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Seguindo uma tendência internacional, São Paulo aprovou legislação para receber sistemas de aluguel de bicicletas sem estações fixas, os dockless bike sharing. As bicicletas ficam espalhadas pela cidade, presas a postes e árvores, por exemplo, e são localizadas pelos usuários através de um aplicativo de smartphone que informa a localização da bicicleta mais próxima. Todas as bicicletas vêm com um localizador GPS e um bom cadeado. De resto, elas são exatamente iguais às demais bicicletas de bike sharing, e os valores e formas de uso também são semelhantes.
A grande vantagem desses sistemas é que eles permitem a concorrência e uma participação maior da iniciativa privada no mercado de bike sharing. Antes, em Paris, Londres, Rio de Janeiro e Nova York, só existia um sistema de bike sharing, geralmente uma parceira público-privada em que as estações eram estrategicamente implantadas em espaço público, ocupando tipicamente parte das calçadas ou vagas de estacionamento. O novo sistema, sem estações, muda completamente esse cenário: agora qualquer empresa pode espalhar uma frota de bicicletas e oferecer serviços à população.
Suas desvantagens podem ser divididas em questões relacionadas à dinâmica dos sistemas de compartilhamento, presente também nos sistemas de car sharing; questões relacionadas com o próprio sistema e como ele é visto em outros países; e questões relacionadas com a insegurança e a falta de infraestrutura cicloviária das cidades brasileiras.
O principal problema dos sistemas de bike sharing é a má distribuição das bicicletas. As estações esvaziam rápido de manhã na periferia e enchem rápido de manhã no centro, que fica sem lugar para colocar as bicicletas. À noite, acontece o contrário — elas esvaziam rápido no centro, acabando com as bicicletas para aqueles que saem atrasados. Nessas horas entra uma van para transportar e redistribuir as bicicletas (afinal quem diria, o automóvel salvando a bicicleta). No caso das bicicletas sem estação fixa, provavelmente ficaria inviável para uma van fazer este serviço, pois elas estariam mais espalhadas pela cidade. No entanto, algumas pseudo-estações devem surgir: grandes pólos geradores de viagem terão mais bicicletas nas proximidades. A partir desses pólos, as vans podem fazer a redistribuição.
Van que faz a redistribuição de bicicletas em Boston.
A China tem, atualmente, as maiores empresas deste ramo, a ponto já ter quase dobrado o número de usuários de sistemas de bike sharing no país. No entanto, algumas cidades estão sofrendo por excesso de bicicletas espalhadas de forma desordenada. Recentemente, a cidade de Hangzhou confiscou milhares dessas bicicletas. Esse problema é mais grave no centro e pode ser evitado com alguma regulação que discipline minimamente onde e como se deve deixar essas bicicletas para o próximo usuário.
Quanto à insegurança das cidades brasileiras, esse pode ser um problema. Se a empresa dona das bicicletas não as recolher no fim do dia e voltar a distribuí-las pela cidade no dia seguinte, as bicicletas estarão mais sujeitas a roubos e vandalismo, como no caso do sistema de aluguel do Rio de Janeiro. Como não acredito que nenhuma empresa vá fazer isso, essas bicicletas terão de ser muito robustas (já é assim hoje em dia), com bons cadeados e com o GPS muito bem guardado, de preferência dentro do quadro.
Atualmente, há poucos sistemas bike sharing tradicionais no Brasil, muitos deles com pouca cobertura espacial. É o caso do Rio de Janeiro, onde o sistema deixa boa parte da cidade sem serviço. Outras cidades tentam implantar seus sistemas, mas sem muito sucesso.
Estação perto do MIT, em Boston: quase vazia às 7 da noite, lotada antes das 9 manhã.
Já outras cidades nem sequer consideram a ideia, pois a acham completamente inviável. A fraca infraestrutura cicloviária e comportamento agressivo dos motoristas é o principal motivo para tal, fazendo com que muitos gestores públicos acreditem que a cidade deles não é própria para bicicletas. Somado a isso, os sistemas tradicionais de bike sharing geralmente são projetados para não darem lucro, por isso recebem muitos patrocínios e são mantidos por grandes multinacionais.
Apesar de todas as desvantagens, se as cidades brasileiras seguirem o exemplo de São Paulo e legislarem a favor desses sistemas sem estações, a entrada deles pode finalmente colocar nosso país no mapa mundial do bike sharing e, também, convencer as pessoas a andarem mais de bicicleta em detrimento do carro particular.
O próximo passo será um sistema semelhante, mas P2P, onde um ciclista aluga sua bicicleta a outro, através de um aplicativo, no estilo AirBnB.
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Não é por nada, não, mas no meu mundo ideal todos os pontos de “bike sharing” da cidade se transformariam em bicicletários, ou paraciclos – principalmente na periferia. É vital ter lugares para PARAR a bike, mais do que ciclofaixas – e isso, mesmo nas regiões mais abastadas de S. Paulo, praticamente não existe.
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