A diversidade tem sido, nesta última década, um dos temas mais abordados pela nossa sociedade. Iniciamos pelas questões relativas à igualdade racial, fortemente hoje se discute a igualdade de gênero. Mas um movimento recente nos chama atenção: a diversidade etária.
No mundo corporativo, como boa prática de ESG ou ASG — que significa boas práticas ambientais, sociais e governança, a diversidade em todas estas dimensões e é tema relevante e presente no cotidiano. Há empresas que dispõem de metas para deixar mais diversos seus cargos de liderança, seja em gênero, seja em raça. E o etarismo começa a ser discutido.
Vimos, recentemente no Brasil, uma mulher de 45 anos ser criticada por suas colegas de faculdade — mais jovens, por estar cursando um curso universitário. Na fala de uma das jovens, a colega já era para estar aposentada. As garotas foram “canceladas” instantaneamente nas redes sociais e decidiram sair do curso, devido a repercussão. A colega “velha” acaba de ganhar uma bolsa de estudos no exterior.
Diariamente caminho no calçadão da beira mar de Fortaleza, Ceará — um dos lugares mais democráticos e diversos de nossa cidade. E neste caminhar diário, há algum tempo percebo o que os números publicados em julho 2022, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a Pnad Contínua, atestam no Brasil: estamos mais velhos.
O que impressiona é que estes dados demográficos são gerados e divulgados pela Administração Pública. E impressiona ainda mais que nossas cidades não discutem este tema de forma específica. Nossas políticas públicas abordam o “idoso” como ônus, como gasto público, como alguém que está próximo ao fim. Nossas políticas públicas para com os maiores de 60 precisam ser inovadoras e estruturadoras da nova sociedade brasileira: mais madura, mais experiente, mais cheia de vida e que demanda mais atenção.
Nos últimos 10 anos, o grupo etário dos 60+ cresceu cerca de 40% no Brasil. A agência de marketing norte-americana FleishmanHillard, em 2021, identificou que os 60+ geraram na economia brasileira mais de R$ 1,5 trilhão por ano. Ou seja, eles consomem.
Apesar de movimentações ainda incipientes, o mercado se prepara e já mira no que chamamos de “economia prateada”. O mercado imobiliário já percebeu. Em várias das nossas cidades começam a surgir empreendimentos voltados para aqueles que já não precisam de tanto espaço, mas querem facilidades relacionadas ao trabalho, saúde, bem-estar e lazer, próximos às suas moradas.
À medida que envelhecemos, para termos melhor qualidade de vida, precisamos de serviços e estrutura físicas adaptados, ou seja, estarmos atentos aos desejos e necessidades dos 60+. Se for boa para eles, será uma cidade para toda e qualquer pessoa.
A cidade para pessoas, cada vez mais precisa ser diversa e para todos. E aqui vamos falar de:
• Zoneamento de Performance, oportunizando os melhores resultados para uso, ocupação do solo, atratividade econômica atrelado ao respeito ao ambiente natural;
• Espaços públicos de qualidade, com diversidade de usos, pois aquilo que é bem utilizado sempre será respeitado. Áreas verdes têm que ser acessíveis e bonitas, contempláveis e utilizadas;
• Calçadas caminháveis, para segurança e acessibilidade dos maiores de 60 que possuem alguma dificuldade de locomoção;
• Acesso a facilidades como transporte (público, táxis e outros aplicativos), hospitais, postos de saúde, lazer e entretenimento;
• Moradia acessível, por meio de projetos e produtos imobiliários que atendam a este consumidor;
• Orientação ao Mercado de trabalho e incentivos ao empreendedorismo, para aqueles que ainda necessitam ou não querem deixar de ter alguma atividade laboral; e
• Acompanhamento e afeto para aqueles que precisam de acolhimento pelo Estado.
Os velhos tempos estão aí. E de velhos não têm nada. Para os 60+ uma nova cidade é preciso.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.