A inimaginável cidade em 2025

A inimaginável cidade em 2025

Apps, carros autônomos e redes elétricas descentralizadas vão mudar completamente a dinâmica das nossas cidades. É possível prever e planejar o futuro da cidade?

30 de agosto de 2013

Tente imaginar uma cidade em 2025. Carros autônomos, limpos e silenciosos rondam constantemente as ruas atrás de passageiros. Utilizando um sistema descentralizado como o Waze que conhecemos hoje, os carros procuram as rotas com menor trânsito, distribuindo-os perfeitamente na infraestrutura. Taxas pela infraestrutura também são cobradas eletronicamente de acordo com a distância que eles transitam, o horário que estão nas ruas e o espaço que ocupam, impedindo a superlotação. Os carros tem gestão descentralizada e fácil acesso dos usuários, como Car2Go e Zipcar. Para chamar um deles é simples: identifique o tamanho e o modelo que você precisa através de uma listagem online, acessado pelo seu Google Glass. A qualidade do serviço pode ser avaliada através das críticas dos usuários anteriores. O preço é baixo: após a desregulamentação do trânsito em 2020 a concorrência “predatória” eliminou as empresas ineficientes, deixando apenas os melhores serviços no mercado. Além disso, seus motores elétricos são extremamente eficientes e são carregados na própria rede pública, abastecida pelas fachadas fotovoltaicas dos prédios ao invés de grandes e distantes usinas hidrelétricas que tem enorme perda na distribuição. Para serem carregados, lembrando o pequeno Roomba do início do século, os carros autônomos se direcionam para garagens na periferia da cidade, onde o custo da terra é mais baixo. As garagens atuais foram convertidas em escritórios e também em hortas hidropônicas, possibilitando comida fresca diariamente.

Este é um cenário possível para a cidade de 2025, mas muito improvável. Improvável porque é impossível prever se essas tecnologias, todas existentes hoje, realmente vão ter esse tipo de uso, ou até mesmo se vão ser legalmente permitidas — maioria delas hoje não são. Também é improvável porque até 2025 teremos muitas outras tecnologias, inovações que ainda não foram inventadas, além de possivelmente passarmos por crises econômicas, ambientais, sociais, imprevisíveis para qualquer planejador atual. A cidade de 2025 é inimaginável.

Minha última postagem tangenciou o tema de tecnologia nas cidades e como a regulação atual não permite que a cidade se adapte às transformações e aos imprevistos ao longo do tempo. Quando planejamos demais a cidade ela perde a capacidade de absorver positivamente às transformações, criando um ambiente suscetível a desastres ainda maiores. Como explica Nassib Taleb no seu último livro Antifragile, um sistema complexo e orgânico se torna cada vez mais frágil à mudanças se você tentar tirá-lo do seu caminho natural e protegê-lo demais. Se deixarmos um ser humano deitado na mesma cama durante anos, quando ele se levantar estará fraco e sensível à qualquer mudança no ambiente e no seu corpo: o mesmo se aplica para cidades.

Se você achou o cenário tecnológico que eu elaborei muito sonhador, esta postagem serve para atualizar você, leitor, mostrando o que já existe hoje e provando a necessidade de permitir dinamismo para a cidade do futuro, pois tecnologias além dessas surgem a cada semana, a cada dia. Escolhi, assim, algumas das principais tecnologias que interferem diretamente na cidade atual. Não pretendo explicar a fundo cada uma delas, mas passar um resumo de como funcionam e como podem impactar nas nossas cidades.

Carsharing

Empresas: Zipcar/Car2go

Como funciona: Empresas disponibilizam carros espalhados pela cidade inteira que podem ser facilmente desbloqueados e acessados pelos usuários. O serviço ideal para quem não quer ter um carro mas eventualmente ter acesso à um veículo individual quando necessário.

Benefícios para a cidade: Com carros compartilhados por várias pessoas o aproveitamento do espaço ocupado por ele na cidade é menor.

Bikesharing

Empresas: Citibike/Mobilicidade

Como funciona: Empresas disponibilizam racks de bicicletas pela cidade para aluguel, que podem ser desbloqueadas através de cartões especiais ou aplicativos de celular. A grande fonte de receita é através do marketing das empresas, fornecendo o serviço a um custo muito baixo para o usuário.

Benefícios para a cidade: Parte da dificuldade de andar de bicicleta na cidade é o medo de comprar uma e acabar não usando-a, além de ter um lugar para guardá-la. Os racks permitem que usuários não precisem comprar sua bicicleta, oferecendo um espaço para guardá-las após o uso.

Ridesharing

Empresas: Lyft/Uber/Sidecar

Como funciona: Uma rede de motoristas individuais é organizada através de um aplicativo para smartphone, permitindo que usuários facilmente encontrem e avaliem seus “caroneiros”.

Benefícios para a cidade: É uma forma de gerar segurança para que cidadãos dêem caronas, contribuindo para o sistema de transporte coletivo já que não precisam mais andar sozinhos nos seus carros. Este sistema poderia ser facilmente extendido para vans: a insegurança que usuários normalmente sentem em relação à qualidade do motorista.

Roomsharing

Empresas: Airbnb/Liquidspace

Como funciona: Usuários podem locar salas vazias, seja um quarto no seu apartamento, uma sala ou até mesmo uma mesa do seu escritório através de uma plataforma online. Assim como os demais serviços de compartilhamento, os sites permitem um sistema de avaliação dos usuários e dos espaços sendo alugados.

