Novas cidades são necessárias?

13 de fevereiro de 2023

Um interesse crescente em novas cidades está invadindo a mídia. Os promotores de novas cidades, de Nusantara, a nova capital da Indonésia, até Neom, o paraíso urbano futurista construído na Arábia Saudita, anunciam-nas como quebras de paradigma na vida urbana. O mundo precisa de novas cidades? As novas formas urbanas provavelmente serão melhores do que as antigas? Por que tão poucas novas cidades conseguiram atrair uma grande população?

O mundo precisa de novas cidades?

Uma boa localização para o comércio tem sido a principal explicação para o crescimento acelerado de antigas aldeias em cidades prósperas. Os lucros do comércio eram investidos em amenidades como teatros, parques, universidades, restaurantes, cafés e muitas outras atrações que tornavam essas cidades atraentes para além de sua vantagem comercial.

Durante a revolução industrial, o desenvolvimento das ferrovias criou novos locais com acessibilidade privilegiada. Por exemplo, a criação de Atlanta e Vancouver deveu-se ao potencial comercial possibilitado pela acessibilidade proporcionada por ferrovias recém-construídas. No entanto, as cidades existentes já ocupam os locais mais favoráveis para o comércio no século XXI. Com poucas exceções, há poucas oportunidades para a criação de novas cidades em localizações vantajosas.

O aquecimento global poderia criar o potencial para novas cidades através da abertura de novas rotas comerciais em torno das áreas polares. A iniciativa Belt and Road financiada pela China também pode criar novas cidades ao construir novas rotas comerciais nos países da Ásia Central.

Infelizmente, a maioria das pessoas que promovem novas cidades hoje não são motivadas por novas oportunidades comerciais, mas pelas imperfeições das cidades em que vivem. Os planejadores e arquitetos estão convencidos de que poderiam criar a cidade perfeita, em que o design inovador evitaria o congestionamento, o crime e a poluição, ao mesmo tempo em que proporcionaria empregos bem remunerados a uma curta distância de casas com preços acessíveis. E, claro, toda a energia consumida será livre de carbono.

Nossa experiência no uso de objetos do cotidiano confirma que tentar consertar um carro velho ou um smartphone obsoleto não faz muito sentido quando comparado a comprar um novo e mais moderno. Por que não deveria ser o mesmo para as cidades?

É provável que as novas formas urbanas propostas sejam melhores do que as existentes?

Como medimos se uma cidade é bem-sucedida? Poderíamos classificar as cidades por sua capacidade de atrair o maior número de visitantes, ou de atrair migrantes, ou, de forma mais abstrata, de serem as mais habitáveis.

As cinco cidades mais visitadas por viajantes internacionais são Bangkok, Paris, Londres, Dubai e Cingapura. Enquanto as cidades com as maiores populações metropolitanas são Tóquio, Delhi, Xangai, São Paulo e Cidade do México. Segundo critérios selecionados pela revista britânica The Economist, as cinco cidades com melhor qualidade de vida são Viena, Copenhague, Zurique, Calgary e Vancouver. É interessante notar que as cidades mais habitáveis não são as que atraem mais imigrantes ou visitantes.

As quinze cidades nessas listas tornaram-se grandes e prósperas por causa do aumento de migrantes voluntários ao longo do tempo. Ninguém as projetou para serem eficientes desde o início; elas apenas se adaptaram com sucesso às circunstâncias à medida que se desenvolveram.

As únicas cidades planejadas que atingiram um tamanho populacional significativo são todas capitais novas — por exemplo, Camberra, Brasília, Islamabad, Chandigarh e Abuja. Este aparente sucesso não é surpreendente.

Existem dois desafios principais para quem deseja construir uma nova cidade em um local isolado: primeiro, como atrair a população inicial; em segundo lugar, como financiar os longos fluxos de caixa negativos decorrentes de prover infraestrutura antes que uma população produtiva possa pagar por ela.

Os governos que constroem essas capitais respondem prontamente a esses desafios: os funcionários públicos constituem uma população inicial que não tem escolha a não ser morar onde o governo lhes oferece um emprego e geralmente uma moradia.

Quando essa população inicial se estabelecer, os migrantes voluntários virão em seguida para prestar serviços aos funcionários do governo. O segundo desafio, o longo fluxo de caixa negativo, é facilmente resolvido usando o dinheiro dos contribuintes de todo o país para subsidiar o empreendimento inteiro.

As únicas cidades novas que prosperaram — excluindo as capitais — não eram realmente cidades novas, mas cidades satélites de grandes cidades existentes. Por exemplo, este é o caso das cinco cidades satélites construídas em torno de Seul. Tentar estruturar a expansão de subúrbios ao redor de centros de cidades satélites é um esforço digno, mas bem diferente das cidades auto suficientes construídas no deserto, que os gurus urbanos costumam anunciar.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Urbanista, pesquisador do NYU Marron Institute e autor do livro Ordem sem Design.
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