Jane Jacobs:  a trajetória depois de Morte e Vida das Grandes Cidades

Jane Jacobs: a trajetória depois de Morte e Vida das Grandes Cidades

Apesar do lugar central que ocupa na disciplina, o público só tem disponível em português o clássico Death and Life of Great American Cities, de 1961.

3 de maio de 2017

Nenhum teórico chega perto de influência de Jane Jacobs na disciplina dos estudos urbanos. Ela é a única a se aproximar dos gigantes da geografia e da filosofia urbana, David Harvey e Henri Lefebvre. Apesar do lugar central que ocupa na disciplina, o público só tem disponível em português seu primeiro trabalho, o clássico Death and Life of Great American Cities, publicado em 1961, quando a autora tinha 45 anos. Jacobs teve uma carreira longa, e publicou outros cinco livros sobre cidades, economia, ecologia, política e cultura, outro sobre o separatismo no Canadá, dois livros para crianças, e um livro de história política ainda aos 25 anos. Veio a falecer em 2006, dois anos depois de publicar seu último livro, o premonitório Dark Age Ahead. Estava com a cabeça cheia de ideias e projetos para dois novos trabalhos.

A passagem dos anos 1950 para os 1960 foi um período extraordinário na fundação dos estudos urbanos como hoje conhecemos. Pensadores originais da cidade apareceram como numa onda. Em 1958, os artigos de Jacobs já atraíam a atenção, inclusive da Rockefeller Foundation, que aspirava estimular o emergente campo do urban design. Desse contato resulta a Penn-Rockefeller Conference on Urban Design Criticism, na University of Pennsylvania, no mesmo ano (Laurence, 2016). Além de Jacobs, participam novos e estabelecidos expoentes do pensamento sobre cidades, notadamente Lewis Mumford, o arquiteto Louis Kahn, o economista William Wheaton e Kevin Lynch.

1. William Wheaton; 2. Lewis Mumford; 3. Ian McHarg; 4. J.B. Jackson; 5. David Crane; 6. Louis Kahn; 7. G. Holmes Perkins; 8. Arthur C. Holden; 9. Catherine Bauer; 10. Leslie Cheek, Jr.; 11. Chadbourne Gilpatric; 12. Eleanor Larrabee; 13. Jane Jacobs; 14. Kevin Lynch; 15. Gordon Stephenson; 16. Nanine Clay; 17. I.M. Pei. Pausa para a recepção na Conference on Urban Design Criticism, no Penn Institute, em Westchester, NY (1958). Fonte: Grady Clay in Laurence (2016).

A estatura que esses participantes viriam a ter em seus campos sugere algo de extraordinário nessa reunião (e nessa imagem, uma espécie de ‘santa ceia urbanística’, a la Da Vinci). Dela, viria o suporte financeiro para The Death and Life of Great American Cities. Naqueles mesmos anos, Kevin Lynch desenvolve seu método em Boston, Jersey City e Los Angeles, publicado em 1960 como The Image of the City, também com apoio da Rockefeller Foundation — e, possivelmente, o primeiro livro a incluir pesquisa empírica como pressuposto científico nos estudos urbanos, ainda que hoje não resistisse a standards empíricos rigorosos.[1]

Na Europa, Muratori e colegas estabelecem a escola tipológica italiana em Studi per una operante storia urbana di Venezza, de 1960. Gordon Cullen lança seu método de observação em Townscape em 1961. Em 1964, Christopher Alexander publica seu primeiro livro, Notes on the Synthesis of Form, um impressionante insight sobre da geração da forma, e, em 1965, inaugura a visão topológica da cidade, em paralelo à sua descrição do dualismo entre razão e intuição no processo do design, no premiado artigo “A city is not a tree”. Entre 1965 e 1968, Leslie Martin e seu orientando Lionel March publicam artigos sobre o desempenho de arranjos da forma urbana, que reuniriam no livro Urban Space and Structure, de 1972. Em 1969, Jacobs lança seu novo livro, agora sobre o papel das cidades na vida econômica. Experimentações com interação espacial aparecem no trabalho de Alan Wilson em 1967 e de Mike Batty em 1976, enquanto, entre 1972 e 1976, Hillier e colegas iniciam a enfatizar o papel sistêmico da topologia das ruas para sociedades enquanto sistemas de encontro.

As principais contribuições

Por onde o pensamento de Jacobs passou? Depois de anos de trabalho jornalístico e observações das redes de interdependências e do papel da diversidade em muitas cidades em seu país, que a levaram à condição de ‘pensadora da cidade’ em The Death and Life of Great American Cities, de 1961, até seu último trabalho como ‘pensadora da cultura’ em Dark Age Ahead, de 2004, Jacobs passou por fases distintas, ampliando progressivamente seu leque substantivo.

