O fim dos arranha-céus no Estilo Internacional

31 de maio de 2023

Em 1932, é exibida no MoMA, em Nova York, a “Modern Architecture International Exhibition”. A exposição foi organizada por Philip Johnson, Henry-Russel Hitchcock e Alfred Barr que, decididos a criar um estilo moderno legítimo, consagraram novos movimentos da arte, com linhas retas e puras que dispensavam ornamentos. Trabalhos de diversos arquitetos foram mostrados, em que prevaleciam exemplos de superfícies planas criando volumes. Foi introduzido ali o Estilo Internacional de Arquitetura. 

No quesito vertical, o maior símbolo do Estilo Internacional de arquitetura é o Seagram Building de Mies van der Rohe. Com 38 andares e 157 metros de altura, o Seagram, revestido de vidros com tonalidade alaranjada, representou o vocabulário moderno para um edifício em altura: volume puro, estrutura de aço, transparência e reflexo. Além disso, foi o primeiro edifício com fachadas revestidas inteiramente de vidro, do térreo até o último pavimento.

Para o historiador Jean-Louis Cohen, a forma do Seagram Building se estendeu muito além de Nova York, se tornando um dos modelos mais “imitados, incompreendidos e vulgarizados” na história da arquitetura. Uma abordagem “fraca” do que buscava o Estilo Internacional passou a povoar de maneira desenfreada o skyline das cidades. A vulgarização do Seagram abriu caminhos para uma arquitetura sem identidade, com grandes fachadas de vidro.

Esse aspecto, possivelmente, é um dos grandes responsáveis por tornar a paisagem urbana global homogeneizada e genérica, sem nenhum significado e sem qualquer ligação ao lugar de inserção.

Como resposta, pesquisadores alinhados com preocupações contemporâneas como lugar, cultura e meio ambiente propõem um novo olhar para o arranha-céu do século XXI. Já há em andamento projetos que substituem o modelo “caixa de vidro” escura dos arranha-céus em Estilo Internacional para abordagens mais condizentes com o local e, por vezes, até mais altos, como o caso da nova sede da JPMorgan em Nova York. 

Em 2018 foram anunciados planos para demolir o 270 Park Avenue, um dos emblemáticos arranha-céus em Estilo Internacional projetado pelo SOM, com 52 andares e 215 metros de altura. Sua demolição começou em 2020, durante a pandemia, sendo a maior edificação em altura a ser demolida. Em seu lugar, já em construção, o JPMorgan Chase World Headquarters terá 60 pavimentos e 423 metros de altura. A volumetria do novo arranha-céu possui os típicos escalonamentos de NYC, um maior aproveitamento em área construída e um térreo amarrado ao contexto local, tornando-o mais convidativo ao usuário.

Por falar em térreo mais convidativo, em Londres, o projeto 1 Undershaft, com 73 andares e 289 metros de altura, irá colocar abaixo mais um edifício em Estilo Internacional, o Aviva Tower, de 28 pavimentos e 117 metros de altura. O principal argumento para a mudança, além do enorme aproveitamento de área adicional, é o térreo integrado com a pequena praça a frente, seguindo o conceito do vizinho Leadenhall Building e liberando visuais para a Igreja St. Andrew nas estreitas ruas londrinas.

Um dos arranha-céus mais polêmicos e odiados também está com seus dias contados. A Tour Montparnesse, construída em Paris entre os anos de 1969 e 1973, com traços do Estilo Internacional de Arquitetura, será totalmente remodelada com intuito de ganhar novos ares e ser mais agradável aos olhos dos parisienses. Em 2017, foi realizado um concurso de Arquitetura vencido pelo consórcio de arquitetos franceses, Nouvelle AOM, cujo projeto traz características para suavizar os efeitos da altura da edificação. Dentre eles, jogo de escalas na volumetria e conceitos de sustentabilidade para mitigar os gastos de energia da edificação. 

Recentemente, o próprio grupo SOM propôs uma remodelação total em um dos seus projetos em Estilo Internacional da década de 1970, o Paramount Plaza. A ideia dos arquitetos é a transformação da edificação de escritórios para o uso residencial, subtraindo partes da volumetria para maior aproveitamento da luz solar e adicionando partes para o uso de terraços. O intuito é demonstrar que os edifícios de escritórios vazios, pós pandemia, podem ser transformados em outros usos e voltarem a agregar na cidade.

E assim, as elegantes linhas de um estilo de arquitetura que se popularizou a partir da década de 1960 vem perdendo sua credibilidade devido a sua falta de identidade ao local, uma vulgarização mundo afora que correntes de arquitetos buscam corrigir agora.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

Compartilhar:

VER MAIS COLUNAS