Do pedal ao parque: uma resposta à crise climática

6 de maio de 2025

Imagine morar perto de um rio, em uma cidade margeada por um parque, e em dias de calor extremo querer desfrutar desse espaço, mas não conseguir acessá-lo devido a uma avenida no meio do caminho. Essa é a realidade das comunidades nas margens do Rio Pinheiros, como a Peinha, que embora próxima do Parque Linear Bruno Covas (5 minutos a pé), enfrenta obstáculos de acesso. A falta de faixas de pedestres e ciclovias para acessar coloca em risco a vida de quem transita para trabalhar ou acessar o parque.

Todos têm o direito de acessar a natureza, mesmo em áreas urbanas, para descansar, se exercitar e usufruir de espaços públicos. Porém, esse direito não é garantido nas cidades, e sua urgência aumentou com a crise climática. Em resposta a essa realidade, o Laboratório Rio Pinheiros, liderado por nós do Instituto Caminhabilidade junto com o Metrópole Um pra Um, desenvolveu o projeto “Pedalando Juntas”, uma iniciativa comunitária que oferece bicicletas gratuitas para moradoras da Peinha aos finais de semana, com o objetivo de garantir o acesso ao parque.

Fabiola Silva, moradora e articuladora do Pedalando Juntas organizando as bicicletas na praça da Peinha para empréstimo. Foto: Instituto Caminhabilidade

Como nasceu a ideia?

Diante da situação, desenvolvemos o projeto Caminhando Juntas, que analisou a caminhabilidade entre a comunidade e o acesso ao parque, com foco em mulheres e crianças, e propôs soluções para melhorar o trajeto, como a criação de faixas de pedestres, a qualificação das praças ao longo do caminho e a implementação de sinalização adequada, como relatado aqui. Como essas ações dependem de ação da prefeitura, a comunidade teve uma ideia: ter bicicletas de empréstimo na Peinha para que as moradoras possam conhecer e usufruir do parque. Assim nasceu a ideia do Pedalando Juntas.

O projeto foi desenvolvido com a colaboração de diversos atores para se tornar realidade: a Ameciclo ofereceu mentoria (baseada no Bota pra Rodar, projeto social que inspirou o Pedalando Juntas); o Instituto Aromeiazero doou as bicicletas; o artista Puga personalizou as bicicletas e o mecânico Joílson ficou responsável pela manutenção. Também foi criado um aplicativo para gerenciar o empréstimo das bicicletas, inspirado no Botar pra Rodar.

Como funciona na prática?

Os próprios moradores da Peinha definiram as regras de uso através de uma oficina participativa. Eles estabeleceram que a praça principal seria o local de empréstimo e definiram que as crianças poderiam usar as bicicletas com a autorização dos responsáveis. 

O objetivo é ir na contramão das tradicionais estações de empréstimo de bicicleta, que são administradas por empresas com fins lucrativos, nas quais o usuário precisa pagar pelo uso e que não chegam nas favelas e comunidades periféricas. 

Crianças pedalam juntas, mas ainda não vão ao parque

O empréstimo de bicicletas começou em outubro de 2024 com a divulgação “boca a boca”. As primeiras impressões são que as principais usuárias são as crianças. Elas ficam livres para brincar sem adultos e vão pedalar juntas, embora ainda se note uma divisão de gênero no uso: enquanto os meninos utilizam as bicicletas para lazer, as meninas usam para ajudar nas tarefas domésticas. Além disso, devido à insegurança no acesso ao parque, ainda não foi possível promover plenamente a conexão desse espaço com as bicicletas. 

Como melhorar?

Para que as moradoras da Peinha possam se deslocar ativamente e ir ao parque, a prefeitura precisa se comprometer com as soluções reais e imediatas que apoiam a adaptação e a mitigação climática, como criar travessias para garantir caminhabilidade e acesso às áreas verdes, bem como apoiar sistemas de bicicletas comunitárias. 

PlanClima SP – plano de ação climática da cidade – propõe ações que visam fomentar a mobilidade ativa, como a ação 24: “Requalificar os espaços públicos viários de modo a favorecer a caminhabilidade, as atividades ao ar livre, a cultura e a convivência”. 

 Os resultados e processos podem ser acessados por meio do relatório do Pedalando Juntas e você pode saber mais sobre o projeto em nosso canal do YouTube.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Organização liderada por mulheres, movida pela urgência de alcançar a equidade de gênero e enfrentar a crise climática, desenvolve cidades caminháveis com o protagonismo da cidadania. ([email protected])
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