The Death and Life of Great American Cities (1961)

A autora lança sua crítica ferrenha ao urbanismo moderno, junto a proposições teóricas alternativas para entender o funcionamento de cidades, em The Death and Life of Great American Cities (1961) — seu único livro publicado no Brasil, como Morte e Vida das Grandes Cidades (o que aconteceu com a palavra “Americanas”, presente no título original e que define o caráter contextual, específico do livro?). Como os artigos publicados em 1958, o livro trazia ideias absolutamente estranhas ao cânone da prática e teoria urbanas de então — uma ousadia talvez mais possível a alguém vindo de fora da ortodoxia da disciplina. O feito admirável é que essas proposições radicais viriam a se tornar parte da linguagem e do ‘senso comum’ hoje na disciplina. Elas incluem a importância da rua e do contato público; a ideia dos “olhos na rua” — a relação entre a presença de aberturas e a segurança no espaço livre; e a teoria da “vizinhança bem sucedida”, no Brasil recebida como “vitalidade urbana”.

Hoje a ideia de que a diversidade é o motor da vitalidade urbana soa auto-evidente — mas só porque Jacobs venceu sua batalha teórica e alimentou uma nova ortodoxia, hoje fixada, do New Urbanism ao debate da cidade sustentável (Gordon e Ikeda, 2011). Entendo que a principal contribuição deste livro, tido frequentemente como o mais influente na disciplina, é identificar as condições da complexidade como princípios de auto-organização, animados pelos vetores da diversidade microeconômica e da forma urbana. Entretanto, veremos que o sistema teórico que Jacobs propôs em Death and Life são apenas o início das relações que ela exploraria nas suas fases seguintes. Muitas contribuições vieram depois, no seu trabalho sobre as condições da vida econômica, moral e política — a maior parte da sua obra, subestimada na nossa disciplina.[1] Temos aqui o caso em que um livro é tão bem-sucedido que termina eclipsando a obra que se segue, dentro de seu campo. O fato de que Jacobs se moveu em direção às amarrações entre cidade, sociedade, economia e, adiante, ecologia e as condições morais da vida social, possivelmente entrou em choque com as bordas dos estudos urbanos, freado pelo foco substantivo e pelas epistemologias que predominam. Entretanto, Jacobs atraiu interesse em outra área do conhecimento: a economia.

The Economy of Cities (1969)

“As pessoas ignoram os fios cotidianos que correm através da vida econômica”.[1] Jacobs abre seu livro The Economy of Cities, de 1969, com uma hipótese radical: ela propõe a rejeição da ideia de que a agricultura precede as cidades: a suposição de que cidades dependeram de uma condição de produção agricultural excedente para virem a existir. Ela propõe que a prática agricultural se desenvolve e intensifica a partir da demanda das cidades que então surgiam. Cidades emergiriam a partir de práticas comerciais e da crescente divisão do trabalho na domesticação e criação de vínculos supra-parentescos, tornando a família individual subordinada a formações sociais e econômicas maiores e mais complexas, envolvendo produtores de utensílios e objetos, construtores, comerciantes e artesãos, marcadamente na região da Anatolia (hoje, Turquia) entre 7.500 e 5.700 A.C. É a economia das cidades emergindo que criaria novos tipos de trabalho no mundo rural. “A produção rural é literalmente a criação do consumo da cidade” (p.40). Essa é uma inferência altamente inteligente, mas também arriscada, feita sem o apoio do envolvimento empírico direto, in loco, e sem o suporte do mainstream da arqueologia. Jacobs imaginava astutamente cadeias de causas e efeitos, mas o fazia apoiando inferência sobre inferência.

A hipótese é consistente: acreditar que culturas humanas produziriam tecnologias e excedentes de produção sem a demanda concreta da produção faz pouco sentido. É como inventar oferta sem haver uma demanda. Mas talvez fosse possível achar um ponto capaz de contemplar os achados arqueológicos (por exemplo, quanto a objetos e utensílios usados pelos primeiros agricultores), datados rigorosamente, e o sentido material e econômico nas práticas, tanto agriculturais quanto protourbanas, investigadas por Jacobs. A agricultura, como prática de intervenção artificial no solo, pode ser em si mais antiga que a cidade, mas a agricultura como cultura em escala parece depender da criação de uma demanda — uma demanda que, por sua vez, depende de populações suficientemente numerosas, também capazes de criar tecnologias para a agricultura como cultura. De qualquer modo, as protocidades encontradas na Anatolia, e posteriormente em outras regiões, alimentariam a atividade rural.

