“O incremento da hiper-complexidade urbana é um argumento que demanda um novo modelo de planejamento, aberto aos imprevistos e incertezas, mas também às oportunidades”. Esta frase, escrita por François Ascher no livro “Os novos princípios do urbanismo” (2010) denota a necessidade de uma reprogramação do modelo que nos acostumamos a ter para planejar as cidades.
Trata-se de repensar profundamente os modelos que nos guiam desde as décadas 20 e 30 do século passado, contidos nos primeiros planos reguladores que surgiram nos Estados Unidos e na Europa, alinhados ao contexto temporal em que se estabeleciam. Passadas as fronteiras dos anos dois mil, as palavras de Zygmunt Bauman escancaram o novo contexto no qual estamos imersos: “o ambiente urbano se reproduz em um sistema aberto e instável, próprio da modernidade líquida”.
Pois bem, como vamos planejar frente ao inesperado?
Uma das respostas a este questionamento é dada pela escola catalã a partir do livro “Planificación Estratégica de Ciudades”, escrito por José Miguel Fernández Güell em 1997. Estratégia é uma palavra com origem no termo grego strategia e que significa plano, método, manobras ou estratagemas usados para alcançar um objetivo ou resultado específico. Desdobrando um pouco mais, temos a tática: é aqui que se traduz e interpreta as decisões do planejamento estratégico e os transforma em planos concretos. A partir daí, sim, temos o operacional. É onde se cristaliza a ação.
No ponto de vista das ações desenvolvidas dentro do Instituto Cidades Responsivas, o urbanismo estratégico ocorre a partir da leitura da complexidade urbana, utilizando-se da interpretação de dados e a geração de desenhos dinâmicos. Nesse cenário, orientado a ações, o reconhecimento das potencialidades (ou oportunidades, segundo Ascher) auxilia na montagem do enredo programático de planos e projetos urbanos, tornando possível ampliar, estrategicamente, as possibilidades de determinado território.
Dados, design e análises conduzidas por urbanistas, geógrafos, cientistas de dados e economistas configuram o que chamamos de inteligência urbana e realinham o urbanismo às demandas das cidades do século XXI. Pensar por meio de “estratégias” possibilita maior adaptação frente ao inesperado, dando foco à gestão para as ações identificadas como necessárias.
Respostas dinâmicas para um sistema em movimento, podemos dizer que este é o objetivo que rege o “urbanismo estratégico”.
Texto de autoria de Luciana Marson Fonseca e Maria Eduarda Kossatz Leal.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.