Meus preferidos em Porto Alegre

7 de fevereiro de 2025

Seja numa palestra ou numa conversa de bar, uma pergunta que sempre surge para mim é: quais são seus prédios favoritos? Parece fácil responder, mas acredite, não é. São muitos edifícios nesse mundo afora, e pensei em escrever ao longo deste ano sobre os meus preferidos. 

Para não ser tão injusto com tantos bons exemplos e não apresentar uma lista tão restrita, vou abordar os edifícios altos por cidades que possam inspirar futuros projetos. Como bom porto-alegrense, começarei apresentando os meus edifícios favoritos da minha cidade, a capital dos gaúchos.

Sem muitas novidades, pois já comentei sobre ele diversas vezes, o meu preferido é aquele que há 60 anos é o mais alto, com seus 107 metros de altura e 32 andares: o Ed. Santa Cruz. O arranha-céu porto-alegrense é um formidável exemplo de uma época em que a cidade se inspirava nas regras de Nova York e, consequentemente, promovia uma volumetria escalonada a partir de certo andar. É o primeiro edifício construído em estrutura de aço e acomoda apartamentos, escritórios e lojas no térreo com seu incrível potencial construtivo – quase dez vezes maior que a legislação atual permitiria, se não fosse um plano específico para o Centro Histórico que está difícil sair do papel.

Sob a mesma Lei nº 986/1952, o Ed. Coliseu, segundo mais alto, proporciona um admirável enquadramento para fotos a partir da entrada do Mercado Público. Admito, gostaria de vê-lo com mais dez andares, acredito que ficaria com uma proporção ainda melhor, porém, o segundo e último edifício que chega aos 100m de altura na capital merece ser citado.

Da mesma década, o escalonado Ed. Cacique. O térreo, no passado destinado a um cinema, atualmente é destinado a um supermercado. Uma grande ideia. Além disso, o edifício alto, que se “amarra” bem aos seus vizinhos, possui uma singularidade para os críticos da Lei nº 986: seus apartamentos frente e fundo demonstram a possibilidade de criar esse tipo de volumetria em terrenos profundos sem que haja “pênaltis” para algumas habitações. 

O próximo, da década de 1940, é o melhor exemplo que a cidade possui para demonstrar como um edifício em altura pode “abraçar” o seu entorno e manter certo protagonismo na ambiência. Estou falando do clássico Ed. Sulacap. Seu jogo de volumes em diferentes alturas e usos e o térreo em galeria de calçada exemplifica com excelência o desenho de cidade que se desejava conquistar naquela época. 

Incluo na lista o Ed. Jaguaribe e a sua relação direta com a calçada – sem recuos frontais. O Santa Tecla, demonstrando como “esconder” a altura com seu lote cachimbo e o Ed. Império, que devido à sua esbeltez em 26 pavimentos transmite uma sensação de proporção exemplar para um edifício alto.

Por fim, dois exemplos de edificações contemporâneas. O Ed. Parigi, de 68 m de altura, ultrapassou o limite de 52 m graças às especificidades das regras, e apesar de seu caráter dos anos 2000, possui uma particularidade interessante: o uso da base para escritório e não somente estacionamento, como normalmente seria projetado, o que faz dele um exemplo a ser seguido na legislação atual. Na mesma linha, o Ed. Artsy demonstra de maneira exemplar, independentemente das regras rígidas do Plano Diretor, que é possível dialogar com os edifícios vizinhos para que, de maneira convidativa, crie-se uma pequena praça rodeada de comércio com a escala da quadra para verticalizar-se depois. 

Como eu disse, tentaria não ser injusto. Portanto, preferi deixar de lado neste momento a monumentalidade e iconicidade de ótimos exemplos como o Palácio da Justiça e o Centro Administrativo Fernando Ferrari para abordar a relação do alto com a cidade. Espero que gostem.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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