Essa provocação de Jacobs é só o começo. Este é possivelmente seu livro mais rico, no sentido teórico. “Como as cidades adquiriram mais divisões do trabalho que outros tipos de assentamentos?” (p.50). Ele passa a descrever a adição progressiva de novas atividades de trabalho ao trabalho existente, ou em outras palavras, como novo trabalho multiplica a divisão do trabalho: D + A è nD, onde D é a divisão do trabalho, A é a nova atividade, e n o número de novas divisões do trabalho criadas a partir da adição de A. Jacobs endereça a geração espontânea da economia, onde “um tipo de trabalho leva à outro”, e o aumento de possibilidades de combinação das divisões existentes — a progressiva adição que inclui acidentes e imprevisibilidades de combinações que hoje chamamos “serendipidade” — a inovação incidental, que vem de conexões entre ideias estranhas entre si, e da exposição a ideias e eventos que não podem ser antecipados.

Multiplicações progressivas na divisão do trabalho, a partir de novas atividades. Fonte: Jacobs (1969a)

Essa é uma das razões porque uma economia centralizada verticalmente, top down, dificulta a geração espontânea de novas atividades ou especializações. Elas travam o processo de inovação e aprofundamento da divisão do trabalho de modo orgânico, a partir de atividades e processos anteriores (p.61-2). Categorias pré-definidas e um planejamento totalizante restringem a emergência de novas atividades e técnicas a partir das antigas, e os processos combinatórios da serendipidade. Jacobs endereça aqui as condições materiais da criatividade e da inovação. A divisão do trabalho é viva e relacional em Jacobs. Jacobs descreve em detalhes o padrão de transformação de uma indústria (um setor da economia) a partir da quebra de processos de manufatura em fragmentos simples.  Produtos complexos antes importados passam a ter suas partes feitas dentro da própria economia local (uma cidade ou região), gerando a substituição dessas importações, e ganhos de aprendizado que envolvem agentes de setores distintos de uma economia, que fazem uma economia local se diversificar e expandir rapidamente.

Jacobs acreditava que esta era sua principal descoberta, pela qual ela gostaria de ser lembrada. A ideia é diretamente derivada de seu entendimento anterior das condições da diversidade, densidade e vitalidade urbana.[1] A substituição de importações, como vetor de crescimento econômico, acontece endogenamente, quando pequenas empresas expandem suas atividades com linhas adicionais de trabalho, suprindo seu mercado local. A cidade passa a exportar, enquanto amplia suas relações de importação de outras cidades e regiões, para incluir mais insumos. Na verdade, esse argumento pode servir como uma crítica das políticas de desenvolvimento econômico de regiões focadas em ‘atrair negócios’ com reduções fiscais e outros meios, à despeito da cultura de atividades que já possuem (Helie, 2010). A teoria levou algo como duas décadas para repercutir, mas foi interpretada na geografia econômica em uma direção bastante prolífica: os spillover effects ou ‘transbordamentos’ de conhecimento que acontecem quando as atividades de um setor se concentram, introduzidos pelo grande economista inglês Alfred Marshall (1890). As interações entre as pessoas nas cidades as ajuda a ter ideias e inovar. A teoria de Jacobs prevê que as indústrias localizadas em áreas altamente diversificadas cresçam mais rapidamente. Jacobs ainda se refere ao valor da diversidade e complementaridade na oferta de trabalho para reduzir o risco gerado por flutuações econômicas.[2]

The Question of Separatism: Quebec and the Struggle over Sovereignty (1980)

The Question of Separatism: Quebec and the Struggle over Sovereignty (1980) traz argumento sobre a independência da província de Quebec e seus possíveis efeitos positivos sobre outras cidades e regiões do Canadá, o livro foi criticado no próprio Canadá sobre seu entendimento da política local. Hoje fora de catálogo, examina questões históricas e políticas da separação, e suas implicações econômicas. Isso não é surpreendente, dada a tese radical de Jacobs sobre o papel das cidades superior ao dos países na geração da vida econômica — a qual viria desenvolver explicitamente em seu próximo livro.

