Universidades devem deixar de ser só repositório de conhecimento e se tornarem laboratórios de regeneração
17 de dezembro de 2025Nos anos 1990, o sociólogo americano Burton Clark sacudiu o debate sobre ensino superior ao propor que as universidades precisavam se reinventar. Formar alunos e produzir pesquisa não era suficiente — era preciso se tornar uma entidade estratégica capaz de mobilizar recursos, definir agendas e responder ativamente aos problemas da sociedade.
Três décadas depois, a ideia evoluiu. Não basta mais inovar ou empreender — é preciso regenerar. A abordagem regenerativa entende que as crises ecológicas, sociais e democráticas exigem recomposição ativa dos sistemas que sustentam o bem comum. Vai além da sustentabilidade, que busca manter o que existe. Regeneração significa reconstruir o que foi degradado, rearticular o que foi fragmentado e reativar capacidades institucionais adormecidas.
Na prática, isso significa que universidades deixam de ser simples provedoras de conhecimento para orquestrar ecossistemas de inovação nos territórios. Exige atuação simultânea nas instituições e nos lugares concretos, incorporando os processos educacionais e científicos às realidades e aos desafios que precisam ser resolvidos.
É nesse contexto que emerge no FGV Cidades o MBA em Parcerias Público-Privadas e Concessões Sustentáveis. Uma iniciativa que conta com a parceria do Tesouro Nacional e do Banco do Brasil, e tem como objetivo preparar e engajar gestores públicos em projetos de geração de energia renovável, proteção de florestas e parques, reflorestamento, requalificação urbana e adaptação climática, saneamento e gestão de resíduos sólidos e mobilidade urbana, entre outras áreas.
O ponto de partida — e também o de chegada — são projetos que podem virar concessões, PPPs ou arranjos cooperativos de fato, não meras simulações em sala de aula.
O programa funciona como laboratório vivo. Conteúdos, métodos e ferramentas são testados na prática, guiados por problemas públicos de verdade, dentro de contextos marcados por assimetrias, tensões e disputas, com todos os seus ruídos e imperfeições. Não há receita pronta, mas aprendizagem pela experimentação e pela reflexão coletiva.
Essa ruptura reposiciona a educação superior como prática crítica capaz de reorganizar significados, ativar capacidades e regenerar instituições pelo próprio processo de aprender.
Nesse cenário, a universidade assume protagonismo na governança de problemas complexos — atuando não às margens das disputas públicas, mas estrategicamente em seu centro. O conhecimento deixa de ser estoque para se tornar fluxo: produzido, testado e ajustado no próprio território onde os problemas existem.
Erika Lisboa é professora, pesquisadora e coordenadora-adjunta do FGV Cidades, com atuação na formação de gestores públicos em gestão, inovação e políticas públicas, como no MBA em Parcerias Público-Privadas e Concessões Sustentáveis e no MBA em ASG no setor público.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.