A criança como parâmetro: cidades mais amigáveis para todos
Considerar as particularidades e ritmos dos mais novos é o passo decisivo para um planejamento urbano inclusivo.
Seria possível transformar o espaço urbano e promover maior integração entre vizinhos através da propriedade coletiva de imóveis?
29 de agosto de 2014Em 2013, logo após a introdução de nova legislação no mercado de capitais, os Estados Unidos viram surgir uma onda de portais online que prometiam democratizar o investimento em imóveis através do equity crowdfunding, termo que é usado para descrever o financiamento de um negócio contando com centenas ou milhares de pessoas.
A proposta é que o cidadão comum consiga investir uma pequena quantia para ser dono de parte do imóvel que abriga o mercadinho do seu bairro, por exemplo. De quebra, estaria ajudando a atrair negócios que tornam a vizinhança um lugar melhor.
Um ano e meio depois, mais de 50 plataformas estão no ar com projetos imobiliários de todos os tamanhos, oferecendo cotas de investimento tão baixas quanto 100 dólares, sendo as startups Fundrise e Realty Mogul os maiores destaques.
Enquanto no Brasil se aguarda a atualização de regulação para captação de dinheiro via equity crowdfunding (leia mais aqui e aqui), vale perguntar: quais são as lições aprendidas com o cenário norte-americano e o que se pode esperar dessa iniciativa?
Ainda é incerto quanto poder os investidores devem ter para ditar alterações nos rumos do negócio, já que a empresa por trás do projeto permanece como responsável legal do mesmo. Apesar disso, o engajamento gerado entre o grupo de investidores é suficiente para se criar atitudes positivas na escala da vizinhança. Basta imaginar a força da divulgação gratuita que 200 proprietários podem gerar para seu inquilino.
Vale notar também que tradicionalmente as oportunidades do mercado imobiliário eram ofertadas somente a clientes conhecidos ou corretores credenciados, um problema que as plataformas tentam resolver ao facilitar a apresentação e o relacionamento entre investidores e empresas. No entanto, o uso das plataformas ficará restrito a investidores qualificados — que possuem grande patrimônio e também experiência comprovada em investimentos — até que os órgãos reguladores norte-americanos avancem na agenda especificada pela lei.
Isso quer dizer que a divulgação das oportunidades ainda não pode ser feita ao público em geral, não havendo até o momento a participação expressiva de vizinhos dos projetos — que, afinal, são as pessoas que mais se beneficiariam em ter voz sobre o futuro do seu bairro.
Outro ponto a ser notado é que são poucas as empresas preparadas para lidar com projetos que têm vários investidores. Desde uma situação jurídica impecável até a boa observância de normas e procedimentos, muito é cobrado para que uma empresa se torne parceira de uma plataforma. Dessa forma, não é de se esperar que pequenos desenvolvedores imobiliários locais consigam facilmente oferecer seus projetos na internet, diminuindo assim as chances de regiões periféricas se beneficiarem do conceito de equity crowdfunding.
Voltando a falar de Brasil, enfrentamos um problema adicional: a falta de cultura de investimento. A discussão sobre assuntos financeiros e a prática da poupança não fazem parte do dia a dia de grande número de brasileiros, o que pode ser combatido através do desenvolvimento de material educacional e a promoção de palestras e workshops por parte das plataformas.
Certamente veremos o amadurecimento do conceito de investimento coletivo em imóveis nos EUA, e com sorte teremos também o surgimento de plataformas brasileiras. Assim como qualquer inovação, há um fator grande de imprevisibilidade em questão, mas não custa sonhar que essa será mais uma ferramenta para que boas e necessárias transformações ocorram na escala da vizinhança.
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Interessante o ponto de vista sobre o mercado imobiliário e acessibilidade. Mas porque muitas famílias ainda moram em imóveis alugados? No Brasil os financiamentos habitacionais são preversos. A renda familiar é que determina quem pode ou não financiar um imóvel, e olha que a incerteza quanto o futuro desta renda é cruel, digo isto porque os juros e correções monetárias não acompanham os salários. A um grande risco do comprador perder tudo, basta atrasar as prestações. Ainda acredito que o financiamento habitacional é um negócio de muito risco, não para as instituições financeiras, mas para as famílias. Hoje o financiamento cobre apenas 80% do valor do imóvel avaliado, mas muitas vezes o valor avaliado fica abaixo do valor de venda, tendo o comprador que arcar com as diferenças, sem contar os gastos com impostos como ITBI, cartório, taxas administrativas dos bancos, e outros. Quem mora de aluguel não tem como pagar um financiamento e arcar com as prestações até que um imóvel fique pronto. Imóveis a venda em projeto tem um custo menor, mas e os prontos para morar? Então acredito que se deve fazer uma mudança drástica nas políticas de financiamento habitaciinais. No Brasil o sonho dá casa própria pode se transformar em um pesadelo!
Excelente!! Obrigado por traduzir e trazer mais conteúdo de maneira clara e direta.
Este site está cada vez melhor.
Quem irá agradecer será o torcedor do Inter
Pois, vai ter sombra para eles.
E , cadê o sol lindo, maravilhoso sobre o Guaíba? Cadê nosso cartão postal?
Quem vai ver O sol com estes monstros na frente dele?
Os únicos beneficiados serão os construtores.