Cities and the Wealth of Nations (1985)

A iconoclasta segue viva em Cities and the Wealth of Nations (1985), título que evoca o clássico de Adam Smith. Iniciando por revisões críticas amplas da teoria econômica desde Smith e Marx e avançando em sua afirmação da cidade na vida econômica de uma sociedade, Jacobs agora questiona o que chama de suposição não-examinada: a “tautologia mercantilista de que as nações são as entidades salientes para entender a estrutura da vida econômica” (p.30; 44). A principal (e radical) proposição de Jacobs é colocar a cidade no centro da análise econômica, explorando o mecanismo descoberto no livro anterior: as forças postas em marcha por cidades imersas em processos de substituição de suas importações — forças que moldarão redes de cidades e regiões, com efeitos sobre suas nações. A cidade deveria assumir essa proeminência, porque nações dependem de cidades como arranjos de redes de produção e inovação — uma ideia lembrada recentemente pelo conhecido economista de Harvard, Edward Glaeser (2010).

Systems of Survival (1992)

Sua abordagem avança em Systems of Survival (1992), ao expandir a ideia de Platão sobre dois sistemas de valores fundamentais, radicalmente diferentes — mas simbióticos e interdependentes: a ‘síndrome do comércio’ e a ‘síndrome do guardião’ (‘síndrome’ do grego original, significando ‘coisas que correm juntas’). O primeiro é o ‘impulso ao comércio’, a concordância voluntária como a essência da troca entre pessoas, um pilar da vida material concreta desde o início da formação de divisões complexas do trabalho. Elementos de cosmopolitanismo emergem a partir da presença de estranhos fazendo negócios em lugares comerciais e cidades — uma “necessidade funcional que se torna um traço cultural” (Jacobs, 1992:35). Por sua vez, o segundo princípio se relaciona à vida moral e à responsabilidade sobre o território, ao impulso à organização governamental ou a movimentos de grupos sociais, e à lealdade ao interesse público. Jacobs identifica esses dois princípios operando em torno de conjuntos distintos (mas complementares) de preceitos morais como a rejeição da força, o foco na eficiência e criatividade, o amparo em acordos voluntários, o respeito a contratos, o ethos do trabalho e a colaboração com estranhos, na síndrome do comércio; e a aderência à tradição, a rejeição do comércio, o respeito à hierarquia e foco na justiça e lealdade, na síndrome moral do guardião. Esses dois princípios regem instâncias distintas da vida social, como a reprodução material no primeiro caso, e a governança de grupos e territórios no segundo.

The Nature of Economies (2000)

Em The Nature of Economies (2000), Jacobs, aos 84 anos, problematiza tanto o senso comum quanto visões disciplinares estabelecidas a respeito da separação entre ‘economia’ e ‘ecologia’, e pretende abrir “uma brecha na barreira que separa a espécie humana e sua atividade do restante da natureza”.[1] Para além da raiz etimológica comum (o prefixo de ambos, ‘eco’, é derivado do grego oiko, significando ‘casa’; o sufixo ‘nomia’ significa ‘gestão’; ‘logia’ significa ‘lógica’ ou ‘conhecimento’), Jacobs evoca paralelos entre os dois campos fenomenais como “intricadas redes de interdependência” (p.20). Seu interesse é o de ampliar o estudo da ecologia como “a economia da natureza”, introduzido por estudiosos na era Vitoriana, em direção ao estudo da “natureza da economia”. A ciência econômica ainda não teria entendido que a natureza estabelece as fundações da vida humana, assim como seus limites. Paralelamente, a vida econômica é regida por processos e princípios que não seriam mera criação humana — e que, portanto, não podem ser transcendidos.

Dark Age Ahead (2004)

Em seu último livro publicado em vida, Dark Age Ahead (2004), Jacobs de certa forma se recolhe em seu papel como teórica, para assumir o papel de crítica dos tempos. Tinha então 88 anos. Havia publicado seu clássico Death and Life 43 anos antes. Mesmo que não afeita a exercícios em futurologia, Jacobs soa terrivelmente premonitória neste livro em particular. As tendências de crise cultural que aponta estendem esse senso agudo de observação — agora não mais restrito ao universo etnográfico urbano, mas a tendências de práticas e visões que, como os pequenos eventos cotidianos, constroem relações sistêmicas que vão muito além do ‘local’ e ‘contextual’.

Vital Little Plans: The Short Works of Jane Jacobs (2016)

Vital Little Plans: The Short Works of Jane Jacobs (2016) traz uma coleção de textos escritos e entrevistas publicadas em revistas entre os anos 1930 e 2000. Este volume recente é uma peça chave para conhecer a trajetória da autora. Iniciando por seus primeiros ensaios para a revista Vogue e o jornal Herald Tribune, os primeiros artigos especializados para a Architectural Forum e Fortune, bem como a transcrição de palestras, mostra o amplo leque da autora, e suas tiradas espirituosas, captadas por entrevistadores. O livro traz algo especial: trechos dos últimos textos, inéditos.

