais rápidas e baratas.
Por essas razões, o ITDP lançou a publicação intitulada Como Maximizar a Micromobilidade: Oportunidades para integrar a micromobilidade ao transporte público. O documento explora as formas de integração multimodal adotadas pelas cidades no passado, destacando lições úteis para integrar a micromobilidade ao transporte público. A integração melhora a confiabilidade, a acessibilidade e a flexibilidade dos deslocamentos multimodais; aumenta o número de usuários de diferentes modos de transporte; e expande o percentual da população que se encontra a uma distância acessível das estações de transporte. A integração física, em particular, expande o acesso.
Os mapas abaixo — com as cidades de Jacarta (Indonésia), Cidade do México (México) e Fortaleza (Brasil) — destacam que um percentual bem mais alto da população está a 15 minutos de distância de uma estação de transporte se utilizar a bicicleta (ou outro veículo de micromobilidade), em comparação ao percentual de pessoas capazes de acessar a mesma estação a pé.
A publicação também apresenta cinco conclusões importantes para que as cidades maximizem a micromobilidade e aproveitem este momento único de transição e oportunidade. As cidades podem:
• Liderar o processo de integração e desenvolver fortes relações de trabalho com operadores privados comprometidos com a integração de serviços;
• Mudar o foco — da regulamentação da micromobilidade para o aproveitamento da micromobilidade como forma de suprir as lacunas dos sistemas de transporte existentes;
• Buscar a integração como solução para expandir o acesso;
• Começar com a integração física, conectando a rede cicloviária e construindo infraestrutura para a micromobilidade nas estações de transporte público;
• Aproveitar alterações na demanda por deslocamentos, tais como aquelas provocadas pela pandemia de Covid-19, para lançar projetos-piloto de serviços de integração.
Um primeiro passo bastante simples seria tornar permanentes as ciclovias temporárias construídas durante a pandemia, muitas das quais levam a hubs de transporte público. Ou então implantar rapidamente projetos que permitam esta conexão.
As cidades têm uma oportunidade única para integrarem de forma mais efetiva a micromobilidade a outros modos de transporte, seja como resposta à pandemia de Covid-19 ou para construir uma mobilidade de baixo carbono, auxiliando no combate às mudanças climáticas.
A integração da micromobilidade ao transporte público pode ajudar as pessoas a acessar seus destinos em menos tempo e a um custo menor do que quando esses modos encontram-se desconectados. Ao garantir que a micromobilidade e o transporte público sejam a opção mais rápida e econômica para a maioria dos trajetos, a integração pode levar a uma maior resiliência urbana, melhor qualidade do ar, menos emissões de gases de efeito estufa e cidades mais habitáveis.
Publicado originalmente em ITDP Brasil em 8 de setembro de 2021.
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