Em outubro, Toronto será palco da Conferência Internacional do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) com o tema “From the Ground Up: Tall Buildings and City-Making”. A cidade, que já era símbolo de uma incrível verticalização, agora ganha os holofotes por outro motivo: a queda nos preços de aluguel associada à construção de edifícios altos.
O apontamento veio por Javier Quintana, CEO do CTBUH. Segundo ele, só no primeiro trimestre de 2025, foram propostas mais de 25 mil novas unidades residenciais em Toronto – 78% delas em edifícios com mais de 100 metros de altura. O dado mais expressivo? Queda de 18% nos preços de aluguel nesses edifícios desde janeiro de 2024. Pela primeira vez em anos, os aluguéis cresceram menos que a inflação.
Movido por essa provocação, fui buscar algumas notícias. E de fato, os relatórios da Canada Mortgage and Housing Corporation (CMHC) não ligam diretamente a altura à queda de preços, mas confirmam o alívio no mercado de locação. No Mid-Year Rental Market Update 2025, a CMHC mostra redução nos aluguéis anunciados em várias regiões metropolitanas – com destaque para Toronto. A nova oferta, especialmente em áreas centrais bem servidas por transporte, está ajudando a moderar preços.
Nos últimos anos, Toronto tem promovido ajustes regulatórios que incentivam maior densidade em zonas com infraestrutura consolidada. Em vez de limitar alturas, a cidade passou a orientar a verticalização com base em desempenho urbano e localização estratégica. Essa mudança está ligada ao aumento da produção habitacional nas áreas mais adensáveis e à resposta positiva do mercado.
A CMCH também emite alertas. Relatórios apontam riscos de sobreoferta em algumas tipologias e queda na absorção de novos empreendimentos – especialmente os voltados a investidores. Ainda assim, esses alertas confirmam um ponto central: a oferta está chegando, e o mercado está respondendo. Soma-se a isso o crescimento populacional da região metropolitana, que torna a verticalização ainda mais necessária.
Essa combinação entre dados e mudança regulatória joga luz sobre um debate que, no Brasil, ainda patina. Seguimos regulando a cidade com limites genéricos sem considerar infraestrutura, mobilidade e demanda de fato existentes. E quando a crise da moradia aperta, a resposta é paliativa, como se o mercado não pudesse fazer parte da solução.
O caso de Toronto mostra o contrário: quando se permite construir mais, os preços podem cair. É simples, mas exige coragem para abrir espaço ao adensamento qualificado. Não se trata de copiar Toronto nem de “fetichizar” altura. Trata-se de entender que edifícios altos, quando bem localizados e regulados, podem ser aliados da acessibilidade.
Para isso, reitero, nossos planos diretores precisam mudar de postura. Em vez de temer o crescimento, precisam orientá-lo com inteligência. E talvez a lição mais valiosa vinda das alturas canadenses seja esta: o primeiro passo para resolver o problema da moradia é parar de impedi-la. Permitir construir mais – com critério e visão – ainda é o gesto urbano mais transformador que podem fazer.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.