A morfologia dos arranha-céus de Balneário Camboriú não é tão ruim quanto parece, mas pode melhorar.

24 de janeiro de 2024

A cada temporada, as atenções se voltam para Balneário Camboriú. Anos atrás, a cidade do litoral catarinense virou notícia após um grande temporal atingir a região e filmagens divulgadas nas redes sociais mostravam as águas da piscina de um apartamento no arranha-céu mais alto do Brasil, na época, transbordando em movimentos de ondas. Em outro ano, a atenção ficou voltada para a complexa obra na beira da praia que passou a faixa de areia de 25 para 70m de extensão. 

Por enquanto, neste verão os destaques são para o show de drones que ocorreu no réveillon e uma matéria da agência internacional Bloomberg, especializada em mercado financeiro, destacando os elevados preços dos imóveis de B.C. que se tornaram os mais caros do Brasil.

Após lembrar alguns episódios passados, neste texto irei introduzir mais uma polêmica para a longa lista de Balneário Camboriú. Polêmica, a qual já esbocei na coluna anterior, quando realizei a comparação de um arranha-céu em Curitiba e outro, em Balneário.  Ou quando escrevi sobre o que deveria ser o foco dos edifícios altos: o térreo e, não, a altura ou quantidade de pavimentos.

Sempre criticada por ser a praia em que o pôr do sol começa às 14h, Balneário detém quatro dos mais altos arranha-céus construídos no Brasil – fora outros tantos que estão em construção ou em aprovação. A crítica em relação à sombra projetada pelos altos edifícios na areia é, sem dúvidas, pertinente, mas, mesmo com esse “incômodo”, a cidade de 140 mil habitantes passa para mais de um milhão de pessoas em toda alta temporada, tamanha é a demanda.

Agora, vamos imaginar a situação perfeita, para qualquer praia: nas primeiras quadras só é permitido construir edifícios de até 5 pavimentos, ocasionando a incidência de luz solar o dia todo na faixa de areia. Como seria Balneário Camboriú, neste caso?

Se a demanda turística fosse a mesma que a atual, provavelmente, Balneário seria mais exclusiva do que já é. Os preços dos imóveis seriam disparadamente os mais caros do país devido à escassa oferta de imóveis. Fato que levaria a população de mais de um milhão de pessoas durante a alta temporada espalhar-se pelas outras praias da região. O trânsito que já é caótico, poderia ser ainda mais, podem ter certeza.

A questão é que a pequena área do município, somado à configuração das quadras e aos regramentos com poucas restrições de afastamentos induzem a verticalização como ela é, em Balneário. E a morfologia dos arranha-céus construídos por lá, não é tão ruim quanto parece.

Primeiro, antes de entrar no mérito do formato dos arranha-céus, o município de Balneário Camboriú é o 64ª menor por área de extensão do país. Além disso, é cortado de norte a sul pela BR-101, em que a parte urbana mais próxima da rodovia está há 200m, por onde passa o rio Camboriú, e a mais longe está há 2,5km, numa encosta de morro. Ou seja, há pouco espaço para a cidade expandir a sua malha urbana. 

E mais: a configuração urbana de B.C. é constituída por quadras estreitas no sentido norte e sul – em torno de 50m de largura – e extensas no sentido leste e oeste – em média de 400m de comprimento. Paralelas à praia estão as vias mais largas, as avenidas, por onde as menores extensões de quadra fazem frente, enquanto em direção à praia, maior extensão, estão as estreitas ruas. Tal configuração de vias e quadras proporciona terrenos pequenos e estreitos, favorecendo o aparecimento das típicas edificações altas e “finas” de Balneário.  

Quanto a esta “finura” dos edifícios – que para alguns, qualquer vento irá derrubá-los – não é ruim, pois é por essa esbeltez que os raios de sol ainda entram por algumas horas nas janelas, áreas condominiais e calçadas. Além disso, o melhor dessas “finas” edificações, centralizadas no terreno, é que elas não iniciam desde o solo e, sim, a partir do 4º ou 6º pavimento. Este fato faz com que a morfologia dos edifícios em Balneário Camboriú seja base mais torre.

Por causa dessa base, ou embasamento, as ruas de B.C. ganham vida. Esses primeiros 4 ou 6 pavimentos que formam o embasamento do edifício estão, geralmente, no alinhamento do terreno. Não havendo chance para grades e longos jardins até a edificação. Além disso, para os desenvolvedores ganharem benefícios (mais área para construir), a prefeitura exige a construção de lojas – salas comerciais, como são chamadas por lá – na base do edifício. Ou seja, praticamente todos os empreendimentos possuem lojas no térreo.

As áreas condominiais ficam, geralmente, localizadas sobre o embasamento. Ocupando um ou dois pavimentos entre a base e a torre na tentativa de buscar alguma vista para o mar. Para a torre, as regras de recuos laterais são bastante brandas e o recuo frontal depende do ângulo determinado para a via. O resultado volumétrico dos altos edifícios de B.C. são similares aos “slenders skyscrapers” que vemos em Nova York e Toronto, por exemplo.

No entanto, como nada é perfeito e sempre há o que melhorar, vejo duas problemáticas enfrentadas pela morfologia: ambas no embasamento da edificação. 

A primeira diz respeito à exigência de vagas de garagem, não só pelo plano diretor, mas pelo próprio mercado. Sendo Balneário Camboriú uma cidade de temporada, grande parte dos turistas se dirigem à cidade por carro e a demanda de vagas faz com que a base dos empreendimentos se torne edifícios garagens. O uso do embasamento para escritórios ou, até mesmo, para apartamentos menores, deixariam os primeiros andares com vida e, consequentemente, mais convidativos e atrativos para os pedestres que caminham pela rua.

O segundo problema não é específico de B.C., ele é corriqueiro nas cidades brasileiras: a morfologia induzida pelo Plano Diretor das novas edificações não compatibiliza com edifícios existentes de Planos anteriores, o que causa uma desunião entre embasamentos e alturas de outras edificações menores. Não há regramento que exija uma continuação de volumetrias e formas como gostamos de ver em tantas outras cidades mundo afora. 

Caso em futuras revisões do Plano Diretor, os planejadores de Balneário dessem atenção para esses dois aspectos, a cidade poderia dar um salto, ainda maior, na qualidade urbana. E não é impossível resolver essas questões. Um próximo salto de qualidade seria o estilo da arquitetura dos edifícios. Esse assunto fica a cargo de arquitetos e incorporadoras melhorarem, mas tendo a acreditar que já há uma “certa evolução”. Oremos!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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