Estive em Buenos Aires na semana passada e lá avistei um edifício alto que, em todas as vezes que visitei a capital argentina, não havia percebido: o edifício Libertador 4444, também conhecido como Las Torres del Libertador.
O edifício, na verdade, se trata de um complexo de três edificações residenciais no bairro Belgrano, em frente à Av. del Libertador. Desse conjunto, dois edifícios com 16 pavimentos e a outra, centralizada e afastada do alinhamento do terreno, com 45 pavimentos e 135m de altura. Uma verdadeira torre!
Curioso, fui olhar no Google Earth como era a relação do complexo com a quadra em que está inserido, pois percebi uma certa semelhança em seguir a implantação do clássico Edifício Panedile, porém com muito mais altura. De fato, em alguns aspectos se assemelha com o edifício modernista. Na composição, os edifícios mais baixos se contextualizam com a quadra, dialogando com a altura das demais edificações. Enquanto a torre alta, centralizada e afastada em 35m do alinhamento do terreno, forma um grande jardim de acesso ao condomínio.
Acontece que, diferente do Panadile, há um grandioso espaço condominial com quadras ao redor da edificação mais alta, resultante, provavelmente, das exigências de recuos para se chegar na altura de 135m na tipologia Torre — extinta em 2018 — do plano da cidade.
A consequência da implementação desse conjunto de edifícios é uma quebra total das quadras uniformes com edificações no alinhamento da calçada que estamos acostumados a ver em Buenos Aires. O elegante e elogiado urbanismo porteño cai por terra ao permitir torres isoladas no terreno dessa forma.
O intuito da tipologia isolada num “parque” é interessante em alguns locais em que não haja preocupação de manter o aspecto de uma cidade consolidada, como em Puerto Madero. Aliás, por essa entre outras torres desse tipo que a última revisão do “Plan Urbano” em 2018 proibiu construí-las, como expliquei em meu artigo no Caos Planejado em junho de 2022.
A própria cidade também nos ensina como harmonizar edifícios em altura em quadras consolidadas, como o caso da Torre Viñoly, entre outros. Detalhe é que os bons exemplos estão no alinhamento, possuem poucos recuos e se adaptam a morfologia da quadra, mesmo que mais altos.
A questão que trago nesta coluna é que a altura não é o problema e, sim, como ela é implementada. E quem implementa e concede as condicionantes para tal é o planejamento urbano. É ele o verdadeiro responsável por permitir esses “arrasa-quarteirões” como o exemplificado aqui, assim como possuir os louvores de uma boa implementação de edifícios altos.
Ou seja, quando houver discussões em revisões de planos diretores a respeito de barrar a altura das edificações, lembre-se que ela pode ser adaptada a não agredir a paisagem, ao invés de simplesmente proibi-la. Tudo depende de como será implementada, pois edifícios altos podem ser uma excelente alternativa para compactar nossas cidades.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.