Podcast #112 | Vida urbana e saúde
Confira nossa conversa com o médico Paulo Saldiva sobre como a vida urbana, a mobilidade e a poluição afetam a saúde das pessoas.
O transporte é uma atividade meio e, para exercer sua função, é necessário que esteja disponível com equidade para todas as classes sociais.
11 de abril de 2024Recentemente aqui no Rio de Janeiro, tivemos duas situações muito parecidas no transporte público que viralizaram nas redes sociais. O primeiro caso foi do ator Francisco Vitti que foi flagrado em um ônibus municipal e, no domingo (17/03), o do goleiro Fabrício do Nova Iguaçu, que após derrotar o Vasco no Maracanã e se classificar para as finais do campeonato carioca, foi visto e fotografado saindo de Metrô do estádio.
O que era para ser um fato normal e corriqueiro, causou espanto naqueles que presenciaram a situação de utilização dos serviços de transporte público por um ator e por um jogador de futebol. Através de suas redes sociais, o ator Francisco Vitti se disse espantado com a quantidade de mensagens recebidas o chamando de humilde, por estar andando de ônibus. A resposta do Francisco foi de que ele estava sendo inteligente e não humilde. Já o goleiro Fabrício, disse que isso faz parte da rotina da maior parte do elenco do time do Nova Iguaçu, e que andar de transporte público era uma coisa normal para eles. Mas qual seria o motivo de todo esse espanto por parte das pessoas que os viram no transporte público?
A função do transporte é promover conexão e acessibilidade. As pessoas precisam chegar e sair dos locais onde irão realizar suas atividades de trabalho, lazer, e acessar os serviços públicos, como saúde e educação, por exemplo. O transporte é uma atividade meio e, para exercer sua função, é necessário que esteja disponível com equidade para todas as classes sociais.
No Brasil, o transporte público é visto como um serviço destinado para os pobres e para aqueles que não possuem outra opção. Isso tem um nome: o elitismo classista. Todo o espanto das pessoas foi no sentido de achar que atores e jogadores de futebol, que em tese pertencem a classes sociais mais altas, não deveriam ser vistas no transporte público.
Leia mais: Carro ou ônibus: quem é mais eficiente no transporte de passageiros?
A relação entre elitismo classista e transporte público no país é um reflexo das desigualdades sociais. O acesso e a qualidade do transporte público, em geral, são um reflexo das diferenças econômicas, onde as áreas mais privilegiadas recebem melhorias e investimentos, enquanto regiões periféricas sofrem com a falta de infraestrutura e serviços precários. Além disso, as tarifas muitas vezes representam um peso desproporcional para os mais pobres, limitando seu acesso a oportunidades e serviços essenciais.
Essa exclusão no transporte público perpetua um ciclo de desigualdade social, dificultando o acesso de comunidades marginalizadas a empregos, educação e outros serviços básicos. Para abordar esse problema, é crucial implementar políticas que visem a equidade no acesso ao transporte público, incluindo investimentos em infraestrutura nas áreas mais necessitadas, subsídios para tarifas e sistemas de transporte integrados que atendam às necessidades de todas as camadas da sociedade.
Na verdade, o transporte público é um serviço que tem inúmeros atributos que precisam ser mais bem explorados. É um meio muito menos poluente por passageiro que o transporte individual, ou seja, sua utilização é um ato de respeito ao meio ambiente. Necessita de menos espaço para transportar o mesmo número de pessoas, utilizando de forma mais eficiente os recursos públicos no desenvolvimento das infraestruturas. Causa muito menos acidentes de trânsito, evitando gastos desnecessários nos sistemas de saúde. Essas são apenas algumas das vantagens que podem ajudar a mudar a imagem do transporte público, deixando de ser visto como a única opção para os pobres para se tornar uma opção inteligente, como bem disse o ator Francisco Vitti.
Leia mais: Como evitar o colapso do transporte público
Artigo publicado originalmente em Connected Smart Cities, em março de 2024.
Somos um projeto sem fins lucrativos com o objetivo de trazer o debate qualificado sobre urbanismo e cidades para um público abrangente. Assim, acreditamos que todo conteúdo que produzimos deve ser gratuito e acessível para todos.
Em um momento de crise para publicações que priorizam a qualidade da informação, contamos com a sua ajuda para continuar produzindo conteúdos independentes, livres de vieses políticos ou interesses comerciais.
Gosta do nosso trabalho? Seja um apoiador do Caos Planejado e nos ajude a levar este debate a um número ainda maior de pessoas e a promover cidades mais acessíveis, humanas, diversas e dinâmicas.
Quero apoiarConfira nossa conversa com o médico Paulo Saldiva sobre como a vida urbana, a mobilidade e a poluição afetam a saúde das pessoas.
Os diferentes métodos para calcular a densidade de pessoas morando em uma determinada área podem tornar difícil o entendimento desse conceito.
Se hoje o Brasil começasse a urbanizar uma favela por semana, demoraríamos 230 anos para integrar todas as favelas e comunidades às nossas cidades. 230 anos. Ou seja, teríamos de aguardar nove gerações. Por isso, precisamos falar com urgência de soluções transitórias.
O processo de licenciamento ambiental, necessário para a aprovação de projetos nas cidades brasileiras, apresenta diversos entraves na prática.
A mudança recente na forma como o IBGE chama as favelas reflete as transformações ao longo do tempo nesses lugares e vai ao encontro de investigações acadêmicas que apontam o fortalecimento do empreendedorismo.
Iniciado em 1970, o processo de favelização na cidade de Guarulhos foi marcado por processos de migração, ações de retirada de barracos e lutas de resistência.
O domínio de facções no Brasil revela a falência do Estado e a precariedade do urbanismo formal. Transporte, serviços e espaços públicos são moldados por regras paralelas, expondo a exclusão e a desigualdade, enquanto soluções urgentes para a dignidade urbana são necessárias.
Confira nossa conversa com o jornalista Raul Juste Lores sobre o debate urbanístico no Brasil nos últimos anos.
O Coeficiente de Aproveitamento determina a área construída permitida em cada lote da cidade. Apesar de ser um instrumento importante na gestão urbana, a forma como ele é definido e aplicado no Brasil carrega diversas contradições.
COMENTÁRIOS