William Whyte

26 de setembro de 2025

Observação e pesquisa aplicada

Conheci o autor americano William H. Whyte (1917-1999) quando fui a Nova York fazer dois cursos do Project for Public Spaces/PPS, em maio de 2010. O PPS é uma organização não governamental, criada em 1975 por pesquisadores que trabalharam com ele. Lá, ele era mencionado o tempo todo, e eu entendi o porquê.

Whyte tinha múltiplos interesses, habilidades e formações, mas foi um projeto que desenvolveu, contratado pela Prefeitura de Nova York, que o aproximou ainda mais do tema dos espaços públicos.

Na década de 1970, ele e sua equipe estudaram por três anos 16 praças, 3 parques e alguns outros espaços públicos de Manhattan para compreender por que alguns tinham muita vida pública e outros não. Filmaram por dias inteiros o comportamento das pessoas nos lugares, realizaram entrevistas, fotografaram, mediram alturas e larguras de bancos, contaram árvores etc. Depois ficaram horas processando esses dados, transformando-os em informações.

Foi com base nesse material que ele publicou, em 1980, “The Social Life of Small Urban Spaces” (A vida social dos pequenos espaços urbanos) e lançou um filme – imperdível! – de igual nome. Nessa obra, Whyte se preocupa mais com os atributos locais da cidade, ou seja, o lugar e a interface , do que com o contexto.

Na verdade, antes de ver o lugar, Whyte via as pessoas. A sensibilidade de seu trabalho está em identificar padrões no comportamento das pessoas nos espaços públicos. Localizações, tempo de permanência, trajetos percorridos, modalidades de encontros e despedidas, gestos, imitações, demonstrações de alegria, atividades… Só depois ele relacionava tudo isso ao lugar e seus elementos constituintes.

Whyte nunca afirma algo que não esteja baseado em exaustiva observação e tratamento crítico dos dados. Ainda assim, mesmo suas conclusões são cautelosas, como a que explica por que alguns lugares têm mais pessoas sentadas na hora de pico do que outros. Após extenso estudo das imagens, onde analisou a influência de atributos do local como: “beleza”, “insolação”, “forma”, “quantidade de espaço disponível”, encontrou relação apenas ao considerar o atributo “quantidade de espaços para sentar”. Sua conclusão: “As pessoas tendem a sentar mais onde há locais para sentar” (People tend to sit most where there are places to sit). O filme e o livro estão cheios de frases assim, deliciosas!

No livro e no filme, ele dedica um capítulo a cada elemento relevante para apoiar a vida nos espaços públicos: locais para sentar; sol, vento, árvores e água; comida; a relação com a rua de acesso. Comenta sobre o medo dos “indesejáveis”. Discorre sobre outros temas correlatos e finda falando de triangulação. Nos apêndices do livro, ele ensina a fazer levantamento usando a filmagem time-lapse e – a coisa mais importante, na minha opinião – oferece subsídios para alterar o código que regulamenta os espaços livres em Nova York (Open-Space Zoning Provisions New York City).

Por que acho isso importante? Porque ele foi contratado para entender por que alguns lugares tinham muita vida pública e outros não, e ele não só entendeu (conseguiu responder às perguntas iniciais de pesquisa), como se deu ao trabalho de fazer recomendações, deixando esse conhecimento disponível, em linguagem acessível, para que pudesse ser aplicado sem dificuldades. Gente, isso é muita coisa!

Hoje, temos todas as condições – graças a Whyte e outras pessoas incríveis – para fazer o mesmo. Realizarmos nossas pesquisas de campo e dizer para nossas prefeituras: façam isso assim, com essas características, tomando esses cuidados e vocês terão espaços públicos realmente vivos e acolhedores. 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta, professora da área de urbanismo da FAU/UnB. Adora levantamento de campo, espaços públicos e ver gente na rua. Mora em Brasília. ([email protected])
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