Na última coluna comento sobre a vulgarização de um estilo de arquitetura que datou época à sua rejeição nos dias de hoje e, pontualmente, apresento um novo olhar para o arranha-céu. Uma visão alinhada por questões contemporâneas como lugar, cultura e meio ambiente que em minha dissertação de mestrado exponho, com estudos de casos, como pesquisadores interpretam o edifício em altura do século XXI.
Estudiosos do Council on Tall Building and Urban Habitat, ao criticarem um modelo “caixa de vidro” de arranha-céu que foi replicado mundo afora, estabelecem uma nova abordagem para a tipologia ligada a princípios que poderiam ser a resposta para um edifício em altura mais relacionado ao seu local.
O intuito desta nova visão é de inspirar um ponto de vista mais regionalista das edificações em altura para que ela se pareça pertencente à história do lugar, com caráter e identidade, e não mais uma volumetria genérica inserida no terreno. Portanto, na pesquisa, explorei três conceitos — Contexto, Cultura e Meio Ambiente — que permitem uma investigação sobre a real qualidade arquitetônica dos arranha-céus desdobrados a partir de três perguntas.
Como é possível um arranha-céu se contextualizar no tecido urbano já existente?
Edifícios altos podem mudar significativamente a paisagem de uma cidade. No local certo, podem contribuir para skylines que identifiquem uma imagem clara de lugar. Fatores morfológicos devem ser levados em conta para que haja diálogo entre edificações. A finalidade é fazer relações entre arranha-céus, formando paisagens únicas e identificáveis no contexto da cidade.
Porém, pouco importa a altura se as edificações altas não se relacionarem com o nível térreo. Pois, além de ser o encontro entre a base e o solo, é onde o fluxo de pessoas acontece e poderá interferir na vitalidade de uma cidade. Esse é o ponto que há a possibilidade de se conformar um lugar com origem no acontecimento arquitetônico que se desdobra, a partir das relações estabelecidas pela base dos arranha-céus. O edifício alto deverá respeitar o que já está construído e criar relações contextuais a partir de seus primeiros andares.
Como a cultura poderia ser traduzida para um arranha-céu?
A cultura pode ser o aspecto mais intangível ao associar a um arranha-céu, pois está relacionada aos padrões de vida, manifestando-se nos costumes, atividades e expressões da população. O desafiador é expressar o contexto cultural através do design e a resposta poderia vir de uma investigação mais profunda sobre a história do lugar, para que as soluções convencionais possam alcançar um modelo arquitetônico mais autêntico em termos modernos.
A busca por um arranha-céu regionalista, pode-se dizer, está na estratégia de uma reinterpretação dos temas da cultura de um determinado local e das opções de projeto, que não são isentas. Nesse caso, com relação a uma pauta que envolve questões sociais implicadas na interpretação dos símbolos culturais de uma sociedade.
As questões de identidade cultural ao lugar poderão aparecer na edificação em altura de forma literal, ou em características que podem ser interpretadas como indiretas, ligadas ao programa do edifício e a novos usos que esses arranha-céus irão fornecer.
Como utilizar um edifício em altura em prol do meio ambiente?
O primeiro ponto é entender que o arranha-céu não é uma tipologia de edificação ecológica e, sim, o tipo que mais consome energia devido sua dimensão. Mas, como cada vez mais é inevitável a construção dessa tipologia, deve-se pensar em como mitigar os maus efeitos. Para isso, análises das características ambientais do local são cruciais para que haja uma proposta ecológica.
Nesse sentido, os arranha-céus deveriam não só entender e respeitar os aspectos climáticos, mas deveriam maximizar o potencial do clima para um uso mais sustentável da edificação. Isto é, utilizar o vento e a pressão do ar para uma ventilação natural do edifício.
Usar a luz solar para captação de energia. A água da chuva poderia ser absorvida para reutilização dos usuários. A vegetação poderia beneficiar a qualidade térmica do arranha-céu. Produzir sombreamento adequado na volumetria do edifício alto.
As respostas explicativas dos três conceitos, para uma nova visão do arranha-céu, não foram analisadas para serem aplicadas separadamente, e sim utilizadas em conjunto. Porém, nem sempre será possível. A maneira abordada na coluna serve para fundamentar o que cada conceito estudado em minha dissertação significa. Há ainda outras várias possibilidades para serem exploradas.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.