Uma breve história das cidades-satélites de Brasília
O desenvolvimento urbano da capital foi muito além do Plano Piloto, mesmo antes de sua inauguração.
Pensando em trabalhar com mobilidade urbana? Confira a entrevista exclusiva com Javier Morales Sarriera e Guilherme Tomiyoshi Nakao, especialistas na área.
18 de janeiro de 2016Ocasionalmente, leitores do Caos Planejado me pedem dicas sobre o mercado de trabalho e o mundo acadêmico na área de mobilidade urbana. Como já escrevi o texto “Como trabalhar com mobilidade urbana”, resolvi complementá-lo com este, onde comento sobre entrevistas que fiz a dois brasileiros que hoje fazem mestrado em Boston. Eles apresentam um pouco dos seus percursos profissionais e acadêmicos na área da mobilidade urbana.
Primeiro entrevistei o economista Javier Morales Sarriera, de 30 anos e natural de Porto Alegre. O Javier conta que, no fim do seu curso de graduação, ele aplicou para o mestrado em Economia no CEMFI em Madri e, ao mesmo tempo, para uma bolsa pela Fundación Carolina. Durante o mestrado em Economia no CEMFI ele conheceu alguns professores que o colocaram em contato com economistas na área de infraestrutura no Banco Mundial, onde ele depois trabalhou por 4 anos antes de mudar para o BID. No Banco Mundial e no BID ele trabalhou com análises econômicas de projetos em diversas áreas, ajudando os governos de diversos países na América Latina a realizar estudos e projetos que contribuem para o desenvolvimento dos países.
Foram projetos como: um estudo de impacto da hidrovia na Bacia do Rio São Francisco (Brasil) em cadeias de suprimento; uma análise econômica do impacto da ampliação do Canal do Panamá na economia local (Panamá); um estudo do impacto de mudança da estrutura tarifária no TransMilenio (Bogotá, Colômbia); uma assessoria técnica no processo de desenvolvimento das primeiras três concessões aeroportuárias de Guarulhos, Vircacopos e Brasília (Brasil); e pesquisas com a população de São Paulo e outras 4 grandes cidades da América Latina sobre infraestrutura urbana — um benchmarking da percepção dos diferentes serviços públicos urbanos (relatório). Ou seja, o trabalho de um especialista em transporte pode iniciar através de uma vasta gama de estudos em transporte, tanto de passageiros como de logística.
Devido a experiência no Banco Mundial e no BID, Javier aplicou para o Mestrado em Transportes no departamento de Engenharia Civil e Ambiente do MIT, que possui um interessante grupo de pesquisa em transporte urbano, e foi aceito com bolsa do próprio programa. Atualmente ele pesquisa sobre o impacto de sistemas de transporte público no meio urbano através da quantificação das externalidades (benefícios de aglomeração econômica e populacional; redução dos níveis de trânsito).
Em seguida, entrevistei o engenheiro de produção civil Guilherme Tomiyoshi Nakao, também de 30 anos, de Campo Grande. Durante a faculdade o Guilherme estagiou no LabTrans, onde participou de grandes projetos, como o PNIH — Plano Nacional de Integração Hidroviária. Depois de se formar, ele entrou para a CPTM, em São Paulo, onde trabalhou na área de Procedimentos Operacionais de Circulação de trens, elaborando e revisando procedimentos especiais para eventos (como o Lollapalooza e a Virada Cultural), e também para obras de construção civil que interferem com a circulação dos trens.
Após sua experiência na CPTM, Guilherme seguiu para o mestrado em Engenharia de Transportes na Northeastern University em Boston com bolsa do Programa Ciências sem Fronteiras. Durante o período de férias de verão de 2015 (Junho–Agosto) ele fez um estágio no MBTA. Ele estava num grupo chamado “Strategic Business Initiatives & Innovations” onde ele trabalhou com TSP — Transit Signal Priorization. Atualmente ele participa do Go Boston 2030, uma iniciativa da cidade de Boston para um planejamento de transportes participativo.
Os dois especialistas deram recomendações semelhantes para quem busca um trabalho na área de mobilidade urbana. Os principais são:
• Dominar o inglês é fundamental;
• Aproveitar a graduação para participar de projetos de iniciação científica e estágios é crucial, sendo, muitas vezes, mais importante que as aulas;
• Participar de congressos e eventos é importante, principalmente no inicio, para se familiarizar com a área e os temas atuais;
• Networking com professores e colegas faz diferença: é importante expressar os interesses e objetivos profissionais e acadêmicos com colegas e professores;
• Uma experiência no exterior é muito interessante pois dá uma visão diferente de como resolver os problemas. Viver no exterior faz você perceber que muitas coisas que consideramos normais no Brasil na verdade não são e podem ser melhoradas — especificamente para a área dos transportes, como na qualidade de serviço, na segurança e no foco no usuário;
• Ir atrás de bolsas de estudo em fundações internacionais, como a própria Fundación Carolina, uma instituição espanhola que oferece muitas bolsas de pós-graduação a estudantes latino-americanos, não se limitando por programas brasileiros. Além da Espanha e dos EUA, países como Canadá, Austrália e Inglaterra também disponibilizam recursos financeiros para alunos de pós-graduação;
• Lembrar que existem possibilidades fora do Brasil. Vários países oferecem oportunidades de pós-graduação com muito boas chances para estudantes brasileiros. As universidades fora do Brasil gostam de diversidade e estão sempre procurando pessoas com culturas e experiências diferentes.
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