O que há em comum entre o edifício mais alto em construção de Nova York e o edifício mais alto de Porto Alegre
14 de novembro de 2024Está próximo de ser concluído um dos arranha-céus mais comentados dos últimos tempos na cidade de Nova York, o JPMorgan Chase World Headquarters. Projetado pelo arquiteto Norman Foster, o edifício de 423 m de altura e 60 andares está sendo construído no terreno do demolido – maior edificação em altura já demolida – arranha-céu 270 Park Avenue, um emblemático edifício em Estilo Internacional projetado pelo escritório S.O.M., com 52 andares e 215 m de altura. Toda estrutura demolida do edifício anterior foi reutilizada para a nova edificação, rendendo premiações de sustentabilidade no mundo da construção.
Mas o que o JPMorgan Chase World Headquarters tem em comum com o edifício mais alto que já foi construído em Porto Alegre, o Santa Cruz?
Soa estranho, não é?
Porém, ambos arranha-céus têm muito mais semelhanças do que se possa imaginar.
Os dois edifícios em altura são construídos com estrutura metálica composta com concreto e, como dito anteriormente, o JPMorgan Chase reutilizou o aço da edificação anterior.
Ambas edificações são destinadas ao uso de escritórios, porém, no Edifício Santa Cruz, há apartamentos em seus últimos pavimentos.
O térreo, em ambos arranha-céus, está compatibilizado com a cidade ao seu redor. O Ed. Santa Cruz, com fachada ativa e uma galeria que dá acesso aos usos da edificação, enquanto o JPMorgan Chase, devido à sua estrutura que toca o solo, promove uma permeabilidade visual para os demais arranha-céus da Park Avenue. Além, é claro, da fachada ativa. Ademais, ambos possuem frente e entradas para duas vias.
Seus potenciais construtivos são considerados elevadíssimos. O potencial do arranha-céu de Nova York beira 40 vezes a área de seu lote. Já o do Ed. Santa Cruz atinge cerca de 20 vezes o seu terreno. Claro, o arranha-céu porto alegrense possui 316 m a menos de altura.
No entanto, a semelhança mais importante está por vir: a semelhança tipológica.
Ambos arranha-céus possuem volumetrias praticadas bastante semelhantes, a escalonada. Por óbvio, com certos parâmetros próprios, mas com os mesmos objetivos em comum: se relacionar com as edificações vizinhas, dar uma continuidade morfológica para a via em questão, criar uma escala agradável em primeiro plano e permitir uma maior entrada de luz solar nas calçadas.
E qual a grande diferença, além da altura?
Em Nova York essa tipologia de arranha-céus vem sendo construída desde 1916, com certas adequações ao longo de tantos anos de prática. Em Porto Alegre, foi praticada em um curtíssimo período de tempo, de 1952 à 1960. Depois de menos de uma década de prática, a tipologia foi barrada por sucessivos planos diretores que não permitem sua implementação. Em outras palavras, não é possível construir, em Porto Alegre, um edifício com volumetria semelhante ao do Ed. Santa Cruz há 60 anos, enquanto Nova York demonstra que se adapta e constrói essa tipologia há mais de 100 anos.
Será que os porto-alegrenses, conhecidos pelo forte bairrismo gaúcho, enxergaram, 60 anos atrás, alguma problemática que os planejadores de Nova York ainda não se deram conta?
Eis a questão.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.