AGE 360 vs. Millennium Palace: qual agrega mais para a vitalidade urbana?

4 de outubro de 2023

De um lado está o AGE 360, edificação de 32 pavimentos e 123 m em altura que se encontra em fase final de construção. Do outro lado, o Millennium Palace, edifício que por quatro anos foi o mais alto do Brasil, com 46 pavimentos e 177 m de altura.

O AGE 360 está localizado a 5 km do centro de Curitiba, na região conhecida como Ecoville, embora o nome do bairro seja Mossunguê. De caráter residencial, o bairro passou por um boom na construção de edificações de alto padrão nos últimos tempos, conta com um dos principais shoppings e, ao lado, um dos principais parques da cidade. Ambos com o mesmo nome, Barigui. 

O Millennium Palace está na região de maior circulação de pessoas em Balneário Camboriú, o Centro. Além de ser no bairro central, está na Av. Atlântica, beira-mar da cidade e o meio da baía da praia.

As duas edificações são de uso residencial. O AGE 360 terá 33 apartamentos de tamanhos variados, de 208 a 609 m², alguns possuirão terraços e alguns outros serão duplex. No Millennium Palace é um apartamento de 315 m² por andar, totalizando 46 unidades e todos possuem piscina privativa.

As volumetrias dos edifícios são distintas. Enquanto o Millennium Palace é uma esbelta torre sobre embasamento, o AGE 360 possui uma forma única, que vai do térreo ao topo, esculpida nos últimos pavimentos. 

O prisma singular do AGE 360 expressa a estrutura da edificação de Curitiba como um exoesqueleto. Uma reinterpretação contemporânea do brutalismo brasileiro na mais pura essência do concreto aparente. No arranha-céu de Balneário, a esbeltez da forma é coberta pelo estilo arquitetônico mais odiado por arquitetos e adorado por leigos, a imitação do neoclássico.

As áreas condominiais do Millennium Palace estão localizadas no pavimento entre a base e a torre, aproveitando o terraço que a cobertura do embasamento proporciona. Já no AGE 360, haverá dois pavimentos intermediários com áreas condominiais — 21.º e 22.º andares —, mais quadras e quiosques no térreo, espalhados pelo jardim do grande terreno. 

A torre do AGE 360 ocupa uma parcela do terreno, além das áreas condominiais, no térreo, há uma pequena edificação que será destinada a lojas. Para quem caminhará pela calçada, ao redor do empreendimento, verá esse comércio num lado. E no outro, grades com vegetações, além dos acessos ao estacionamento e da guarita de entrada para o empreendimento. 

O embasamento do Millennium Palace ocupa praticamente 100% do terreno. Frente à praia, está uma majestosa entrada para o arranha-céu e lojas. Nos outros lados da base, há mais lojas e infraestruturas do edifício. Ou seja, quem caminha vê o comércio e a base da edificação chegando no alinhamento da calçada.

Qual agrega mais para a vitalidade urbana de sua cidade, o arranha-céu que reproduz o estilo neoclássico ou o arranha-céu de traços contemporâneos da arquitetura brasileira?

Para o desespero de muitos arquitetos, parece que a edificação de Balneário Camboriú reúne melhores condições para contribuir para a vitalidade urbana do que a de Curitiba. Isto acontece pelo tipo de volumetria (base no alinhamento do terreno + torre) e comércio ao redor do embasamento. Enquanto o AGE 360, afastado do centro, dificilmente trará pessoas caminhando ao seu redor pela falta de uma maior ativação de sua fachada. A não ser que, devido à sua arquitetura, vire ponto turístico para os arquitetos irem lá fotografar. 

Pode ser, também, que no Ecoville não haja demanda suficiente para mais comércio de bairro e, por isso, os desenvolvedores do AGE 360 optaram por não colocar lojas em todos os lados. Diferentemente do Millennium Palace, zona de bastante movimento em Balneário Camboriú com pessoas caminhando praticamente 24h por dia.

Muitas vezes, apenas o traço arquitetônico pode não ser o suficiente para acrescentar na vida urbana. Há outras condicionantes, como a localização e a volumetria que a legislação permite. Grandes afastamentos entre edificações e a rua, potenciais construtivos baixos e locais onde há pouca densidade, dificilmente uma arquitetura de excelência conseguirá relativizar a questão. 

Precisa-se que a legislação urbana permita concentrar mais. Concentrar mais edifícios, concentrar mais pessoas, para que haja mais demanda para o comércio. Além, é claro, de flexibilizar as exigências de regras volumétricas. Afinal de contas, quem aqui não gostaria de ver arquiteturas como a do AGE 360 repletas de comércio no térreo e pelas zonas mais centrais de nossas cidades?

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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