Em suma, a abordagem do desenvolvimento econômico introduzida em The Economy of Cities seria retomada no próximo projeto, apenas iniciado, Uncovering the Economy, que traz a última hipótese de Jacobs. Em seu conjunto, seus argumentos passaram por fases notadamente distintas, mas com progressão e expansão temática, fortemente amparadas nas proposições imediatamente anteriores.

A progressão do pensamento de Jacobs se mostra na sucessão de seus livros, com exceção talvez para a continuidade temática entre The Economy of Cities (1969) e Cities and the Wealth of Nations (1985), intercalada com o trabalho político The Question of Separatism (1980). Jacobs publicou todos seus livros pela mesma editora, a Random House.

Há muitos autores que se fundem com seus objetos. Não por acaso, desvelam a existência de campos inteiros. Jacobs faz a descoberta dos efeitos da morfologia em instâncias mais microscópicas que as poderosas forças centrípetas conhecidas pelos economistas; ela abre o modo como cidades se tornam fusões de sistemas materiais e sociais. Hoje, podemos dizer que a senhora sem credenciais venceu: ela se tornou a teórica mais citada e importante de uma disciplina — e foi além dela. Não posso pensar em uma história que mostre mais claramente a força das ideias.


[1] Lynch desenvolveu seu método aparentemente de modo indutivo, a partir de apenas 30 entrevistas em Boston, 15 em New Jersey e 15 em Los Angeles (Lynch, 1988 [1960]: 27). Ciente dessa limitação, o próprio Lynch introduz sua investigação como ‘preliminar’ e baseada em um ‘pequeno estudo piloto’ (Lynch, 1988; veja Marshall, 2012). Adiante, Lynch menciona o uso de hipóteses (p.156), o que não esclarece exatamente o processo (se indutivo ou dedutivo), nem como as categorias dos cinco elementos da imagem foram derivadas.

Para uma leitura mais detalhada da obra e do impacto das teorias de Jane Jacobs, veja: http://periodico.revistappc.com/index.php/RPPC/article/view/136


Vinicius M. Netto é doutor (University College London, UCL) e Professor Adjunto da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF). É autor dos livros The Social Fabric of Cities, lançado pela editora Routledge no exterior (2017), e Cidade & Sociedade (2014), e é co-organizador de Urbanidades (2012) e Efeitos da Arquitetura (2017). É também autor do documentário “Arquitetura e o Ballet da Rua” (2015) e de mais de 60 artigos e capítulos publicados no Brasil e exterior.


Bibliografia Jacobsiana

JACOBS, J. (1961) The Death and Life of Great American Cities. New York: Random House. [1993] Modern Library edition.

JACOBS, J. (1969a) The Economy of Cities. New York: Random House.

JACOBS, J. (1969b) Strategies for helping cities. American Economic Review, 59(4):652-56.

JACOBS, J. (1980) The Question of Separatism: Quebec and the Struggle over Sovereignty. Random House and 2011 Baraka Books.

JACOBS, J. (1985) Cities and the Wealth of Nations. New York: Random House.

JACOBS, J. (1992) Systems of Survival: A Dialogue on the Moral Foundations of Commerce and Politics. New York: Random House.

JACOBS, J. (2000) The Nature of Economies. New York: Random House, The Modern Library.

JACOBS, J. (2004) Dark Age Ahead. New York: Random House.

JACOBS, J. (2016a) Vital Little Plans: The Short Works of Jane Jacobs. Editado por Samuel Zipp e Nathan Storring. New York: Random House.

JACOBS, J. (2016b) The Last Interviews and Other Conversations. New York: Melville House.

Referências

ALEXANDER, C. (1965) A City is Not a Tree. Design. London: Council of Industrial Design, 206.

BATTY, M. (1976) Urban Modelling: Algorithms, Calibrations, Predictions. Cambridge, UK: Cambridge University Press

LYNCH, K. (1988) A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes. [1960]

GORDON, P.; IKEDA, S. (2011) Does Density Matter? In Handbook of Creative Cities edited by D. Andersson, A. Andersson and C. Mellander. Cheltenham: Edward Elgar, 435–455.

HELIE, M. (2010) To walk the path of Jane Jacobs. Review of What We See, Advancing the Observations of Jane Jacobs. Online. acessado em março, 2017.

MARSHALL, A. (1890) Principles of Economics. London: MacMillan.

MARSHALL, S. (2012) Science, pseudo-science and urban design. Urban Design International , 17 pp. 257-27.

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