A importância socioeconômica do avanço do saneamento nas cidades brasileiras
A ampliação do acesso à água tratada e à coleta de esgoto pode trazer diversos benefícios para a economia, a saúde pública e a coesão social.
A retirada dos carros torna as fachadas mais visíveis e o aspecto visual mais agradável, atraindo pessoas.
19 de junho de 2023Boa parte do nosso espaço viário é dedicado para carros estacionados, um subsídio regressivo recebido por motoristas. Apenas na Gonçalo de Carvalho, a “rua mais bonita do mundo”, a renúncia fiscal é cerca de R$ 500 mil por ano, considerando a receita de cada vaga caso fosse cobrado seu valor de mercado para estacionar. Felizmente, algumas dessas vagas vêm sendo eliminadas para a implantação de ciclovias, executando nosso plano diretor cicloviário, que, infelizmente, pedala lentamente.
Uma das críticas é que a perda de vagas na rua prejudica o comércio, que frequentemente considera a via pública uma extensão do espaço privado para seus clientes estacionarem. Seria importante a coleta de dados para a comprovação deste efeito, pois, até o momento, múltiplos estudos em centros urbanos como Barcelona, San Francisco, Nova York e Melbourne mostram o oposto: um efeito positivo tanto no comércio quanto no valor imobiliário após projetos de humanização viária.
Os motivos são vários. A rua se torna mais segura, efeito já identificado, por exemplo, na Avenida Benno Mentz, que teve uma redução drástica nos acidentes após a implantação, mesmo considerando o efeito da pandemia.
A retirada dos carros torna as fachadas mais visíveis e o aspecto visual mais agradável, atraindo pessoas. Mas o ponto mais relevante talvez seja que os carros na rua não só ocupam muito espaço, raramente representam clientes. Ou seja, carros são ocupados por motoristas únicos, que provavelmente estão fazendo outras tarefas no bairro — ou apenas usando a via como depósito para seu carro.
A bicicleta, por outro lado, é quase imperceptível no espaço. Estudo na cidade de Portland indica que consumidores que vão às lojas de bicicleta gastam a mesma quantia que aqueles que vão de carro, fazendo compras menores, mas retornando com mais frequência (talvez por terem menos alternativas). “Mas são poucos ciclistas!”, dizem alguns. Continuarão sendo poucos se nosso plano cicloviário continuar nesta velocidade, com apenas 77 dos 495 quilômetros de faixas implantados desde 2009. Precisamos pedalar mais rápido.
Publicado originalmente em GZH em junho de 2023.
Somos um projeto sem fins lucrativos com o objetivo de trazer o debate qualificado sobre urbanismo e cidades para um público abrangente. Assim, acreditamos que todo conteúdo que produzimos deve ser gratuito e acessível para todos.
Em um momento de crise para publicações que priorizam a qualidade da informação, contamos com a sua ajuda para continuar produzindo conteúdos independentes, livres de vieses políticos ou interesses comerciais.
Gosta do nosso trabalho? Seja um apoiador do Caos Planejado e nos ajude a levar este debate a um número ainda maior de pessoas e a promover cidades mais acessíveis, humanas, diversas e dinâmicas.
Quero apoiarA ampliação do acesso à água tratada e à coleta de esgoto pode trazer diversos benefícios para a economia, a saúde pública e a coesão social.
Pequenas intervenções preventivas no desenho urbano podem ser mais valiosas do que vários policiais.
Confira nossa conversa com Janice Perlman sobre sua pesquisa nas favelas do Rio de Janeiro.
Cabo Verde, na África, tinha uma política habitacional muito voltada para a construção de novas moradias, mas reconheceu que era necessária uma nova abordagem com outras linhas de atuação. O que o Brasil pode aprender com esse modelo?
Os espaços públicos são essenciais para a vida urbana, promovendo inclusão, bem-estar e identidade coletiva, mas frequentemente são negligenciados. Investir em seu projeto, gestão e acessibilidade é fundamental para criar cidades mais justas, saudáveis e vibrantes.
O conceito da "Cidade de 15 Minutos" propõe uma mobilidade facilitada sem depender do automóvel. Como a cidade de São Paulo se encaixaria nesse contexto? Confira a análise do tempo de deslocamento dos moradores para diferentes atividades.
Conheça os projetos implementados no Rio de Janeiro para melhorar a mobilidade urbana e o acesso das crianças às suas escolas.
A taxa de vacância indica a ociosidade de imóveis em uma cidade ou região. Para construir estratégias para equilibrá-la, é preciso entender o que esse número realmente significa.
O efeito cascata na habitação, também conhecido como filtragem, sugere uma forma de lidar com o problema da acessibilidade habitacional. Porém, sua abordagem pode ser simplista e é preciso entender as complexidades da dinâmica do mercado e das cidades.
COMENTÁRIOS