Podcast #103 | Infraestrutura urbana e o custo do espraiamento
Confira nossa conversa com Samira Elias e Rodrigo Fantinel sobre espraiamento, densidade e custos de infraestrutura.
A tecnologia para que veículos dirijam sozinho é apenas um detalhe. Ela não altera em nada o problema principal causado pelos carros nas cidades: o excessivo consumo de espaço.
23 de dezembro de 2016A Copenhagenize Design Factory recentemente publicou uma foto crítica aos carros autônomos, afirmando que a tecnologia não altera em nada o problema principal causado pelos carros nas cidades: o excessivo consumo de espaço.
Eles não estão totalmente errados na sua crítica. Se encaramos a tecnologia dos veículos autônomos como um fim e não como meio para outros fins, tais como modelos de negócio inovadores, pouca coisa irá mudar. Carros autônomos talvez melhorem um pouco a vida dos ciclistas e dos pedestres mas, no final, o carro continuará sendo o rei da rua. No entanto, esta é justamente a questão que diferencia os carros autônomos: a tecnologia para que veículos dirijam sozinho é apenas um detalhe. O principal resultado são os modelos de negócios que podem (re)surgir por sua causa, mudando os padrões de viagem que existem hoje.
A tecnologia de direção autônoma por si só pode trazer muitos benefícios: segurança; conforto elevado do veículo, tornando-o praticamente uma sala ou quarto sobre rodas; o fim da necessidade de procurar estacionamento no destino, pois o veículo poderá voltar para casa sozinho; e o aumento da fluidez de tráfego, pois os carros poderão comunicar entre si, diminuindo as distâncias de segurança entre veículos e a necessidade de semáforos. Logo, para um indivíduo que compra um carro autônomo mas não altera seus padrões de viagem, as grande vantagens serão essas. Esses benefícios particulares podem então ser traduzidos em benefícios sociais: menos acidentes e redução nos seus custos associados; utilização do tempo de viagem em larga escala, pois os passageiros poderão trabalhar, comer ou relaxar; e a diminuição do engarrafamento causado pela otimização do tráfego e pela procura por estacionamento que, por si só, pode chegar a 30% do total de carros circulando no centro das cidades. Um custo social será o aumento na circulação de carros vazios voltando pra casa ou indo buscar seus passageiros.
A Uber já está testando táxis autônomos em Pittsburgh, startups de microtransporte prevêem este futuro e empresas de transporte de cargas já testam caminhões autônomos. Mas a grande disrupção virá nos novos modelos de negócio, aplicadas ao transporte público tradicional e aos sistemas de compartilhamento de veículos.
Nos sistemas de transporte coletivo público, os custos de pessoal, que incluem motoristas, chegam a 43% do valor da tarifa para o caso de São Paulo e até 70% nos EUA. Diminuir esses custos pode criar uma nova lógica de transporte público podendo mesmo tornar o sonho do passe livre realidade. Os veículos autônomos serão programados para respeitar todas as leis de trânsito, podendo permitir a abertura do mercado para múltiplas empresas operadoras. A concorrência nas ruas e novos modelos de transporte será possível sem necessidade de qualquer regulação além do Código de Trânsito, que já estaria embutido na inteligência dos veículos. Além do transporte público tradicional, os serviços de car sharing e de táxi também serão altamente beneficiados. Atualmente, carros ficam até 95% de sua vida útil parados pois precisam de um motorista para funcionar. Com veículos autônomos, carros podem estar sempre circulando e servindo outras pessoas, aumentando o tempo de uso dos veículos. Porém, esta otimização do uso do carro só irá acontecer se mudarmos substancialmente nossa percepção sobre o automóvel particular, passando a encará-lo mais como um serviço de compartilhamento do que como um bem de uso exclusivamente privado.
Não há dúvida de que o carro foi uma das maiores invenções da nossa era, permitindo avanços nunca antes vistos na mobilidade das populações. No entanto, ele foi mal compreendido por políticos, engenheiros e urbanistas, tornando-se a praga que destruiu e continua a destruir nossas cidades e a vida urbana. Este foi o resultado do rodoviarismo, uma obsessão de tornar o carro como solução única de mobilidade, atropelando, literalmente, todas as outras soluções tais como andar a pé, bicicleta e o transporte coletivo. Assim, não podemos nos focar somente na inovação tecnológica para não acabarmos cometendo os erros do passado e confirmando a previsão do Copenhagenize Design Factory. Veículos autônomos trarão muito mais mudanças do que imaginamos e possibilitarão serviços de transporte radicalmente diferente do que conhecemos hoje.
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Quando pensamos na reconstrução de bairros em regiões de informalidade, como os atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul, precisamos considerar a importância da densidade e da verticalização.
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Estruturas como bancas de jornal e os quiosques possuem muitos desafios de gestão e regulamentação. Como podemos explorar o potencial dessas estruturas e, ao mesmo tempo, garantir que elas não prejudiquem os espaços públicos?
Após uma história conturbada, o bairro Rodrigo Bueno, em Buenos Aires, teve resultados transformadores com uma estratégia que inclui a colaboração e a tomada de decisões em conjunto com os moradores.
Como as esquinas, esse elemento urbano com tanto potencial econômico, cultural e paisagístico, podem ter sido ignoradas por tanto tempo pela produção imobiliária em São Paulo? É possível reverter essa situação?
Enquanto Nova York adia seus planos para reduzir o congestionamento, o sucesso de políticas de taxa de congestionamento em outras cidades prova que essa medida não é apenas inteligente — é popular.
Não creio que uma cidade gigantesca como São Paulo esteja preparada para o passa livre. Porém, podemos pensar em uma área central onde seja possível pegar um VLT e descer em qualquer ponto dentro dessa área sem pagar passagem. É uma forma de retirar do centro os velhos, poluentes e barulhentos ônibus além dos milhares de automóveis. Concordo que os carros são os grandes responsáveis pela tragédia urbana do terceiro mundo. Ainda bem que a era dessas máquinas está próxima do fim.
caro Celso, bom te ver aqui também! acho muito difícil que o carro seja extinguido, simplesmente pelo fato que nunca o transporte publico atenderá 100% das necessidades das pessoas. e ainda teremos carros táxi, uber, etc. pode ser que seja o fim da propriedade do automóvel, mas não do seu uso
sugestão: façam um post sobre o Aprova Fácil que o Dória prometeu, dizem que a liberação de obras se dará em até 30 dias.