Benefícios para a cidade: O espaço construído privado é melhor utilizado, utilizando melhor os recursos existentes e contribuindo para diminuir distâncias de deslocamento dos cidadãos, que encontram espaços mais próximos de onde precisam.

Crowdfunding urbano

Empresas: Citizinvestor

Como funciona: A plataforma permite que cidadãos invistam diretamente nos projetos elaborados pela Prefeitura ao invés de através da decisão usual de um grupo de técnicos ou políticos. Cidadãos também podem, através da plataforma, submeter novos projetos para a Prefeitura que ainda não foram pensados ou aprovados.

Benefícios para a cidade: Torna os gastos com projetos públicos mais de acordo com a vontade dos cidadãos ao invés de depender de decisões políticas ou autocráticas.

GPS corrigido pelo trânsito

Empresas: Waze

Como funciona: Ao invés de simplesmente mostrar a sua rota de acordo com a menor distância, o aplicativo para smartphone corrige sua rota de acordo com o trânsito. O trânsito é calculado de forma descentralizada, já que cada usuário que estiver com o Waze ligado no trânsito envia um sinal para a central. Apenas 5% dos motoristas usando Waze são necessários para um cálculo preciso do trânsito na cidade.

Benefícios para a cidade: Além de simplesmente diminuir o tempo de cada motorista no trânsito, o aplicativo permite que a infraestrutura da cidade seja melhor utilizada já que os motoristas buscam rotas alternativas para fugir do trânsito, tendendo a equalizar a quantidade de carros pela cidade.

Fachadas fotovoltaicas

Empresas: Rukki/Onyx

Como funciona: Sensores fotovoltaicos (que transformam energia do sol em energia elétrica) são embutidos na fachada dos prédios. Estes, que normalmente recebem incidência solar o dia inteiro com enormes gastos de energia, podem converter a energia gerada pela fachada para o uso interno, e inclusive devolver o restante para a rede pública.

Benefícios para a cidade: Descentralização da geração de energia, com redução nos custos de energia e de infraestrutura, além de ser não poluente para a cidade onde é instalada.

Taxa de congestão

Empresas: IBM

Como funciona: Através de câmeras e/ou sensores espalhados pela cidade, é possível monitorar e cobrar pelo trânsito dos veículos. A taxa de congestão pode ser estabelecida em faixas fixas ao longo do dia ou variar de forma dinâmica de acordo com a demanda da infraestrutura.

Benefícios para a cidade: O custo da infraestrutura não precisa mais ser socializado, beneficiando aqueles que usam as ruas de forma mais intensiva. A infraestrutura também é melhor utilizada já que distribui o trânsito nos horários ao longo do dia. A taxa pode ser gerenciada de forma dinâmica para gerar fluxo de tráfego durante o dia inteiro, eliminando a necessidade de corredores especiais para ônibus.

Smart Parking

Empresas: Streetline/SFPark

Como funciona: Sensores são instalados nas vagas de estacionamento da cidade, podendo identificar se há ou não um carro estacionado. Esta informação é enviada para uma central que processa os dados, possibilitando saber em quais horários as vagas são mais demandadas, variando o preço da vaga de acordo. Através de um aplicativo de celular o motorista também pode visualizar onde estão as vagas livres, qual o seu preço no momento e traçar sua rota diretamente para a vaga onde vai estacionar o carro.

Benefícios para a cidade: Estudos pelo economista americano Donald Shoup mostram que em cidades grandes cerca de 20min são perdidos por motorista apenas procurando uma vaga para estacionar. Shoup estima que nos centros cerca de 30% do trânsito é gerado por motoristas circulando procurando vagas. A tecnologia age a favor da mobilidade ao facilitar o estacionamento, levar o motorista diretamente à uma vaga livre e cobrar um valor mais justo de quem usa o valioso espaço público.

Carros autônomos

Empresas: Google

Como funciona: Uma câmera giratória instalada em cima de um carro escaneia toda a informação ao redor do veículo. Estes dados são processados pelo equipamento instalado no carro, possibilitando que ele faça uma rota segura sem precisar de um motorista humano.

Benefícios para a cidade: Há uma série de previsões sobre como os carros autônomos vão transformar nossas cidades, mas muito ainda é incerto já que a tecnologia ainda não foi utilizada em escala. Algumas previsões dizem que carros autônomos funcionarão como salas móveis, já que sem motorista as poltronas podem ser viradas para o centro. Usuários também poderão guardar seus carros em lugares distantes ou edifícios garagem, chamando-os quando necessário. Isso possibilita que a área valorizada nos centros não precise ser ocupada por carros, e provavelmente veremos uma futura adaptação das garagens existentes. Caso possuam energia limpa e barata serviços podem surgir que deixem estes carros constantemente circulando as vias atrás de passageiros, onde o usuário simplesmente pára um carro que está próximo dele quando necessário. Com um tempo de resposta automático em relação ao ambiente externo, carros autônomos também prometem diminuir congestionamentos e diminuir o número de acidentes, muitas vezes causados por falhas humanas como motoristas bêbados.

Carros elétricos

Empresas: Tesla

Como funciona: Com motores 100% elétricos, estes carros podem ser carregados por qualquer fonte de energia elétrica comum.

Benefícios para a cidade: A externalidade negativa da poluição e do ruído gerado pelo trânsito termina, já que elimina-se o motor de combustão. Estes carros também têm se mostrado mais seguros, já que sem o enorme motor em frente ao motorista sobra bastante espaço frontal para o efeito “sanfona” na hora do acidente.

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