Ser comunidade é transformar pequenos gestos em grandes mudanças. É cuidar do espaço compartilhado, valorizar o coletivo e encontrar beleza na simplicidade. É um sentimento de pertencimento que conecta e dá sentido ao lugar onde se vive, sem romantizar os desafios, é claro.
Recentemente, tive a oportunidade de ver a palavra comunidade sendo vivida em sua plenitude. Ao chegar na Fazendinha, um antigo lixão na favela do Jardim Colombo, transformado em espaço comunitário, me deparei com moradores limpando o local sem que ninguém tivesse pedido. Ao conversar com eles, ouvi: “Queremos decorar a Fazendinha com elementos do Natal.” Seus olhos brilhavam enquanto compartilhavam essa ideia. Os meus também brilharam, não só pela iniciativa, mas por perceber o quanto aquele espaço, aberto a todos, é significativo na vida deles.
Mais adiante, cheguei à cozinha comunitária. Lá estavam mulheres incríveis, organizando frutas e legumes com carinho para dividir com a comunidade. A força e a união delas eram inspiradoras. Em seguida, fui até a casa da Maria, uma das moradias reformadas pelo nosso projeto, e vi o orgulho nos olhos das “fazendeiras”, mulheres que atuam na área da construção civil que participaram ativamente da reforma, em especial da pintura e montagem completa do mobiliário. Era uma felicidade, uma celebração do talento e da capacidade delas em transformar o lugar onde vivem.
Pouco depois, precisávamos de ajuda para descarregar uma geladeira. Sem hesitar, alguns jovens que estavam limpando as ruas interromperam o trabalho e vieram nos apoiar. Em cada canto, pequenos gestos de solidariedade e cuidado.
No fim da manhã, eu vi o sorriso tímido de uma senhora, mas cheio de alegria, daquele que contagia e que invade o nosso ser. Daquela que ama as plantas e as flores e faz nossa comunidade florescer.
Vivemos em uma sociedade que valoriza as grandes obras, as grandes ações. Parece que tudo precisa ser grandioso para ter impacto. Mas aqui, na favela onde nasci e cresci, aprendo diariamente que os pequenos gestos também podem transformar. Esses gestos tocam o coração, fortalecem os laços e dão sentido à palavra comunidade.
Obrigada, Jardim Colombo, por me ensinar, todos os dias, o verdadeiro significado de ser comunidade.
Encerro a coluna deste mês desejando que, neste Natal e nos meses que virão, possamos ser, cada vez mais, comunidades. Que nosso olhar se volte também para os pequenos detalhes, e que juntos possamos valorizar e transformar, porque juntos podemos, sim, mudar a nossa sociedade.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.